Adaptando para o mundo da música a célebre frase “treino é treino, jogo é jogo”, poderíamos cunhar a seguinte expressão: “disco é disco, show é show”. Ela sintetiza de forma perfeita a impressão que tive ao ver a reestréia em São Paulo, na Via Funchal, do show com o qual Marisa Monte divulga seus CDs mais recentes, os lançados simultaneamente em 2006 Infinito Particular e Universo Ao Meu Redor.

Quem acompanha Mondopop sabe de minha opinião sobre os mesmos, e continuo pensando da mesma forma. São discos auto-indulgentes, redundantes, sem inspiração, abaixo do que se poderia esperar de uma artista do porte desta estrela carioca. Mas, felizmente, a cantora e compositora continua com aquela chama que caracteriza os artistas vencedores, quando sobem em um palco.

O espetáculo, que fica até o finalzinho do mês na badalada casa de espetáculos, traz estrutura interessante. A banda de nove integrantes abriga celebridades como o cavaquinista Mauro Diniz, o baterista e percussionista Marcelo Costa, o baixista e guitarrista Dadi e outros do mesmo gabarito/talento. Concepção musical essencialmente acústica. Nela, o papel de Marisa não se limita a apenas cantar.

É provavelmente o show no qual ela mais se presta ao papel de instrumentista, tocando violão e guitarra e ficando boa parte do tempo sentada, o que certamente não deve agradar tanto aos fãs mais entusiásticos. A voz continua excelente, e mesmo as fracas canções dos trabalhos mais recentes soam menos inconsistentes, embora não resistam à comparação com as mais antigas.

E várias delas estão no repertório, como Dança da Solidão, Segue o Seco, Diariamente, Maria de Verdade, Já Sei Namorar e Velha Infância (as duas últimas, do projeto Tribalistas). Show extremamente agradável, bom de se ver e ouvir. Como irá virar DVD, bem recomendável, desde já. E que o futuro nos reserve discos melhores da “Patroinha”.