doobie brothers 1por Fabian Chacur

Sempre que essa época de natal se aproxima, as recordações voltam às mentes de quem já não tem mais por perto os seus entes queridos.

No meu caso, perdi minha mãe em junho de 1996, meu pai em setembro de 1998 e meu irmão em janeiro de 1999. Este último, Victor Riskallah Chacur, se foi muito cedo, com apenas 44 anos.

Se hoje sou um eterno viciado em música boa, devo muito disso a ele. No mínimo, pela ótima iniciação. Afinal de contas, os primeiros discos que tive a oportunidade de ouvir eram dele, em sua maioria.

Tipo aquele compacto dos Beatles com Hey Jude e Revolution, que ouvimos até o limite da exaustão naquele finalzinho de 1968, quando eu tinha apenas sete aninhos de idade. Para intercalar, o compacto do obscuro grupo People com a ótima I Love You.

Conheci os Beatles, até hoje (e para sempre) minha banda favorita, graças a ele. E várias outras bandas e artistas. O Deep Purple, ouvindo muito o seu exemplar do In Rock, com Living Wreck, Speed King e Child In Time.

E aquele compacto, com Nobody de um lado e Slippery St. Paul do outro, de 1971? Esse raio desse disco me viciou em outra das minhas bandas favoritas até hoje, os Doobie Brothers. Amo esses caras!

A voz potente e a guitarra certeira de Tom Johnston, a guitarra e os vocais de Patrick Simmons, as vocalizações certeiras, a fusão de rock-country-folk-soul etc…… Doobie Brothers forever!

O primeiro disco de Paul McCartney que ouvi na vida foi o Ram, de 1971. Lógico que do glorioso Victor. Também ouvi até furar Uncle Albert/Admiral Halsey, Monkberry Moon Delight, Three Legs, Heart Of The Country….

A partir dos meus dez anos de idade, a gente começou uma disputa besta para ver quem comprava primeiro um disco de sucesso. Era divertido ver quem surgia primeiro com o novo do Seals & Crofts, Bread, Rolling Stones, Bee Gees…..

Quando fiz 17 anos, acordei e vi, em cima do criado mudo ao lado da minha cama, um compacto simples embrulhado. Abri: Got a Feeling, de Patrick Juvet, grande hit em 1978 e um clássico da disco music que eu amo.

Fico arrepiado só de lembrar a alegria ao ganhar esse disco, que obviamente tenho até hoje. Foi o único presente que ganhei naquele aniversário, e me lembro de ter chorado no final do dia, sozinho, sabe-se lá porque.

Eu também curto músicas bizarras, aquelas que de tão ruins chegam a ser boas, mas o Victor, não. Ele só curtia coisas boas. Tipo aquele maravilhoso álbum Cicatrizes, do MPB-4, um dos melhores de música brasileira que já tive a oportunidade de ouvir.

Ou O Canto das Três Raças, da Clara Nunes, que você abria a capa e a mesma virava um pôster imenso. Ou alguns do Martinho da Vila, o samba em sua mais autêntica e bela expressão.

Vou parar por aqui, pois a lista vai longe. Lógico que, como bons irmãos, brigamos muito, frequentemente por razões imbecis, mas sempre voltávamos às boas.

Tá bom, ele tinha um defeito gravíssimo: torcia para aquele timinho da Marginal Sem Número. Mas fazer o que? Perfeição não existe…..

No dia 6 de janeiro de 1999, ele me deixou. Fica a recordação de alguém que foi fundamental em minha vida, e a quem devo muito mais do que ele poderia imaginar. Onde estiver, meu abraço apertado, cara, e a saudade eterna!