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Andy Gibb, astro pop que não aguentou o peso do estrelato

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Por Fabian Chacur

No dia 5 de agosto de 1988, Andy Gibb completou 30 anos de idade. Embora ainda bem jovem, já tinha vivido muito, e intensamente. Sucesso, consagração, badalação, vício, insegurança, problemas de saúde… Tudo foi muito intenso para ele. Tanto isso é verdade que, apenas cinco dias após se tornar trintão, o cantor e compositor britânico nos deixou, em um triste 10 de agosto daquele mesmo ano. Se a história acaba mal, o legado musical que ele nos deixou não poderia ter sido melhor.

A história de Andy Gibb é repleta de curiosidades e momentos bacanas. Ele nasceu na cidade inglesa de Manchester em 5 de agosto de 1958, o filho mais novo do casal Hugh e Barbara Gibb, que também gerou Lesley, Barry e os gêmeos Robin e Maurice. O fraldinha da companhia tinha apenas seis meses quando a família resolveu se mudar para a Austrália em busca de dias mais fartos e vitoriosos naquele lado do mundo.

Quando os Gibb voltaram à Inglaterra, em 1967, Barry, Robin e Maurice eram estrelas do pop-rock australiano, como integrantes dos Bee Gees e a ambição de conquistarem o Reino Unido e, na sequência, o mundo todo. Deu certo. Tanto que em pouco tempo o trio ganhou a idolatria de um contingente enorme de fãs, o que levou Hugh e Barbara a buscarem um lugar mais tranquilo para criarem seu filho caçula, já que Lesley ficou na Austrália e os outros já estavam voando com as próprias asas.

Em 1970, já vivendo em Ibiza, Ilhas Baleares (ao leste da Espanha), Andrew Roy Gibb (seu nome de batismo) começou a dar vasão a sua veia musical, cantando em bares na cidade e se acompanhando com o violão que ganhou de Barry. Ao voltarem ao Reino Unido em 1973, para morar na Ilha de Man, a família Gibb viu seu caçula montando pequenos grupos musicais. Quando ficou claro que o garoto realmente tinha talento, Barry resolve dar um conselho ao maninho.

Na opinião do filho mais velho dos Gibb, Andy poderia desenvolver melhor seu potencial na Austrália, onde não sofreria tanta pressão da mídia. Em 1974, ele foi para lá, e em 1975, após algumas tentativas, assinou com o pequeno selo local ATA Records e lançou o single Words and Music, um belo hit na terra dos cangurus. Aí, entrou na parada Robert Stigwood, empresário dos Bee Gees e dono da gravadora RSO.

Quando sentiu o potencial de Andy, Stigwood resolveu contratá-lo, o que se efetivou em 1976. Na época, os Bee Gees estavam mudando a sua base para Miami, Flórida, e foi para lá que o cantor se mudou. Antes, ficou uns dias nas Ilhas Bermudas, na casa de Stigwood e com o irmão Barry, com o intuito de compor músicas para o seu primeiro álbum.

Cercado por um elenco de músicos do primeiríssimo time sob o comando do genial tecladista, produtor e arranjador Albhy Galuten, um dos nomes fundamentais para a criação da fase rhytmn’ and blues/disco dos Bee Gees, Andy gravou um belíssimo álbum de estreia. Flowing Rivers saiu em 1977, e foi antecedido por um single de sucesso absurdo, I Just Want To Be Your Everything, que chegou ao primeiro lugar na parada americana.

O álbum atingiu o 19º posto na parada ianque e traz dez faixas, sendo nove composições dele (sendo duas parcerias com Galuten e uma com Barry) e uma só de Barry, exatamente o hit funky I Just Want To Be Your Everything. Também lançada em single, (Love Is) Thicker Than Water atingiu o primeiro lugar nos EUA e foi escrita por Andy e Barry. Outro momento incrível do álbum é a canção country Flowing Rivers, essa só do Gibb fraldinha.

Embora com diversas similaridades com o estilo que os Bee Gees desenvolviam na época, Andy não soava como um mero diluidor do trabalho deles. Muito longe disso. Com uma voz doce e capaz de valorizar as melodias bacanas disponíveis, ele se mostrou, aos 19 anos, com uma maturidade artística muito acima do que se poderia imaginar. Uma curiosidade: Joe Walsh, guitarrista dos Eagles, participou de duas faixas de Flowing Rivers.

Em 1978, veio seu segundo álbum. A faixa título, Shadow Dancing, saiu um pouco antes como single, e proporcionou ao jovem astro uma façanha: atingiu o primeiro lugar nos EUA e o tornou o primeiro artista na história da música pop a garantir a posição mais alta da parada americana dos compactos simples com seus três primeiros singles. Shadow Dancing, o álbum, traz oito composições de Andy, sendo seis sozinho, uma em parceria com Barry (Why) e outra escrita pelos quatro irmãos (a faixa-título).

