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Edy Star lança single, livro e uma biografia virá em 2023

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Por Fabian Chacur

Edy Star continua a mil por hora. Aos 84 anos muito bem vividos, o cantor, performer, artista plástico e dramaturgo acaba de lançar dois novos produtos culturais. Um é o EP Outro Olho no Escuro, já disponível nas plataformas digitais e com duas ótimas faixas. O outro é o livro Diário de Um Invertido: Escritos Líricos, Aflitos e Despudorados (Salvador, 1956-1963), disponibilizado pela editora Noir.

O EP (também chamado de single duplo) traz duas faixas bem distintas entre si, mas ambas com a interpretação irreverente e visceral desse grande artista, que tem no currículo a gravação do incrível álbum Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez (1971) em parceria com Raul Seixas, Miriam Batucada e Sérgio Sampaio.

Homens, um blues visceral com tempero roqueiro, é de autoria de Moisés Santana, excelente cantor, compositor e jornalista com ótimos álbuns solo lançados e músicas gravadas por artistas do porte de Gal Costa. Esta música foi interpretada pela cantora Jussara Silveira em shows nos anos 1990, e gravada posteriormente pelo próprio autor.

Por sua vez, ?A Quién Le Importa? (ouça aqui) ganhou um arranjo que mescla pop e música de cabaré e foi lançada originalmente pelo grupo espanhol Alaska y Dinarama, sendo relida com muito sucesso em 2002 pela cantora e atriz Thalia. É considera um dos maiores hinos gays em língua espanhola.

E o livro Diário de um Invertido é na verdade o registro de um diário que Edy escreveu no fim da adolescência e início da fase adulta sobre as suas experiências sexuais e como lidava com o homossexualismo. Os textos foram descobertos pelo historiador Ricardo Santhiago, que prepara uma biografia sobre Edy prevista para ser lançada em 2023.

Santhiago percebeu que o diário tinha uma material muito rico para a história do universo LGBTQIA+ no Brasil, e que merecia ser lançado à parte. Ele se incumbiu de organizar o material, que traz textos, poesias e até anedotas, além de fotos do artista e de personagens deste diário.

Além da Grã-Ordem Kavernista, Edivaldo Souza (seu nome de batismo) lançou dois excelentes álbuns-solo. Sweet Edy (1974) traz composições feitas para ele por autores do quilate de Roberto & Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jorge Mautner.

Mais recente, Cabaré Star saiu em 2017 com produção a cargo de Zeca Baleiro e um repertório matador. Ele também foi tema de um ótimo documentário, Antes Que Me Esqueçam Meu Nome é Edy Star (2019). Vão te esquecer nada, seo Edy!

Homens– Edy Star:

Edy Star mostra sua incrível carreira em documentário

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Por Fabian Chacur

O Brasil tem como uma de suas marcas a capacidade de gerar grandes talentos nas mais distintas áreas, mesmo sem dar o devido apoio ou valor a essas pessoas. Edy Star é um bom exemplo. Este incrível cantor, compositor, ator, dançarino, produtor teatral, apresentador de TV e artística plástico baiano tem uma carreira com mais de 60 anos de estrada e repleta de grandes momentos. O documentário Antes Que Me Esqueçam Meu Nome é Edy Star (2018), que está na programação do canal a cabo Music Box Brasil, faz jus a esse artista de talento absurdo.

Nascido em Juazeiro (BA) em 10 de janeiro de 1938, Edy se embrenhou pelo meio artístico ainda criança, no teatro, e rapidamente foi ampliando seus horizontes profissionais. Após anos como apresentador de um programa de TV na Bahia, ele se uniu ao amigo Raul Seixas e, junto com Miriam Batucada e Sérgio Sampaio, gravou em 1971 o mitológico álbum Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, que vendeu pouco mas com o tempo se tornou cultuado e posteriormente relançado em vinil e CD.

