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Calango Brabo investe em mescla de forró com metal

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Por Fabian Chacur

A mistura do nosso forró com o rock começou a ser feita a partir dos anos 1970, especialmente graças a artistas como Alceu Valença, Raul Seixas e Zé Geraldo. Com o decorrer dos anos, surgiram novos desdobramentos. A banda paulistana Calango Brabo, há uma década na ativa, aposta em uma original combinação do heavy metal e hard rock com o som brasileiro, chegando a um resultado bastante interessante e que começa a atrair as atenções do público.

O grupo tem como líder o cantor, compositor e guitarrista Daniel Ruberti, que mergulhou no mundo da música ainda adolescente e trabalhou com Almir Sater e o grupo Planta e Raiz, além de dar aulas. Fã incondicional de heavy metal e hard rock, ele começou a se interessar pelos ritmos brasileiros ao trabalhar com Sater, e logo surgiu a ideia de criar algo diferente.

Desde 2013, quando lançou seu primeiro álbum, o Calango Brabo investe em releituras personalizadas de canções dos repertórios de Luiz Gonzaga, Zeca Baleiro, Zé Ramalho e Alceu Valença e também em composições próprias. Ele se vale de seu vasto conhecimento das técnicas do rock pesado para oferecer ao ouvinte uma fusão entre gêneros das mais viáveis.

Um bom exemplo é seu arranjo para Telegrama, hit de Zeca Baleiro, que ganhou elementos de Eye Of The Tiger, hit do grupo americano Survivor em 1982 e celebrizada graças ao filme Rocky III, de Silvester Stallone.

Outra marca do trabalho da banda, que também inclui Ivan Jubram (baixo) e Felipe Cappia (teclados) em sua formação fixa, é o uso por Daniel nos shows de um instrumento apelidado por ele de guitarras siamesas, que são duas guitarras acopladas em formato de V que exigem do músico uma técnica toda especial. Ele já participou de vários programas de TV apresentando esse instrumento inusitado.

O Calango Brabo investe no seu lado autoral lançando singles no Spotify, como Universo em Mim, Boi da Cara Preta e Ventania e a Mulher Diaba. Eles se apresentarão no próximo dia 24 (sábado) às 18h na Casa de Cultura do Butantã (Rua Junta Mizumoto, nº 13), com entrada gratuita.

Telegrama– Calango Brabo:

Genival Lacerda, 89 anos, o rei eterno do forró de duplo sentido

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Por Fabian Chacur

Uma das diversas variantes do forró leva como subtítulo “duplo sentido”, cujas letras investem na semelhança entre algumas palavras para dar a entender uma coisa ao ouvinte, tentando disfarçar essa intenção sempre escancarada. Presente há décadas no imaginário do povo brasileiro, esta vertente teve como seu principal nome o paraibano Genival Lacerda, que nos deixou nesta quinta-feira (7) no Recife (PE) aos 89 anos, após mais de um mês internado por causa da covid-19. Uma grande perda para a nossa cultura.

Nascido em Campina Grande (PB) em 15 de abril de 1931, Genival iniciou sua carreira musical nos anos 1950, quando se mudou para o Recife, onde gravou seu primeiro disco. Aceitando a sugestão de seu concunhado, o célebre e genial Jackson do Pandeiro, ele se mudou para o Rio de Janeiro em 1964, trabalhando em casas de forró e tentando ampliar os seus horizontes profissionais. Foi duro, mas enfim ele conseguiu.

Isso ocorreu em 1975, quando Severina Xique-Xique, sua composição em parceria com João Gonçalves, tomou conta de todo o país com sua letra bem-humorada e com o refrão grudento “ele tá de olho é na boutique dela”. Além da música ser muito boa em seu estilo, também a ajudou o fato de Genival ter uma forte presença cênica, com direito a roupas coloridas e a indefectível dança balançando sua barriga protuberante.

Presença frequente nos programas populares de TV nos anos 1970 e 1980, o artista paraibano emplacou uma série de hits, entre os quais Mate O Véio Mate, Quem Dera, Radinho de Pilha e inúmeros outros, todos investindo na ala mais dançante do forró e com versos irreverentes beirando (e muitas vezes ultrapassando) o politicamente incorreto. Mas sua simpatia e carisma sempre o ajudaram a superar possíveis problemas.