As duas faixas que completam o segundo LP de Andy Gibb são a deliciosamente pop An Everlasting Love (de Barry Gibb e nº 5 na parada de singles) e a deslumbrante balada (Our Love) Don’ Throw It All Away (Barry e Blue Weaver, nº9 entre os singles mais vendidos). O álbum chegou ao nº 7 nos EUA, e sua faixa-título foi o maior hit de 1978 na terra de Barack Obama, acima até mesmo dos inúmeros hits do filme Saturday Night Fever, dos irmãos Gibb.

Em seu primeiro grande show solo, em 1978, ele contou com convidados especiais: nada menos do que os Bee Gees, a primeira vez em que os quatro irmãos pisaram juntos em um palco profissionalmente. Em 9 de janeiro de 1979, ele participou com destaque do show beneficente Music For Unicef, espetáculo que contou com os Bee Gees, Earth, Wind & Fire, Donna Summer, Abba e outros. Gibb aparece no álbum que documentou esse evento histórico interpretando as músicas I Go For You e Rest Your Love On Me, essa última em dueto com Olivia Newton-John.

É mais ou menos nessa época, quando Andy Gibb disputava os primeiros lugares das paradas de sucesso do mundo todo com seus irmãos, que ele começa a mostrar os primeiros sinais mais claros de que não estava segurando a onda de tanta exposição pública. Várias podem ter sido as razões, sendo a mais clara sua insegurança. O fato de seus maiores hits terem autoria ou coautoria do irmão Barry também podem ter reforçado essa situação de autoestima baixa.

Dessa forma, o cantor mergulhou nas drogas, especialmente cocaína. As consequências disso refletiriam em algumas características de seu terceiro álbum, After Dark, lançado em 1980. Das dez faixas incluídas nele, apenas duas levam a sua assinatura, e ainda assim em parceria com Barry, que assina outras cinco sozinho, uma em parceria com Albhy Galuten e as duas restantes com os irmãos Robin e Maurice.

Ou seja, After Dark é quase um disco solo de Barry Gibb com os vocais do irmão. Vocais, por sinal, gravados a muito custo. Ainda assim, o disco é muito bom, trazendo como destaques a ótima faixa título, a meio latina Desire (número 4 entre os singles mais vendidos) e dois duetos inspiradíssimos com a amiga Olivia Newton-John: I Can’t Help It e Rest Your Love On Me. O álbum chegou ao número 21 nos EUA.

Portanto, se não fosse a atuação decisiva de Barry no intuito de ajudar Andy a concretizar seu 3º álbum, o disco poderia perfeitamente não ter sido nem gravado, nem lançado. Ele praticamente não compunha mais nada, e para ficar em condições decentes para cantar, era preciso uma verdadeira operação de guerra. Isso explica o fato de o LP usar faixas como Desire e Warm Ride, ambas pensadas inicial e respectivamente para os Bee Gees e o grupo soul Rare Earth, não para Andy.

Diante desse quadro, Robert Stigwood não viu outra alternativa a não ser encerrar o contrato de Andy com a RSO Records. Como forma de finalizar essa parceria, foi lançada ainda em 1980 a coletânea Greatest Hits, trazendo como atrativos três gravações inéditas: o ótimo rock Time is Time (parceria dele com Barry que chegou ao nº 15 entre os singles em 1981), a balada Me (Without You) (esta só dele, nº 40 entre os singles) e a releitura de Will You Still Love Me Tomorrow (de Carole King), esta última um dueto com a cantora P.P. Arnold. O álbum atingiu o número 46 nos EUA, e marcou o fim de uma era.

Em 1981, Andy entrou forte nas revistas de fofocas de estrelas ao namorar com a atriz Victoria Principal, que vivia a Pamela Ewing na série televisiva de enorme sucesso Dallas. Ele, inclusive, gravou um single com ela, relendo All I Have To Do Is Dream, hit dos Everly Brothers, que chegou ao número 51 da parada ianque em 1951. Seria a última vez em que um de seus trabalhos entraria nos charts, e seu último lançamento antes de seu fim precoce. O namoro também acabou alguns meses depois, quando a atriz exigiu que Andy escolhesse entre ela ou as drogas. Deu a segunda opção, na cabeça.

A década de 1980 seria mesmo muito tumultuada para Andy Gibb, embora não tivessem faltado oportunidades para ele dar a volta por cima. O astro atuou como ator em dois badalados espetáculos teatrais, The Pirates Of Penzance e Joseph Ad The Amazing Technicollor Dreamcoat, e recebeu elogios por suas atuações neles. No entanto, foi demitido das duas produções americanas, ambas por faltar de forma constante aos ensaios e sessões.

Na TV, o mesmo ocorreu. Chegou a ser apresentador do programa Solid Gold entre 1980 e 1982 (com idas e vindas), atuou como convidado na série Punky Brewster (Punky, a Levada da Breca, no Brasil) e como protagonista da série Something’s Afoot ao lado de Jean Stapleton. Em 1984, retomou por uns tempos a música e fez shows nos EUA, Chile e Brasil, shows estes registrados e lançados posteriormente em DVDs piratas. Apresentações bem profissionais, por sinal, sendo que por aqui ele cantou usando uma camiseta amarela com o nome Brasil estampado. No repertório, hits dele, dos irmãos e um de Lionel Richie (All Night Long).

