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Vão tirar o Tim Maia do caixão; chama o síndico!

Por Fabian Chacur

Na última terça-feira (22), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) cometeu um ato no mínimo bizarro.

Eles querem permitir a exumação do corpo do cantor e compositor Tim Maia, que nos deixou em 1998.

A ação foi autorizada devido a um pedido feito em nome de uma suposta filha do saudoso músico, que entrou com uma ação de investigação de paternidade.

Os herdeiros de Maia recorreram da decisão, oferecendo como argumento o fato de que os exames poderiam ser feitos com material genético fornecido por eles próprios, mas o relator não quis nem saber.

Ele (o relator), inclusive, rejeitou o óbvio (e cabível) argumento de que a exumação causará um desrespeito aos familiares (e aos fãs, entre os quais orgulhosamente me incluo), 13 anos após o óbito.

Juro que não entra na minha cabeça esse tipo de disputa.

É lógico que somos levados a imaginar que a única motivação aqui é a financeira, ou seja, a suposta filha quer é parte da possível herança deixada por Dom Maia.

Afinal de contas, o intérprete de Primavera e tantos outros sucessos não terá a oportunidade de conhecer ou mesmo conviver com a eventual filha.

Em função disso, vou dar uma sugestão meio sacana aqui.

Se por ventura alguém entrar com esse tipo de ação, ganhar e for constatado que o artista em questão tem mesmo é dívidas e mais dívidas, o dito “herdeiro” deveria ter seus bens confiscados para ajudar a pagar as contas.

Que tal? Afinal, quem pede o que quer, de repente deveria poder levar como prêmio o que não quer…

Que a Justiça julgue isso de forma realmente correta, que não é a minha função. Mas que tirar o Síndico do caixão dessa forma é no mínimo algo grotesco, lá isso é.

Prefiro ouvir e ver o genial Tim Maia, que tive a honra de entrevistar algumas vezes, cantando seu clássico Do Leme ao Pontal, ao vivo. Vem comigo!

Os fantásticos álbuns Tim Maia Racional Vols 1 e 2 estão de volta às lojas

Por Fabian Chacur

Ao contrário da Coleção Chico Buarque, em que todos os 20 volumes eram relevantes (mesmo que alguns mais do que outros), a coleção da Editora Abril dedicada ao genial Tim Maia prima pela irregularidade.

Dos 15 volumes que integram o projeto, pelo menos uns nove são absolutamente dispensáveis.

Além disso, três deles, realmente essenciais (os de 1970, 1971 e 1973) integram a caixa Tim Maia Universal, que saiu no final do ano passado e que inclui oito CDs realmente irrepreensíveis e um DVD ao vivo.

A real importância do lançamento da Abril fica por conta dos álbuns Tim Maia Racional Vols 1 e 2.

Lançados em 1975 e 1976, eles são paradoxais, pois incluem músicas e vocais sublimes colados a letras pífias que divulgavam uma seita da qual o Síndico fez parte na época.

As sonoridades englobam soul, funk, blacksploitation (na linha da trilha de filmes como Shaft) e várias vertentes da MPB, com direito a músicas fantásticas como Imunização Racional (Que Beleza), O Caminho do Bem, Rational Culture e Guiné-Bissau, Moçambique e Angola Racional.

Os dois álbuns permaneceram fora de catálogo durante décadas.

O primeiro volume foi relançado há alguns anos pela Trama, enquanto o segundo permanecia inédito até esta semana.

A se lamentar, apenas os textos que acompanham os dois livrinhos/discos, frequentemente redundantes e confusos, e alguns erros de informação.

Um é imperdoável. Ao tentarem contextualizar a época em que os dois discos foram lançados, colocaram um texto sobre os Bee Gees ilustrado com uma foto de Peter Frampton e sua banda. Que bola fora!

Deslizes à parte, vale a pena gastar os R$ 14,90 de cada volume dessa dobradinha Racional, pois a qualidade musical supera qualquer vacilo editorial.

Dos próximos, só recomendo com entusiasmo o excepcional Tim Maia Disco Club (1978), lançado originalmente pela Warner e com direito aos petardos Sossego e A Fim de Voltar.

