gal costa-400x

Por Fabian Chacur

A morte de uma pessoa é normalmente algo triste, em quaisquer circunstâncias. Mas isso se exacerba quando se trata de alguém que estava ativa, produtiva e repleta de planos e projetos bacanas. E esse é o caso de Gal Costa, que nos deixou nesta quarta-feira (9) aos 77 anos, deixando órfãos não só o seu querido filho Gabriel como milhões de fãs espalhados pelo mundo afora. Como essa voz tamanha pode ter se calado tão de repente? Difícil de assimilar. Mais uma estrela no céu.

Desde o início de sua carreira, nos anos 1960, Maria da Graça Costa Penna Burgos dava pistas que não estava ali para uma passagem rápida e/ou provisória. Já em Domingo (1967), álbum que dividiu com o eterno parceiro musical Caetano Veloso, ficava claro que estava entrando em cena alguém que não chegava apenas para brincar, ou para ser uma burocrata da canção.

Nesses mais de 50 anos de trajetória artística, Gracinha mergulhou fundo no universo musical. Experimentou de tudo, desde a vanguarda até a canção mais popular, passando rigorosamente por todos os caminhos. Sempre com muita personalidade, com sua digital clara e facilmente distinguível. Do rock à guarânia, do jazz ao soul, do bolero à bossa nova, a moça sabia como entrar e sabia como sair, sempre com uma voz que usava com uma categoria reservada a poucas colegas de profissão.

Gravações de Gal Costa frequentaram as trilhas sonoras das vidas de todos nós, através das novelas, dos filmes, das rádios. Uma que me marcou profundamente foi Só Louco, sua inspiradíssima releitura do clássico de Dorival Caymmi escolhida como tema de abertura da minha novela favorita de todos os tempos, O Casarão (1976), e que me emociona sempre que a ouço. Mas tem muitas outras.

Essa moça de inúmeras roupagens foi uma espécie de atriz musical, incorporando o espírito das eras em que viveu, seja o Tropicalismo, os anos de chumbo da ditadura militar, o som mais pop associado à abertura política, a bossa nova revisitada e o que mais viesse. Se os discos sempre foram deliciosos, era nos shows que Gal dava o máximo de si, cativando um fã-clube extenso que ela sabia como encantar.

Gal tinha o raro dom de pegar uma composição alheia e torná-la sua, dom que Deus não proporciona a muita gente. Seu estilo de cantar influenciou muita gente, sendo que Marisa Monte é provavelmente o primeiro nome que vem às mentes de todos. Sempre aberta, dialogou com as gerações anteriores e as posteriores, além da sua própria, o que lhe proporcionou atingir um público amplo que, hoje, chora a sua perda.

Tive a honra de entrevistá-la em várias ocasiões, a partir do finalzinho dos anos 1980, e ela sempre se mostrou muito franca, acessível e receptiva. A mais recente foi em 2013 (leia a entrevista aqui).

Com os progressos da medicina atual, dava para se esperar que Gal ainda ficasse entre nós por muitos e muitos anos. Infelizmente, ela permanecerá apenas em seus inúmeros álbuns e vídeos, que nos permitirão dar uma maneirada nessa saudade imensa que certamente irá aumentar conforme a gente for se tocando de que, como disse Adriana Calcanhoto em entrevista à Globo News, “não tem mais Gal”.

Só Louco– Gal Costa: