Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

Category: Grandes nomes esquecidos (page 6 of 17)

The Waterboys divulgam single psicodélico Here We Go Again

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Por Fabian Chacur

Uma das bandas mais marcantes do rock alternativo dos anos 1980, The Waterboys andam em uma fase bem produtiva. Após lançar o elogiado álbum Good Luck Seeker (2020), o time liderado pelo cantor, compositor e músico britânico Mike Scott anuncia para o dia 6 de maio um novo álbum, All Souls Hills, que sairá pelo selo Cooking Vinyl. Para atiçar o ouvido dos fãs, acaba de sair o delicioso e hipnótico single Here We Go Again, divulgado por um clipe psicodélico no qual Scott lembra vagamente o saudoso Paul Kantner, do Jefferson Airplane.

Em texto enviado à imprensa, Mike Scott fala sobre seu novo single: “É a ideia de que estamos vivendo um Dia da Marmota comunal. Estamos todos olhando para as manchetes, mas ninguém parece aprender as lições. Como cultura, continuamos cometendo os mesmos erros. É um olhar irônico sobre os humanos não serem tão inteligentes. E, ainda assim, eu me divirto sendo um.”

Com uma sonoridade que mistura rock, folk, country e psicodelia com muita habilidade, e ecos dos trabalhos de John Lennon, Bob Dylan e outros desse mesmo gabarito, The Waterboys marcaram o rock oitentista com álbuns do naipe de This Is The Sea (1985) e Fisherman’s Blues (1988). Entre suas músicas mais icônicas, vale lembrar de The Whole Of The Moon (ouça aqui), Medicine Bow (ouça aqui) e Fisherman’s Blues (ouça aqui)

Here We Go Again(clipe)- The Waterboys:

Julio Reny, um segredo gaúcho que você pode descobrir agora

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Por Fabian Chacur

Julio Reny. Sabe de quem se trata? Não se sinta o último dos mortais se a resposta for não. Embora esteja na estrada há mais de 40 anos, este cantor, compositor e músico gaúcho nunca teve seu trabalho muito divulgado fora das fronteiras do seu estado natal, sempre em lançamentos independentes ou por selos de pequeno porte. O curioso é que suas canções tem aquele evidente potencial de agradar às massas, o que fica evidente em seu novo lançamento, A Estrada Corre Para Sempre, disponível nas plataformas digitais e em caprichada edição em CD pelo selo independente Produto Oficial (compre por aqui).

Vários fatores podem explicar o porque o trabalho de Reny é uma espécie de segredo bem guardado do pop-rock gaudério. Falta de habilidade para lidar com gravadoras e empresários, falta de sorte em momentos decisivos, especialmente na década de 1980, quando vários colegas e amigos conseguiram projeção nacional (Engenheiros do Hawaii, Replicantes, Defalla, Garotos da Rua) e instabilidade pessoal são alguns deles. Mas a qualidade de seu trabalho merecia um reconhecimento muito, mas muito maior.

Para quem quiser conhecer a quase inacreditável história desse artista, recomendo com entusiasmo Histórias de Amor & Morte, espetacular bio escrito pelo jornalista Cristiano Bastos, o mesmo autor (ao lado de Pedro Brandt) de Júpiter Maça A Efervescente Vida e Obra (leia a resenha aqui) que relata essa trajetória de forma crua e sem meias-palavras. Foi o merecido vencedor do prestigiado Prêmio Açorianos de Literatura de 2015 (compre esse livro com o próprio autor pelo whatsapp (51)982986277 ).

A Estrada Corre Para Sempre é uma coletânea que traz 14 faixas lançadas originalmente por Julio Reny entre 2006 e 2010. Temos quatro de Diários da Chuva (2006), seis de A Primavera do Gato Amarelo (2008) e outras quatro de Bola 8 (2010), os mais recentes trabalhos solo de inéditas do artista gaúcho. Como esses CDs passaram batido no resto do país, é como se essas canções estivessem tendo uma segunda chance para serem devidamente apreciadas. E tomara que consigam, pois são ótimas.

Uma definição possível para o trabalho de Reny como compositor seria “jovem guarda com pimenta”. A influência do Roberto Carlos da fase 1964-1972 é bem grande, mas digerida com um viés mais rocker, sem no entanto perder aquele tempero bom de se ouvir das canções pop radiofônicas. Da área popular, Odair José e Paulo Sérgio são outras possíveis referências. O romantismo rasgado e intenso de Serge Gainsbourg é outro elemento possível nessa mistura.

O resultado são canções muito boas de se ouvir, que teriam tomado de assalto as programações das rádios populares da década de 1970, por exemplo, se já existissem naquela época. Essas ótimas composições são conduzidas por um cantor simplesmente ótimo, que sabe como poucos interpretar esse repertório tão apaixonado sem cair em exageros ou em um clima de caricatura. O cara esbanja inspiração, paixão e estilo, em melodias deliciosas.