Em 1985, acabou sendo internado na célebre clínica Betty Ford para tentar se livrar das drogas, e a esperança ficou no ar. Em 1987, teve sua falência decretada, mergulhado em dívidas, mas outro raio de luz parecia surgir no horizonte: ele voltou a gravar, em parceria com os três irmãos e almejando o seu retorno triunfal ao meio musical.

Nesse período, foram gravadas quatro músicas, sendo que duas delas seriam lançadas de forma póstuma: Man On Fire, incluída na coletânea em CD intitulada Andy Gibb (1991) e Arrow Though The Heart, na caixa de quatro CDs Mythology (2010), que traz um disco para cada integrante dos Bee Gees e uma para o irmão mais novo. As gravações geraram boas expectativas.

No início de 1988, a Island Records tentou contrata-lo. O intuito era lançar dois singles e, em seguida, o esperado álbum de retorno de Andy. Infelizmente, isso não se concretizou, pois ele mais uma vez se incumbiu de faltar nas datas programas para assinar o compromisso com a gravadora. E, em 10 de março de 1988, a notícia que ninguém queria que se concretizasse veio a tona: Andy já não estava mais entre nós.

Muito se especulou sobre a causa da morte precoce do mais novo dos Bee Gees. Overdose parecia uma opção próxima da realidade, mas informações posteriores apontam para uma miocardite causada por uma infecção viral. Essa condição foi proporcionada por anos consecutivos de uso de drogas, o que deixou o artista com uma saúde bastante frágil, agravada por uma incapacidade latente de se alimentar de forma satisfatória. Uma pena.

Andy Gibb deixou uma filha, Peta, fruto de um casamento ainda na Austrália na metade dos anos 1970. Ela tinha apenas dez anos quando o pai morreu, e recentemente foi convidada a integrar o projeto The Gibb Collective, que reúne ela e os filhos de Barry (Stephen), Sam e Adam (Maurice) e Spencer (Robin) para gravar um álbum com faixas do songbook da família. A saga continua…

I Just Want To Be Your Everything (live Brasil 1984)- Andy Gibb:

9 Comments

  1. Andy faz aniversário no mês de março.
    Nasceu no dia 05 de março de 1958 e morreu no dia 10 de março de 1988.

  2. Andy era um artista completo. Faz falta. Peta canta muito. Tenho a certeza que Andy está orgulhoso de sua filha.

  3. Andy era um artista completo e sua filha Peta canta muito. Deve estar orgulhoso.

  4. Fabian Chacur

    April 4, 2020 at 4:41 pm

    O Andy nos deixou muito cedo, mas sua obra felizmente nos permite matar as saudades. Muito obrigado pela visita e volte sempre que puder ou quiser.

  5. Andy nasceu em 05 de março e faleceu em 10 de março

  6. Parabéns pela divulgação desta matéria. Sou fã dos Bee Gees e sempre soube que havia um quarto Bee Gees: o Andy. Pouco ou quase nada conhecia sobre ele (acho que quase nada seria mais apropriado). Hoje, voltando a ouvir os Bee Gees (vai e volta estou ouvindo. É impossível enjoar deles) através da plataforma “Som 13”, resolvi futucar um pouco mais e tentar ver “o quê” restou dos Bee Gees. Só em sua página (onde cai de paraquedas, pois não conhecia). Li toda a matéria e achei interessante a história de Andy Gibb, porém triste, visto que, infelizmente as drogas conseguiram vencer mais um nome no meio artístico. Uma pena, com certeza.

  7. Fabian Chacur

    October 4, 2020 at 6:38 pm

    Oi, amigo. Muito obrigado pelos elogios à minha humilde matéria. Andy se foi há décadas, mas suas gravações ficarão para sempre. Uma pena ele ter ido embora tão cedo. Grande abraço, valeu pela visita e volte sempre que quiser ou puder a Mondo Pop!

  8. Não sabia que havia um outro Gibb. Na minha opinião, Endy gibb é um grande talento.eu li toda essa matéria com muita atenção e também com uma tristeza muito grande em saber que ele tinha tantas inseguranças, deu para ver que ele tinha talento de sobra, e não precisaria ter mergulhado nas drogas.o que eu acho mais incrível é que toda a sua família tentou ajudá-lo de todas as maneiras. mas não foi possível salvá-lo. Andy era quase um suicida. Fico triste pelo Barry o Último sobrevivente.deve ser muito doloroso para ele. O que nos resta e matar a saudade ouvindo suas músicas🎸 descanse em paz em Endy gibb…

  9. Fabian Chacur

    July 4, 2021 at 1:29 am

    Andy viveu muito pouco, mas nos deixou um belo legado, e também uma lição importante em relação ao mal que as drogas fazem às pessoas. Muito obrigado pela visita a Mondo Pop e volte sempre!

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