Com o insucesso do álbum, ele teve de se virar fazendo apresentações em boates em região barra pesada do Rio de Janeiro, e seu talento como show man o levou a ser a estrela na boate Number One, onde João Araújo, da gravadora Som Livre, o convidou para gravar o que seria Sweet Edy (1974). Este álbum traz canções feitas especialmente para ele por astros do alto calibre de Gilberto Gil, Roberto e Erasmo Carlos, Moraes Moreira e Galvão, Caetano Veloso, Renato Piau, Jorge Mautner e Getúlio Cortês.

Embora com um repertório ótimo e interpretações marcantes, o disco foi outro retumbante fracasso, e seguiu o mesmo rumo do anterior, tornando-se uma raridade disputada a murros nos sebos da vida, com relançamento ocorrido apenas em 2012 no formato CD e há pouco em vinil. O disco traz uma mistura de rock e outros ritmos, em retrato bem fiel do que Edy chama de “cabaretear”, ou seja, seu estilo versátil e criativo.

Sem baixar a cabeça, ele seguiu adiante, estrelando a montagem brasileira do espetáculo Rocky Horror Show e depois espetáculos de teatro de revista. Neles, esbanjava talento, cantando, dançando, atuando e cativando o público com seu carisma. Durante os anos 1980, no entanto, especialmente devido à disseminação do vírus HIV no Brasil, os espaços diminuíram bastante por aqui.

Em 1992, resolveu mudar para a Espanha, onde viveu durante longos 18 anos, firmando-se na cena teatral de lá e conseguindo até mesmo a cidadania espanhola, que se mostrou fundamental para que pudesse combater um câncer que o acometeu e que ele superou após três meses de tratamento.

Um convite para participar da Virada Cultural em São Paulo em 2009, no qual interpretou com muito sucesso de público e crítica e na íntegra o álbum que gravou com Raul Seixas, Miriam Batucada e Sergio Sampaio, serviu como incentivo para voltar ao Brasil, o que se concretizou em 2010.

Em 2016, recebeu o convite de Zeca Baleiro para gravar um novo álbum pela gravadora do artista maranhense, a Saravá Discos. O trabalho, simplesmente excelente, saiu em 2017, Cabaré Edy, e é outro evento, com músicas de Caetano Veloso (que também participa do álbum), Gilberto Gil, Sergio Sampaio, Zé Rodrix, Odair José, Herivelto Martins e outros, e participações de Ney Matogrosso, Angela Maria, Zeca Baleiro, Felipe Catto e gravações inseridas de forma póstumas de Raul Seixas e Emilio Santiago.

As gravações de Cabaré Edy são o mote para o documentário dirigido por Fernando Moraes. Entre ensaios e sessões, o artista dá deliciosos depoimentos contando suas incríveis histórias dessas décadas de carreira. A forma como, por exemplo, conheceu Caetano Veloso quando o hoje monstro sagrado da MPB era apenas um adolescente com vagas ambições artísticas.

O fato de ter assumido desde sempre a homossexualidade e o preço que pagou por isso também permeia o filme, assim como sua eterna disposição em superar as dificuldades e de não se glamurizar demais. Por exemplo, ele vai direto ao ponto sobre o porque foi para a Espanha: “eu estava morrendo de fome, não tinha trabalho no Brasil, então fui para lá para tentar sobreviver, não teve badalação nenhuma!”, registra.

Além dessas cenas atuais, o diretor nos oferece um maravilhoso material de arquivo que registra todas essas fases vividas pelo artista baiano, e também entrevistas recentes com Caetano, Zeca Baleiro e outros artistas que conviveram e trabalharam com ele. Tudo de forma bem-humorada e com uma edição que torna o documentário delicioso de se conferir.

Antes Que Me Esqueçam Meu Nome é Edy Star vale como necessário e maravilhoso registro da trajetória de um artista completo que com seu talento e persistência não só sobreviveu em um meio tão selvagem e difícil como o artístico como de quebra construiu trajetória exemplar e digna de aplausos. Que essa obra nunca seja esquecida, e que sirva de referência para as novas gerações.

Veja o trailer do documentário de Edy Star:

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