Há exatos 30 anos, estava acordando para ir trabalhar quando vi um bilhete do meu irmão Victor em cima do criado mudo ao lado da minha cama.
“John Lennon morreu”, era a mórbida mensagem.
Lógico que entrei em alfa imediatamente. Meu Deus do céu!
Vale uma pequena história antes de mergulhar no tema.
Em 1980, eu cursava o primeiro ano de jornalismo na Cásper Líbero, e também começava a trabalhar com carteira assinada.
Era uma nova era em minha vida.
Com dinheiro no bolso, comecei a comprar em quantidades bem maiores aqueles discos que adquiria na base do conta-gotas nos tempos de mesada de infância/adolescência.
Nessas, mergulhei de cabeça em uma de minhas paixões mais antigas, os Beatles, e de quebra, nas carreiras solos de seus integrantes.
Lógico que, nessa leva, entraram trabalhos do John Lennon.
Se não me falha a minha memória, o primeiro compacto dele que comprei foi o estupendo Mind Games, em 1973, até hoje uma de minhas músicas favoritas desse cidadão. A capa é a que ilustra este post.
O primeiro LP foi a coletânea Shaved Fish, adquirida nesse mesmo 1980.
Vivi uma verdadeira febre de Beatles na faculdade ao lado dos amigos Jorge, Chico, Paulo Henrique e, pouco depois, Giovanni.
Quando tivemos a notícia de que Lennon havia gravado um novo disco, ficamos hiper curiosos.
Logo que saiu o single de (Just Like) Starting Over eu o comprei. E adorei!
Ainda não tinha ouvido o Double Fantasy quando Lennon foi assassinado por aquele demente de quem prefiro não escrever o nome.
Trinta anos se passaram e a música feita por aquele cantor, compositor e músico britânico permanece forte e atual como nunca.
Discos como John Lennon/Plastic Ono Band (1970), Imagine (1971) e Walls And Bridges (1974) figuram entre os melhores trabalhos de rock de todos os tempos.
Além de ter sido fundamental para a revolução musical que atendeu pelo nome Beatles, o cara ainda desenvolveu uma carreira solo riquíssima.
Mesmo em seus trabalhos mais irregulares estão contidas pérolas sonoras de primeira grandeza, como New York City, Mind Games, One Day at a Time, Watching The Wheels e Beautiful Boy (Darling Boy).
Lennon era capaz de ir desde canções românticas e doces como Oh My Love, Woman, Oh Yoko e Love até rocks viscerais e agressivos como How Do You Sleep?, Well Well Well, Cold Turkey e Gimme Some Truth.
Também não fechava as portas para inovações, como provam o funk What You Got, a country Cripple Inside, a quase reggae Borrowed Time e a psicodélica e experimental (e fantástica!) Nº9 Dream, só para citar algumas.
Mesmo se não tivesse integrado a melhor banda de qualquer estilo musical de todos os tempos ele teria tido um lugar cativo na galeria dos melhores astros do rock de todos os tempos.
O que ele estaria fazendo hoje, se estivesse vivo? Sabe Deus. Nunca saberemos a resposta para esta pergunta.
No entanto, se levarmos em conta o que Paul McCartney fez nesses últimos 30 anos, me atrevo a dizer que o pai de Julian e Sean certamente estaria nos proporcionando música de alta qualidade, além de shows imperdíveis.
Descanse em paz, Mr. Lennon, e obrigado por sua obra nos fazer tanto bem, mesmo sem tê-lo por perto há tanto tempo.
O que é bom, é para sempre, e nem um alucinado será capaz de apagar com sua brutalidade irracional.
December 8, 2010 at 9:18 pm
É duro sim, Fabian.
Eu também me lembro bem da época que ele morreu. Eu tinha apenas 11 anos e estava dando meus primeiros passos dentro desse mundo do rock and roll.
A comoção foi total, todos falavam: “… você viu? Mataram John Lennon..”
Nesta semana, inclusive, a GNT está passando um documentário bem legal. Você está assistindo, Fabian?
Enfim, nesses últimos dias, tenho ouvido alguns discos dele e sempre experimento um sentimento esquisito, de tristeza e até de um pequeno inconformismo.
E também sempre faço a pergunta: “o que John Lennon estaria fazendo?” Ouso imaginar que ele estaria trabalhando num ritmo bem menos intenso do que o Paul, por exemplo. É apenas um palpite baseado na personalidade dele.
Mas, ainda bem que ele nos deixou sua música, não é verdade?
Plastic Ono Band, Imagine e Walls and Bridges são a nata do trabalho do John. Absolutamente ferozes, mas também doces, mas, sobretudo, repletos de melodias fantásticas.
Meu único senão, é que eu acho que ele poderia ter investido mais no rock visceral e deixado a Yoko em casa. Só isso…
E como você disse, até discos menores tem obras clássicas. Sometime in New York City e Mind Games se encaixam nesse contexto. O primeiro é estranhíssimo, repleto de músicas toscas e com a voz horrorosa da Yoko se destacando além da conta e, o segundo é pop demais para o meu gosto.
Mas, enfim, nada pode ser 100% perfeito, nem o próprio John era, dono de uma personalidade complexa, ora agressivo, ora hipócrita e conveniente, ora contraditório, mas, sem dúvida nenhuma, uma das maiores personalidades artísticas de todos os tempos.
Grande abraço, Fabian.
December 11, 2010 at 6:58 pm
Vladimir, eu vi a parte final desse documentário, realmente fantástico. Espero vê-lo inteiro!!!! Quanto às suas opiniões, acho que batem legal com as minhas. Lennon forever!!!! Grande abraço e obrigado pela audiência!!!!