Escritas em sua maioria no fim de sua fase quarentona, as 14 músicas desta compilação denotam um autor maduro, craque no seu ofício e inspiradíssimo. Chove no Sul, por exemplo, é um folk-rock envolvente com um quê de Everybody’s Talkin’, hit na voz do cantor Nilsson. Rainha das Ruas cativa com sua mistura de reggae e pop que evoca momentos bacanas do Culture Club de Boy George.

Humberto Gessinger, que Reny conheceu nos tempos em que o líder dos Engenheiros do Hawaii era um ilustre desconhecido que ensaiava na garagem da sua casa, toca viola caipira na deliciosa Noite em São Sepé e se incumbe de gaita e de vocais no refrão da emocionante balada Tenha Fé. Vale lembrar que Reny participou da faixa Guardas da Fronteira, do álbum A Revolta dos Dândis (1987), um dos clássicos do grupo de Gessinger.

Linda Menina e O Dólar e a Rosa (esta em dueto com Alexandra Scotti) são sacudidos rocks básicos stonianos. Invisível e É Impossível são jovem guarda pura, com esta última (cuja letra é inspirada na separação de Julio de uma de suas ex-mulheres) com uma guitarra 12 cordas que parece extraída de um disco dos Beatles ou de Renato e Seus Blue Caps. Ficou o Filme é uma balada folk daquelas de cortar os pulsos. E por aí vai. E vai bem!

Embora enfoque um período bem específico de uma obra extensa, A Estrada Corre Para Sempre serve como um bom cartão de apresentações de um artista que tinha tudo para ser muito popular, mas cujos atalhos obscuros da vida o tornaram aquilo que se convencionou chamar de “cult”. Ainda dá tempo de se reverter tal processo. Quem sabe a trilha de um filme, de novela ou algo assim? Mas você pode descobrir Julio Reny agora mesmo. Faça isso!

Chove no Sul– Julio Reny:

Timmy Thomas, 77 anos, autor de um belo libelo pela paz mundial

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Por Fabian Chacur anos

No finalzinho de 1972, um verdadeiro libelo pela paz mundial tomou as programações de rádio de todo o mundo. Why Can’t We Live Together levou o seu autor, o cantor, compositor e músico Timmy Thomas, a atingir o 3º lugar na parada pop e o 1º posto no chart de r&b, vendendo só nos EUA mais de 2 milhões de cópias. Tido por alguns como um one hit wonder (maravilha de um sucesso só), ele, no entanto, tem uma história bem bacana. Thomas nos deixou nesta sexta (11) aos 77 anos de idade de causas não reveladas.

Timmy Thomas nasceu em Evansville, Indiana (EUA) em 13 de novembro de 1944. Jovem músico promissor, ele começou aprendendo e tocando ao lado de jazzistas do calibre de Cannonball Adderly e Donald Byrd. Em Memphis, Tennessee, tornou-se músico de estúdio, atuando em gravações para as gravadoras Sun, Stax e Goldwax. Ele também trabalhou como músico para as bandas The Mark-Keys e Phillip And The Faithfulls. Aí, resolveu mudar para Miami, Flórida, inicialmente para montar um barzinho.

Ele fez amizade em 1972 com o músico e compositor Noel “King Sporty” Williams, que depois ficaria mundialmente conhecido como o parceiro de Bob Marley no hit póstumo do rei do reggae Buffalo Soldier (lançada em 1983 no álbum Confrontation). Williams o levou ao estúdio da Glades, um dos vários selos ligados à TK Productions, do veterano Henry Stone. Com ele, Thomas trouxe o seu teclado marca Lowrey e uma precursora das baterias eletrônicas que dali a pouco tomariam conta das gravações, especialmente de dance music.

Cantando, tocando o órgão e valendo-se do ritmo eletrônico, o cantor deu vida a o que inicialmente seria apenas uma demo da canção que ele havia feito há pouco, inspirado pela Guerra do Vietnã. Ele explica melhor, em trecho de entrevista concedida à revista Blues & Soul em 1973:

“Escrevi essa letra baseada na minha frustração em relação ao que ocorria no mundo como um todo naquela época, questionando o porquê não podíamos viver juntos, sem guerra e em paz uns com os outros. Tive como inspiração um ritmo próximo ao da bossa nova, sendo que antes havia experimentado algo ainda mais latino”.

