Por Fabian Chacur

…E A Gente Sonhando, mais recente trabalho de Milton Nascimento, é uma espécie de irmão espiritual de seu disco mais cultuado, o hoje antológico (mas na época de seu lançamento, detonado, vai saber por quê) Clube da Esquina (1972).

O álbum mostra Milton ladeado por uma mistura de veteranos como o velho amigo Wagner Tiso e jovens talentosos e promissores como Bruno Cabral (vocal), Marco Elizeo (guitarra e violão), Ismael Tiso Jr. (guitarra), Paulo Francisco (Tutuca) (vocal) e Heitor Branquinho (vocal).

O som rola como o produzido por uma reunião de amigos unidos em torno de um único objetivo: fazer música emotiva e inspirada, sem abrir mão de uma embalagem caprichada, mas sem priorizá-la.

Ou seja, tem momentos que soam como se fossem diamantes sem polimento, mas a beleza reside exatamente nisso. Tal qual em Clube da Esquina, especialmente nas participações vocais de Lô Borges ali.

O início do álbum, que inclui 16 faixas entre inéditas e releituras, tem início com a belíssima balada jazzística que dá nome ao álbum e que o Bituca de Três Pontas escreveu ainda moleque, nos anos 60, antes da fama.

No setor releituras, não faltam belos achados, como Estrela Estrela (Vitor Ramil), Resposta ao Tempo (Cristóvão Bastos/Aldyr Blanc, famosa na voz de Nana Caymmi) e Adivinha o Que? (Lulu Santos).

Uma das canções mais belas é a quase gospel (o gospel de verdade, heim?) O Sol (Antonio Júlio Nastácia), um canto de esperança e de força capaz de emocionar até os mais enrijecidos pela dureza da vida.

Amor do Céu, Amor do Mar (Flávio Henrique/Milton Nascimento) homenageia Elis Regina, eterna musa do autor de Travessia, enquanto Gota de Primavera (Pedrinho do Cavaco/Milton) é daquelas baladas jazzísticas nas quais Milton esbanja talento e originalidade.

…E A Gente Sonhando é um dos melhores discos da MPB (Música-Milton Popular Brasileira), prova concreta de que o Bituca se aproxima dos 70 anos como um bom vinho: cada vez melhor.