Uma das marcas registradas de Genival Lacerda foi sua capacidade de se reinventar e de estar sempre aberto a parcerias com outros artistas. Em 1988, por exemplo, ele marcou presença no primeiro LP solo do roqueiro Marcelo Nova, na faixa A Gente é Sem-Vergonha. Com Zeca Baleiro, gravou em 1997 O Parque de Juraci, faixa de Por Onde Andará Stephen Fry?, álbum de estreia do cantor e compositor maranhense.

Em 2010, foi a vez de Ivete Sangalo registrar um dueto com ele, a divertida Chevette da Menina, na qual brincam com o fato de o nome do carro rimar com o da cantora. E teve também uma parceria de Genival com o impagável Falcão, Forró Cheiroso, que saiu no álbum Casa do Forró, de 1998.

Mas o momento mais curioso de sua carreira ocorreu na metade dos anos 1990, quando o DJ Cuca fez uma versão dance de Rock do Jegue. A versão fez tanto sucesso que gerou o álbum Forró Dance By Genival Lacerda, lançado pela gravadora Paradoxx. Para divulgar essa música, ele chegou a ir em programas de TV vestido com uma versão forrozeira de um MC de dance music, incluindo até aqueles bonés típicos.

Mas esse seu lado pop não tirou dele o respeito por parte dos fãs do forró mais tradicional, o que pode ser comprovado pelo fato de ele participar de programas de TV dedicados à música brasileira de raiz, como o de Rolando Boldrin, por exemplo. Ele conseguia agradar ao povão mais simples e aos mais sofisticados.

Rock do Jegue (Cuca Mix)- Genival Lacerda:

Filpo Ribeiro e Feira do Rolo é atração do Canto da Ema (SP)

Filpo Ribeiro (com a rabeca) e A Feira do Rolo - Foto Rodrigo T_ Marques (2)-400x

Por Fabian Chacur

Há três anos na estrada, Filpo Ribeiro e a Feira do Rolo estão lançando o seu primeiro CD. Intitulado Contos de Beira D’Água, o álbum traz 10 faixas que apresentam o grupo misturando diversos ritmos brasileiros. O lançamento em São Paulo será nesta quinta-feira (6) às 20h30 no Canto da Ema (avenida Brigadeiro Faria Lima, nº 364- Pinheiros- fone 0xx11-3813-4708), com ingressos de R$ 28,00 a R$ 36,00.

O quarteto tem como base a capital paulistana, e conta com dois naturais da cidade e dois paraibanos. Os paulistanos são Filpo Ribeiro (vocal, rabeca, viola, pífano e guitarra) e Marcos Alma (piano e baixo), sendo os nordestinos Guegué (bateria e “percuteria”) e Diogo Duarte (trompete, triãngulo e vocais). Experientes, eles individualmente participaram de trabalhos de Gilberto Gil, Dominguinhos, Naná Vasconcelos, Maurício Pereira, Ney Matogrosso, Mutinho etc.

Em sua musicalidade, o quarteto demonstra muito bem aproveitadas influências de forró, coco, samba de roda, fandango caiçara e folia de reis, valendo-se de instrumentos tradicionais como rabeca, viola de 10 cordas, pífano e zabumba, mas também utilizando guitarra, baixo, trompete e o piano Fender Rhodes. Filpo é o principal compositor do time, mas Marcos Alma e Guegé também contribuem nesse quesito.

Rabo de Arraia (clipe)- Filpo Ribeiro e a Feira do Rolo:

Trio Pé de Mulambo faz show grátis em SP

Por Fabian Chacur

Quem curte forró tocado com criatividade e inspirado nas raízes do gênero tem um belo programa neste domingo (30) em São Paulo. E de graça! O trio Pé de Mulambo será a atração no Centro de Tradições Nordestinas (rua Jacofer, 615- Bairro do Limão- fone 0xx11-3488-9400). O power trio forrozeiro está divulgando o repertório de Giro Solto, CD lançado pelo selo Cooperativa.

Na estrada desde 2007, o Pé de Mulambo é integrado por Filpo Ribeiro (rabeca, viola caipira e vocal, natural de São Paulo-SP), Guluga (percussão, baixo, violão e vocal, de Recife-PE) e Rone Gomes (vocal e percussão, oriundo de Olinda-PE). Desde o início, a proposta do grupo é misturar elementos de várias vertentes do forró e de outros gêneros, de forma crua e estilosa.

Os instrumentos são utilizados de forma diversificada, dando ao grupo uma musicalidade e estilo que eles autodenominaram de forma bem-humorada como “pé de serra power trio”. O primeiro CD deles saiu em 2011, Segura Essa Munganga Aí, Menino!, e rendeu boa repercussão no meio da música independente com seu estilo agreste, pé no chão e swingado.

Giro Solto, o mais novo álbum, saiu com o selo criado pela Cooperativa de Música de São Paulo. O show no Centro de Tradições Nordestinas (CTN) certamente incluirá faixas desses dois trabalhos, entre as quais (entre outras) provavelmente estarão Canto Torto I e II, Barulhinho Bom, Éter do Desejo, Giro Solto e Baião Alinhado.

Conheça vários vídeos do trio Pé de Mulambo:

Dominguinhos, um xodó da música que se vai

Por Fabian Chacur

Em abril de 2011, tive a honra de cobrir o show que Dominguinhos realizou no Palco do Forró, durante a Virada Cultural 2011 (leia o texto aqui). A dignidade e energia com que ele conduziu aquela apresentação me emocionou. Pois nesta terça-feira (23) ele infelizmente nos deixou. Que perda para o mundo musical!

Naquele show o sanfoneiro já penava com um câncer contra o qual lutou durante seis longos e sofridos anos. A coisa ficou feia mesmo a partir do ano passado, e o músico oriundo de Garanhuns (PE) já estava internado desde janeiro. Era muito sofrimento para alguém que proporcionou tantas alegrias a seu povo. Chegou a hora do aconchego final.

Tomei contato direto com a música de Dominguinhos pela primeira vez através do estouro nacional da irresistível Eu Só Quero Um Xodó, parceria dele com Anastácia gravada há exatos 40 anos por Gilberto Gil e registrada pelo autor com igual competência. Anos depois, tive a honra de entrevistá-lo mais de uma vez. Que honra e que delícia. Um ótimo papo, sempre.

Nascido em 1941, Dominguinhos teve como padrinho musical o genial Gonzagão, e pode ser considerado como seu mais legítimo herdeiro. Grande e versátil músico, tinha requintes jazzísticos que o levaram a tocar em shows e gravações com luminares do naipe de Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso, Fagner, Elba Ramalho, Wagner Tiso e muitos outros.

Simpático, inteligente e extremamente humilde, Dominguinhos era daqueles raros artistas que, como o saudoso Velho Lua, encantava a todos, dos mais cultos aos mais simples, dos mais ricos aos mais pobres. A todo aquele ser humano capaz de se sensibilizar com música de qualidade tocada ao mesmo tempo com técnica e emoção.

Além de Eu Só Quero Um Xodó, compôs com parceiros do naipe de Anastácia, Chico Buarque, Gilberto Gil e Nando Cordel maravilhas como Isso Aqui Tá Bom Demais, Tenho Sede, De Volta Pro Aconchego, Xote da Navegação e Lamento Sertanejo, só para citar algumas. Também era capaz de reler com originalidade e categoria hits alheios.

De quebra, ainda apresentou, na fase final de sua vida, o essencial programa de TV O Milagre de Santa Luzia, no qual mostrava a trajetória dos maiores nomes da sanfona brasileira, desde os clássicos até os craques das novas gerações. Generoso, sempre soube dividir os louros da fama com outros colegas de profissão, tal qual seu padrinho sempre fez vida afora.

Foram mais de 55 anos de carreira que não poderiam acabar agora. Infelizmente, assim é o destino. Mas a herança que esse gênio da raça nos deixa é suficiente para que sua obra não só seja devidamente cultuada, mas que também possa inspirar novos talentos a seguir adiante essa bela missão de emocionar os fãs da música. Descanse em paz, mestre!

Ouça Eu Só Quero Um Xodó, com Dominguinhos:

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