Quando a gravação ficou pronta, os técnicos envolvidos perceberam que a tal demo estava com qualidade para ser lançada do jeito que estava. A gravação ocorreu em agosto de 1972, e em outubro já começava a entrar com força nas programações das rádios. Em 27 de janeiro de 1973, Why Can’t We Live Together tirou nada menos do que Superstition, de Stevie Wonder, da ponta da parada ianque de r&b, mantendo-se lá por duas semanas. O single também atingiria o 3º lugar na parada pop, vendendo em solo americano mais de 2 milhões de cópias.

Tendo com lado B a deliciosa Funky Me (ouça aqui), o single Why Can’t We Live Together fez sucesso nos quatro cantos do mundo, Brasil incluso. Ele veio divulgar a música por aqui. E, em informação que consegui com o querido colega Zeca Azevedo, aproveitou para gravar um compacto duplo de vinil.

O disco, lançado pela Top Tape, traz Eu Só Quero Um Xodó (de Dominguinhos Anastácia e, na época, grande hit com Gilberto Gil- ouça a versão de Timmy Thomas aqui), cantado meio que na raça em português pelo artista e Tá Chegando a Hora (Cielito Lindo- ouça aqui), com um coral brasileiro nos vocais.

O single também trouxe duas canções inéditas feitas por Thomas especialmente para a ocasião, She’s a Rio Girl (ouça aqui) e I’ll Always Remember Brazil (ouça aqui), ambas bem dançantes e divertidas, com direito a cuíca e tudo, além de letras do tipo “turista encantado com o país que está visitando”.

Why Can’t We Live Together se tornou um clássico perene. Além do estouro da versão original, ela também teve diversas regravações, entre as quais de Sade (no CD Diamond Life, de 1984), MC Hammer (no CD Too Legit To Quit, de 1991) Steve Winwood (no CD Junction Seven, de 1997), Joan Osbourne (no CD How Sweet It Is, de 2002) e Carlos Santana (no álbum Warszawa, de 2020). Drake também sampleou a gravação de Thomas no hit Hotline Bling, de 2015.

Depois do estouro dessa música, Timmy Thomas teve dificuldade para superá-lo. Em conversa com Henry Stone, o dono da TK lhe deu uma possível explicação: “meu caro, o tema da sua canção era muito profundo, muito denso, seria mesmo muito difícil você apresentar algo tão forte assim”. Seja como for, ele seguiu adiante. Em 1974, por exemplo, lançou um dueto matador com a cantora Betty Wright, Ebony Affair (ouça aqui).

Em 1977, foi a vez do álbum Touch To Touch, cuja ótima faixa-título seguia uma batida puramente disco-soul (ouça aqui). Essa música fez um certo sucesso no Brasil, incluída na coletânea Miami Sound, lançada pela CBS. Em 1985, outro dueto bacana, New York Eyes, com a cantora Nicole McCloud (ouça aqui).

A partir do final dos anos 1980, Timmy Thomas passou a atuar de forma mais esparsa como artista solo, dedicando-se a produzir outros artistas e também a dar aulas de música em escolas públicas. Ele teve participação, como organista, em quatro faixas no badalado álbum de estreia da cantora britânica Joss Stone, The Soul Sessions (2003). Não é sem ironia que Timmy Thomas se vai quando os versos de Why Can’t We Live Together se mostram mais atuais do que nunca.

Why Can’t We Live Together (ao vivo)- Timmy Thomas:

Sheryl Crow celebra 60 anos como uma artista impecável

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Por Fabian Chacur

Sheryl Crow esteve no Brasil pela primeira vez em novembro de 1995. Seu álbum de estreia, o maravilhoso Tuesday Night Music Club (1993), havia saído por aqui sem grande estardalhaço, e a moça veio para abrir os shows de Elton John no Brasil. Estive na coletiva de imprensa concedida pela cantora em São Paulo, no Maksoud Plaza, e apareço em uma foto meio bizarra com ela. Ao ver sua performance, ficou claro para mim que esta artista, que nesta sexta (11) completa 60 anos de idade, tinha potencial para ir muito, mas muito longe mesmo na cena musical. Eu estava certo.

Cantora, compositora e musicista, Sheryl não apareceu da noite pro dia, e pavimentou o seu caminho tocando em bares e depois atuando em bandas de apoio de outros artistas. Nessa seara, seu momento de maior destaque ficou por conta de ter sido vocalista de apoio na turnê Bad, de Michael Jackson, entre 1987 e 1989. Ela ficava nos holofotes em cada apresentação quando fazia as vezes de Siedah Garrett na música I Just Can’t Stop Loving You, encarando o dueto com o Rei do Pop sem o menor vacilo.

Mesmo demonstrando tanto talento, Sheryl demorou para lançar um trabalho solo. Seu álbum de estreia só saiu em 1993, o brilhante Tuesday Night Music Club. Dois anos antes, um álbum pronto foi colocado de lado, do qual apenas uma faixa veio à tona na trilha de um filme. Mas valeu a espera. A então já trintona esbanjou talento em uma mistura de rock, country, folk, soul e pop que gerou hits como All I Wanna Do e Strong Enough, com o álbum atingindo o 5º posto na parada americana. Esse foi o repertório de seus primeiros shows no Brasil.

A partir dessa estréia, a moça se consolidou como uma artista completa, sem nunca se desviar radicalmente dos caminhos que nos apresentou nesse disco de estreia. Sempre acompanhada por músicos do primeiro escalão, Sheryl Crow é daquelas artistas que sabem o que fazer quando sobem nos palcos, cantando muito e tocando com categoria. Nunca apelou nem se valeu de recursos cênicos mirabolantes em seus shows. Som na caixa e muita garra e talento, sempre.

Nesses anos todos, ela fez parcerias bacanas com artistas como Stevie Nicks, Eric Clapton, Keith Richards e muitos outros, e mostrou também ser boa para reler repertório alheio, como suas belas covers de Mother Nature’s Sun (dos Beatles) e The First Cut Is The Deepest (de Cat Stevens) provam de forma veemente. E ela voltou ao Brasil de forma triunfal em 2001, participando com destaque do Rock in Rio.

Inteligente, linda, articulada, discreta e sempre defendendo causas bacanas, Sheryl Crow chega aos 60 anos de idade mais relevante do que nunca, com novos álbuns e shows e uma trajetória brilhante que parece estar bem longe de terminar. Ela felizmente superou problemas de saúde que teve nos idos de 2006, e se mostra pronta para nos oferecer novas canções maravilhosas como Soak Up The Sun, Strong Enough, The Na-na Song e tantas outras.

Soak Up The Sun (clipe)- Sheryl Crow:

Graham Nash celebra 80 anos como um roqueiro elegante

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Por Fabian Chacur

Em maio de 2012, tive um dos momentos mais sublimes da minha vida. Vi, na extinta Via Funchal, o show dos meus amados Crosby, Stills & Nash (leia a resenha aqui). Dos três ícones do rock, o que parecia estar mais em forma era Graham Nash, então com 70 anos. Ele completa 80 nesta quarta (2) e mostra que continua firme e forte (veja entrevista dele em dezembro de 2021 aqui). Ele acabou de lançar no exterior um livro com fotos feitas por ele, A Life In Focus: The Photography Of Graham Nash.

Uma forma simples de definir a trajetória musical de Graham Nash é chamá-lo de um roqueiro elegante. Sim, ele é cria da primeira geração que cresceu tendo o rock and roll como a principal influência musical e comportamental. Foi inspirado por esse estilo musical que este cantor, compositor, músico e fotógrafo britânico resolveu se dedicar à música. Inicialmente, foi integrante de um dos mais bem-sucedidos grupos da chamada British Invasion, The Hollies, com suas canções melódicas, bem arranjadas e fortemente próximas da música pop.

Depois de aproximadamente cinco anos com a banda, Nash começou a ambicionar voos mais ambiciosos em termos musicais, que refletiram em faixas dos Hollies como King Midas In Reverse, por exemplo. Durante uma viagem aos EUA em 1968, mais precisamente na casa da cantora Mama Cass (dos The Mammas And The Papas) teve a oportunidade de fazer uma jam session com David Crosby (dos Byrds) e Stephen Stills (do Buffalo Springfield). O entrosamento das vozes foi tão imediato que nenhum dos três teve dúvidas: uma parceria importante nascia ali.

E a ideia era a da liberdade, sem amarras. Tanto que o supergrupo foi intitulado Crosby, Stills & Nash. Seu álbum de estreia, de 1969, é um dos melhores de todos os tempos, com canções maravilhosas e icônicas. Marrakesh Express, de Nash, foi um dos grandes sucessos. No ano seguinte, o trio viraria quarteto com a entrada de Neil Young (outro ex-Buffalo Springfield), e lançaria Dèja Vu (1970), cujo maior hit foi a doce Our House, dedicada por Nash a Joni Mitchell, com quem teve um breve, porém marcante relacionamento afetivo.

Vale lembrar que em agosto de 1969 Crosby, Stills & Nash, em sua segunda apresentação ao vivo (já com Young no time), tiveram grande destaque no mitológico festival de Woodstock, ganhando fama mundial após o lançamento do documentário que imortalizou o evento. Livre para voar musicalmente, Graham Nash passou, a partir da saída dos Hollies, a alternar parcerias com os amigos com trabalhos individuais, com direito a canções românticas e também brados de inspiração política como Military Madness e Chicago.

Além de grande cantor e compositor, o astro britânico sempre encontrou tempo para defender causas ecológicas e políticas das mais justas, mas sem perder a ternura jamais. Dos integrantes do Crosby, Stills & Nash (com ou sem o Young), sempre se mostrou o mais simpático, acessível e tranquilo. Em 1983, até teve um breve retorno com os Hollies, que gerou um álbum de estúdio e alguns shows.

Graham Nash é a prova de que um artista de rock pode ser romântico, doce e delicado, sem no entanto deixar o lado vigoroso e contestador do rock de lado. No momento, dedica-se a lançar livros com fotografias que tirou desde que era criança, uma paixão paralela à da música. Ele promete mais uma publicação para breve. Pena que sua briga com David Crosby há não muito tempo parece ter encerrado para sempre o Crosby, Stills & Nash. Mas, com esses caras, nunca se sabe… Bem, pelo menos pude ver um de seus shows, pena que sem uma companhia essencial a meu lado. Parabéns a ele, com votos de muitos anos mais de vida com saúde, paz e produtividade.

Nota de última hora: em solidariedade ao velho amigo e parceiro Neil Young, Graham Nash também vai tirar as suas músicas da plataforma digital Spotify.

Our House– Crosby, Stills & Nash:

Ronnie Spector, 78 anos, um dos ícones femininos da música pop

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Por Fabian Chacur

Uma das marcas da década de 1960 ficou por conta do surgimento de diverso grupos vocais femininos bem-sucedidos em termos artísticos e comerciais. Um dos mais marcantes foi o trio The Ronettes, no qual se destacava a cantora Ronnie Spector. Graças a seu estilo marcante, personalidade e a produção do talentoso e polêmico Phil Spector, o grupo emplacou grandes hits e marcou época. Ronnie infelizmente nos deixou nesta quarta-feira (12), vítima de um câncer, aos 78 anos de idade. Ela deixa um belo legado e a marca de ícone musical e visual.

Veronica Yvette Bennett nasceu em Manhattan, Nova York, em 10 de agosto de 1943, filha de uma afro-americana com um americano de origem irlandesa. No fim dos anos 1950, criou com a irmã mais velha Estelle (1941-2009) e a prima Nedra Talley o trio vocal Darling Sisters, que depois se tornaria The Ronettes. O grupo chegou ao topo das paradas de sucesso quando se associou ao produtor e compositor Phil Spector, assinando um contrato com o seu selo.

Unindo os arranjos bombásticos e geniais de Phil às vocalizações charmosas das garotas, especialmente a voz deliciosa de Ronnie, as Ronettes invadiram as paradas de sucesso entre 1963 e 1966. Um de seus principais hits, Be My Baby (1963), é uma das músicas mais marcantes da história da música pop, influenciando diversas outras e utilizada na trilha de vários filmes, entre eles na icônica abertura de Dirty Dancing (1987).

O visual ousado e marcante das Ronettes, e de Ronnie em particular, influenciou grandes ícones posteriores da música pop, entre as quais Amy Winehouse. Ronnie, inclusive, deu belos depoimentos em documentários sobre Amy, e também fez uma ótima regravação de Back To Black após a morte da estrela britânica, com objetivos beneficentes.

Após gravar mais alguns hits, entre os quais Baby I Love You (1963), The Best Part Of Breakin’ Up (1964) e Walking In The Rain (1964), o trio se separou em 1967. Logo em 1963, Ronnie e Phil Spector iniciaram um relacionamento afetivo que os levou a se casarem oficialmente em 1968. No entanto, foi provavelmente o maior erro cometido pela cantora, que comeu o chamado “pão que o diabo amassou” na convivência com o produtor.

Isso certamente explica a dificuldade que Ronnie Spector teve para seguir adiante em sua carreira, após se separar de Phil em 1974. Ela chegou a ser ameaçada de morte por várias vezes, e foi torturada psicologicamente durante muitos e muitos anos. Melhor nem me estender muito nesse tema, realmente constrangedor e lamentável.

Mas ainda assim Ronnie viveu momentos bacanas. Em 1971, por exemplo, gravou o belo single Try Some Buy Some, canção de George Harrison que o autor só gravaria em 1973 em seu antológico álbum Living In The Material World. Vale lembrar que as Ronettes abriram shows para os Beatles em 1966. Em 1976, participou com destaque da faixa You Mean So Much To Me, escrita por Bruce Springsteen e gravada por Southside Johnny.

Em 1986, outro dueto, desta vez com o cantor, compositor e músico norte-americano Eddie Money, fez grande sucesso, a ótima Take Me Home Tonight. Ela gravou alguns discos solo, entre os quais o EP She Talks to Rainbow (1999), produzido por Joey Ramone e com participação dele na canção You Can’t Put Your Arm Around a Memory.

Ronnie Spector era uma figura muito querida no meio musical, e é possível ver em pesquisas no google foto dela com algumas das maiores personalidades do rock e da música pop, todos admiradores de seu talento e personalidade. Ela lançou uma autobiografia em 1990, Be My Baby: How I Survived Mascara Miniskirts and Madness, cogitada recentemente para virar um filme.

Be My Baby– The Ronettes:

James Mtume, 76 anos, grande músico e compositor americano

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Por Fabian Chacur

Em 1966, o jovem músico James Forman entrou na US Organization, um grupo de capacitação de negros. Lá, ele foi batizado por um de seus idealizadores, Maulana Karenga, com o nome Mtume, palavra que na língua suaili significa mensageiro. E foi exatamente isso o que esse cantor, multi-instrumentista e compositor fez durante toda a sua vida, um mensageiro da boa música e das melhores vibrações. James Mtume nos deixou neste domingo (9) aos 76 anos de causas não reveladas. Um grande craque da música, cuja legado irá elevar nossos espíritos para todo o sempre.

James Mtume nasceu na Filadélfia em 3 de janeiro de 1946. Filho do saxofonista de jazz Jimmy Heath, ele na verdade foi criado por um padrasto também músico e jazzista, o pianista James “Hen Gates” Forman. Além de investir em fusão de elementos musicais do jazz e da cultura africana nos discos Kawaida e Alekebulan: Land Of The Blacks, ele também integrou a banda de músicos como Gato Barbieri, McCoy Tyner e Freddie Hubbard.

Ganhou muita fama ao entrar no grupo de Miles Davis, com o qual fez inúmeros shows e participou de álbuns como On The Corner (1972), Big Fun (1974) e Pangea (1974). Nessa época, fez amizade com outro integrante da banda, o guitarrista Reggie Lucas (1953-2018), e nascia ali uma parceria que renderia grandes clássicos do r&b, músicas que marcaram uma geração e continuarão arrepiando a todos nos tempos que virão.

Para a dupla Roberta Flack & Donny Hathaway, por exemplo, Lucas e Mtume escreveram a deliciosa balada The Closer I Get To You (ouça aqui), que também também ganharia uma bela releitura por parte de Beyoncé e Luther Vandross (ouça aqui) e a espetacular e balançada Back Together Again (ouça aqui), uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos.

Uma das cantoras que mais gravou canções da dobradinha Mtume-Lucas foi Stephanie Mills (leia mais sobre ela aqui), que de quebra ainda teve quatro de seus álbuns produzidos por eles. Entre essas músicas, destaques para a singela, romântica e vencedora do Grammy Never Knew Love Like This Before (ouça aqui) e a balançada e sensual Sweet Sensation (ouça aqui).

Paralelamente a esses trabalhos para outros artistas, James criou um grupo próprio, o Mtume, que estourou em 1983 com o álbum Juicy Fruit, cuja divina faixa-título (assinada só por ele) logo se tornou um dos grandes clássicos da black music dos anos 1980. Ele também teve músicas gravadas por talentos do porte de Phyllis Hyman, Mary J Blige, Teddy Pendergrass e o grupo Inner City.

Juicy Fruit já foi sampleada por dezenas de artistas nesses anos todos, entre os quais Alicia Keys (em Juiciest), The Notoriuos BIG (em Juicy), Jennifer Lopez (em Loving You), Mariah Carey (em Dreamlover), David Byrne & Fatboy Slim (em Walk Like a Woman) e Nicki Minaj (em Your Love), só para citar alguns deles.

Juicy Fruit– Mtume:

Michael Nesmith, 78 anos, dos Monkees, rebelde compositor

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Por Fabian Chacur

Em 1965, o cantor, compositor, ator e músico americano Michael Nesmith fez parte de um processo seletivo para uma série de TV americana que contou com 437 concorrentes. Ele foi um dos quatro escolhidos, e ganhou fama mundial sendo um dos integrantes do The Monkees, que além de seriado televisivo também virou um grupo de rock de muito sucesso. O mais rebelde e de personalidade mais forte da turma, ele infelizmente nos deixou nessa última sexta-feira (10), aos 78 anos, vítima de uma insuficiência cardíaca.

Nascido em Houston, Texas (EUA) em 30 de dezembro de 1942, Nesmith começou a carreira musical participando do circuito folk de Los Angeles, Califórnia, e gravou singles para o selo Colpix valendo-se do pseudônimo Michael Blessing. Em outubro de 1965, foi escolhido para integrar o elenco de The Monkees ao lado do inglês Davy Jones (1945-2012) e dos também americanos Peter Tork (1944-2019) e Micky Dolenz (1945). A química entre eles se mostrou perfeita desde o início.

A partir da estreia da série na TV americana, em setembro de 1966, The Monkees se tornou um imenso sucesso não só por sua divertida trama, a de um grupo fictício de rock talentoso, divertido e escancaradamente inspirado nos Beatles das fases A Hard Day’s Night e Help!, mas também pelas ótimas músicas gravadas para os episódios e lançadas em singles e álbuns, de autores como Boyce & Hart, Carole King, Neil Diamond e outros.

No inicio, os quatro atores participavam pouco ou quase nada dos discos, mas Nesmith desde o começo se sobressaiu como compositor e também como o rebelde da turma. Foi ele quem atiçou o quarteto a tentar se impor como um grupo de verdade, tocando e cantando em seus discos. Várias de suas composições foram gravadas pelos Monkees, entre as quais Listen To The Band, The Girl I Knew Somewhere, Tapioca Tundra, Mary Mary e Good Clean Fun.

Após o sucesso meteórico em 1966 e 1967, o seriado saiu de cena em meados de 1968 e o quarteto viu a sua popularidade ir caindo rapidamente. Peter Tork foi o primeiro a sair do time. Michael Nesmith pegou o gorrinho de lã (sua marca registrada) e deu o fora em 1970. Um pouco antes, já havia lançado seu primeiro disco solo, The Wichita Train Whistle Sings (1968). Uma de suas composições, Different Drum, fez muito sucesso em 1967 com o Stone Poneys, grupo que tinha como vocalista Linda Ronstadt, que depois viraria uma estrela do country rock.

Fora dos Monkees, Nesmith mergulhou em uma carreira no country rock, lançando vários LPs solo e também investindo em bandas como a First National Band. Alguns de seus singles viraram hits, entre os quais Joanne e Silver Moon . Foi provavelmente o mais estável e respeitado dos ex-integrantes do grupo em sua jornada individual, destacando-se como cantor, músico e compositor.

A mãe de Michael Nesmith, Bette, foi a criadora do célebre liquid paper, e vendeu em 1979 a sua parte na empresa correspondente para a Gillete Corporation pelo então enorme valor de 47 milhões de dólares. Ela faleceu no ano seguinte, e toda essa herança ficou para o filho único, que por sinal vivia naquele momento uma fase de vacas magras em termos financeiros. A partir dali, ele também passou a produzir filmes e atuar em projetos beneficentes.

Dessa forma, Nesmith se manteve afastado do bem-sucedido retorno dos Monkees em 1986, fato ocorrido graças ao relançamento de todos os álbuns do quarteto pelo selo Rhino e também pela reexibição do seriado na TV. Ele só marcou presença em dois dos shows da turnê, e só para participações breves.

No entanto, em 1996, a surpresa: os Monkees não só voltavam com a sua formação original, como também lançavam Justus, o primeiro álbum feito totalmente por eles, que não só compuseram todas as canções (sendo duas de autoria de Nesmith) como também se incumbiram de todos os vocais e instrumentos. O CD não foi um estouro de vendas, mas recebeu elogios por parte da crítica e dos fãs. O título é um trocadilho (just us, apenas nós, em tradução livre).

Após a morte de Davy Jones, os Monkees fizeram shows em formato de trio em 2012, 2013 e 2014. O grupo também lançou dois novos álbuns, Good Times! (2016) e Christmas Party (2018), ambos com participação de Nesmith, que também participou de alguns shows. Ele também escreveu alguns livros durante sua trajetória. Infelizmente, agora só temos Micky Dolenz entre nós desse grupo que poderia ter sido apenas uma piada televisiva, mas que marcou a vida de muita gente com suas canções divertidas e deliciosamente pegajosas.

Listen To The Band– The Monkees:

Ronnie Wilson, 73 anos, um dos integrantes da The Gap Band

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Por Fabian Chacur

Das grandes bandas funk que estouraram na segunda metade dos anos 1970, uma das mais quentes sem sombra de dúvidas foi a The Gap Band. Com seu som dançante turbinado, pontuado por baladas aqui e ali, os irmãos norte-americanos Charlie, Robert e Ronnie Wilson conquistaram incontáveis fãs dentro e fora do universo da black music. Robert nos deixou em 2010, aos 53 anos. Agora, infelizmente chegou a vez de Ronnie, aos 73 anos, que não conseguiu se recuperar de um derrame que sofreu há uma semana.

A Gap Band teve início efetivamente em 1974, quando Charlie (vocalista principal e músico), Robert (baixista) e Ronnie (teclados, bateria, percussão e sopros) atuaram como banda de apoio do lendário cantor, compositor e músico Leon Russell em shows e também em seu álbum Stop All That Jazz (1974). O grupo gravou alguns álbuns que passaram batido nesse período. Em 1978, o produtor Lonnie Simmons os contratou e, em seguida, conseguiram um contrato com a Mercury Records (cujo acervo hoje pertence à Universal Music).

