Por Fabian Chacur

Em 1962, Ray Charles surpreendeu a muitos ao gravar Modern Sounds In Country And Western Music. Nessse álbum, ele relia à sua moda clássicos da música country, algo até então impensável para um artista que vinha da tradição do rhythm and blues e da soul music, que ele por sinal ajudou a criar. E deu certo, pois o álbum não só quebrou preconceitos como vendeu milhões de cópias e liderou a parada de sucessos americana e de vários países.

Desde então, este flerte entre a black music e o country volta e meia vem à tona de novo. Um momento expressivo dessa aproximação entre os estilos rolou em 1980, quando o astro country Kenny Rogers gravou Lady, escrita pelo então líder do grupo de funk/soul The Commodores, Lionel Richie. A parceria deu tão certo que a música bateu no número 1 das paradas.

Desta vez, Richie resolveu dedicar um álbum inteiro a esta aproximação entre o rhythm and blues e a música de origem rural. Trata-se de Tuskegee, CD que a Universal Music acaba de lançar no Brasil, e que estreou na parada americana direto na segunda posição, algo que o astro não conseguia desde o seu auge comercial, nos anos 80.

O conceito por trás do disco é simples: 14 grandes sucessos assinados e gravados anteriormente por Richie, sendo 12 de sua carreira solo e 2 dos Commodores, foram relidos com arranjos no estilo country atual, nas quais ele é acompanhado por astros de várias gerações deste gênero.

O elenco que participa desses duetos é estelar, incluindo Shania Twain, Kenny Rogers, Willie Nelson, Darius Rucker (ex-vocalista da banda de rock Hootie & The Blowfish e hoje cantor solo country), Jill Johnson, Kenny Chesney e os grupos Rascal Flatts e Little Big Town, entre outros.

Gravado basicamente em vários estúdios situados em Nashville, a capital mundial da country music, Tuskegee (nome da cidade onde Lionel Richie nasceu) é a prova de como, com o decorrer dos anos, a música negra e o country se aproximaram a ponto de ser difícil de notar diferenças tão gritantes entre uma e outra, especialmente no setor baladas.

Uma steel guitar aqui, um violão folk ali, um jeitão mais polido de encaixar as guitarras acolá, e pronto. Hits black ganham um jeitão country, embora pudessem perfeitamente também ser tocados nas rádios de black music.

Nenhuma das canções assinadas por Mr. Richie perdeu sua essência aqui, sendo imediatamente reconhecidas por quem as ouvir. O CD é bem gostoso de se ouvir. Eu destaco Stuck On You (com Darius Rucker), Deep River Woman (com o grupo Little Big Town), My Love (com Kenny Chesney), Lady (com Kenny Rogers), Easy (com Willie Nelson) e Sail On (com Jill Johnson).

Tuskegee cumpre bem todos os seus objetivos, mesmo sem superar as versões originais das canções contidas nele. O CD consegue reunir artistas bem distintos entre si de forma harmônica, contém releituras dignas de sucessos inesquecíveis e também ajudou a recuperar a popularidade de um dos nomes mais talentosos da história da música pop.

Último detalhe: note o título do álbum, esculpido no formato dessas fivelas grandonas que os fãs de música country/sertaneja usam na frente de suas calças.

Veja Easy ao vivo com Lionel Richie em 2007: