Tenho um problema sério com a tal de bossa nova. Respeito, sei de sua importância e admiro muito alguns de seus mestres, como o Maestro Soberano Tom Jobim. No entanto, o clima elitista/pretensioso imprimido com freqüência à mesma e a chatice de artistas repetitivos e malas como João Gilberto me levam a ter sempre o pé atrás em relação a isso. Quantos discos soporíferos já foram gravados com o objetivo de “homenagear” essa levada diferente de violão? Inúmeros!

Felizmente, Telecoteco (Universal/Mirante), novo CD de Paula Morelenbaum, não se encaixa nesses clichês. A coisa já começa boa pelo fato de a cantora ter selecionado para o mesmo um repertório pré-bossa, que mereceu arranjos compatíveis com o estilo. Canções belíssimas pinçadas desde os anos 30 até o final dos 50, como Manhã de Carnaval (1959), Não Me Diga Adeus (1947), Teleco-teco (1942), O Que Vier Eu Traço (1945), Luar e Batucada (1957) e Um Cantinho e Você (1948).

Ao invés de cair na armadilha de arranjos padronizados e insossos, ela se valeu de vários produtores e teceu uma sonoridade que mistura sons eletrônicos, acústicos e inusitados de forma bem particular. Marcam presença no álbum gente como Ryuichi Sakamoto, João Donato, Marcos Valle, Jaques Morelenbaum, Leo Gandelman e Chico Pinheiro, sendo que uma das faixas, O Samba e O Tango (1937), contou com remix do badalado grupo Bajofondo.

O resultado é um disco suave, bom de se ouvir, com diversidade rítmica, no qual a voz doce e gostosa de Paula reina com sobriedade e delicadeza. É devido a discos como esse Telecoteco que nunca desprezo de imediato um novo CD de “bossa nova”, apesar dos problemas citados no início do meu texto. Se fizesse isso, perderia obras bacanas como essa aqui.

Para quem não sabe, Paulinha fez parte da banda de Tom Jobim, com a qual fez shows e gravou discos como Antonio Brasileiro (1994), além de lançar vários discos solo e cantado com o grupo Jobim-Morelenbaum. 

Tom Jobim em Águas de Março (Paula Morelenbaum nos vocais):

http://br.youtube.com/watch?v=RieMTLJYM78