A sorte virou para os irmãos Wilson em 1979, quando emplacaram os hits I’m in Love e Shake. Pouco depois, a coisa ficaria ainda melhor com o álbum The Gap Band II, com dois hits sensacionais: a compassada I Don’t Believe You Want To Get Up And Dance (Oops!) e a levemente latina Steppin’ (Out). Charlie virou o vocalista líder e sexy, Robert o baixista carismático e Ronnie o tecladista certeiro.

Até 1984, o grupo frequentou as paradas de r&b e também as de música pop com muita frequência, especialmente com suas faixas mais dançantes. Burn Rubber On Me (Why You Wanna Hurt Me), com sua batida forte e seca de bateria e seus riffs roqueiros, criou um padrão muito bem explorado pelo trio, que emplacou, na mesma linha mas sem soarem como cópias baratas, as sensacionais Early In The Morning, You Dropped a Bomb On Me e Party Train, só para citar algumas delas.

Charlie era a figura de proa da banda como cantor e compositor, mas Ronnie também mostrou seu talento como coautor de músicas como a romântica Yearning For Your LoveOpen Up Your Mind (Wide), Party Train, Steppin’ (Out) e I Don’t Believe You Want To Get Up And Dance (Oops!).

O sucesso da Gap Band diminuiria até o fim dos anos 1980, mantendo-se melhor no Reino Unido, onde emplacaria em 1987 o hit Big Fun. Após o lançamento do álbum Round Trip, em 1989, Ronnie saiu do grupo para se dedicar à música religiosa. O grupo ainda lançaria mais alguns álbuns, mas nunca voltou ao mesmo patamar que já havia alcançado antes.

As músicas da Gap Band foram sampleadas e geraram hits para inúmeros outros artistas, entre os quais Ashanti, Blackstreet, Mary J. Blige, Ice Cube e Snoop Dogg, e seu som vibrante influenciou diversos outros artistas e estilos, entre os quais o New Jack Swing do final dos anos 1980/início dos anos 1990.

Early In The Morning (clipe)- The Gap Band:

Daryl Hall celebra 75 anos como um dos grandes nomes do pop

daryl hall

Por Fabian Chacur

Se há uma coisa que me irrita profundamente, como bom libriano que sou, é injustiça. E se há um cara injustiçado no meio da música pop e do rock, ele atende pelo nome de Daryl Hall. Esse cantor, compositor e músico americano (também libriano, por sinal) que, nesta segunda-feira (11) celebra 75 anos de vida, é um dos sujeitos mais talentosos e criativos da cena pop mundial há cinco décadas. E poucos cri-críticos celebram essa obra incrível. Aqui em Mondo Pop, faço isso o tempo todo (leia mais matérias sobre ele aqui).

E qual seria a razão para que não se dê o devido valor ao integrante de uma das duplas mais bem-sucedidas em termos comerciais e artísticos da música pop, Daryl Hall & John Oates? Uma delas é possivelmente esse fator, a popularidade que ele e seu parceiro conquistaram desde que lançaram seu álbum de estreia, Whole Oates (1972). Eles lutaram muito para chegar onde chegaram, e conquistaram esse fã-clube imenso com garra, persistência e criatividade.

A química entre Hall, um fanático por soul music, e Oates, adepto do som folk, mostrou-se simplesmente imbatível. Ao misturar soul, folk, rock e pop com muita habilidade, eles nos proporcionaram maravilhas do porte de Rich Girl, She’s Gone, Kiss On My List, Private Eyes, I Can’t Go For That (No Can Do), Out Of Touch, One On One e dezenas de outras, pérolas pop escritas e gravadas com muita personalidade e jogo de cintura.

Daryl Hall tem uma das vozes mais belas e facilmente reconhecíveis da música, com forte influência soul e sendo muito respeitado nessa área, algo que não muitos intérpretes brancos conseguem. Além disso, ele e seu parceiro de meio século possuem forte presença de palco, cativando plateias nos quatro cantos do mundo com seus shows diretos e repletos de musicalidade e carisma.

Além da trajetória com a dupla, Hall também possui uma carreira-solo das mais respeitáveis, que inclui discos bacanas como o experimental Sacred Songs (1980), produzido por Robert Fripp (do grupo King Crimson). Ele também é o apresentador do programa Live From Daryl’s House, que o reuniu a grandes nomes da música de várias eras, sempre em apresentações ao vivo repletas de energia e muito alto astral.

A carreira de Daryl Hall é uma prova cabal de que, sim, é possível fazer música acessível e com forte potencial comercial sem cair na vala comum das repetições e modismos banais. Em seus melhores momentos, ele, com ou sem John Oates, consegue nos oferecer aquele prazer auditivo que só os craques da música tem o dom de nos proporcionar.

Private Eyes (clipe)- Daryl Hall & John Oates:

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