Dos outros, no máximo pode ser válido adquirir os simpáticos Tim Maia Interpreta Clássicos da Bossa-Nova (1990) e What a Wonderful World (1997), com releituras de clássicos da música pop internacional.

E aproveito para dar um palpite.

Só quem comprar os 14 primeiros volumes terá direito ao inédito Tim Maia Racional 3, que inclui sobras das gravações dos dois discos já conhecidos.

No entanto, como a Sony Music entrou na parceria para lançar esse trabalho, não irei estranhar se, alguns meses após o encerramento da Coleção Tim Maia, esse álbum chegar em edição individual às lojas. Eu vou arriscar…

Ouça O Caminho do Bem, de Tim Maia Racional 1:

Caixa reúne clássicos do imortal Tim Maia

Por Fabian Chacur

De todos os músicos brasileiros em todas as eras, Sebastião Rodrigues Maia (1942-1998) foi quem melhor conseguiu assimilar os parâmetros da soul/funk/black music americana.

Mais. Tim Maia conseguiu misturar essa sonoridade ao caudaloso manancial da música brasileira, gerando um produto único.

O legado desse eterno síndico da MPB sem fronteiras continua indispensável.

A gravadora Universal acaba de lançar uma caixa com 8 CDs e um DVD que compila uma parte importante desse potente e inesgotável acervo sonoro.

São oito álbuns de carreira, a saber: Tim Maia (1970), Tim Maia (1971), Tim Maia (1972), Tim Maia (1973), Tim Maia (1976), Tim Maia (1980), O Descobridor dos Sete Mares (1983) e Sufocante (1984).

Se ele não tinha criatividade para dar nome a seus álbuns, o mesmo não ocorria na hora de compor as canções e gravá-las nos mesmos.

Os discos lançados entre 1970 e 1973 foram seus quatro primeiros, nos quais não só solidificou rapidamente sua fusão de funk, soul e jazz com samba, forró, baião e o que mais pintasse, como se mostrou uma verdadeira usina de sucessos.

Inteligente, Dom Maia sempre soube se cercar de músicos e compositores com seu mesmo nível de exigência artística, nomes como Hyldon, Cassiano e Márcio Leonardo, entre outros.

Resultado: uma sequência de tirar o fôlego de clássicos do pop brasileiro, entre os quais Primavera (Vai Chuva), Azul da Cor do Mar, Cristina, Coroné Antonio Bento, A Festa de Santo Reis, Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar), Canário do Reino e Réu Confesso, só para citar alguns.

Após essa fase inicial iluminada, Tim entrou na seita Universo em Desencanto e lançou dois discos independentes fortemente ligados ao soul psicodélico, os antológicos Tim Maia Racional Volumes 1 e 2.

Livre dessa crença, Tim voltou à antiga Polygram em 1976 com um disco no qual mantinha fortes elementos da sonoridade dos álbuns “Racionais”, com direito às marcantes Rodésia e Dance Enquanto é Tempo.

Em 1980, após gravar discos de sucesso na Som Livre, Warner e EMI Odeon, Dom Maia retornou à Polygram para mais um trabalho impecável, no qual se destacam os hits Está Difícil de Esquecer e Você e Eu Eu e Você (Juntinhos).

Em 1983, Tim resolveu experimentar de novo a independência, assinando com o pequeno selo Lança, cujo acervo depois seria incorporado ao da Polygram/Universal.

Embora com uma pegada um pouco mais pop, o Síndico não perdeu a inspiração, gravando pelo menos dois momentos antológicos de sua carreira neste álbum, a sacolejante O Descobridor dos Sete Mares e a balada matadora Me Dê Motivo.

Sua ligação com a Lança acabou em 1984 com o lançamento de Sufocante, disco que, embora seja ótimo, é provavelmente o mais fraco desse pacote. Mas garanto que ele é melhor do que discografias inteiras de muitos artistas metidos a besta por aí… Destaco as faixas Bons Momentos e Quero Te Dar (Desejos) como os pontos altos.

Como belo complemento ao pacote de áudio, a caixa Universal inclui um DVD que havia sido lançado anteriormente pela Sony BMG em 2007.

Trata-se de Tim Maia In Concert, show gravado ao vivo em 1989 no Hotel Nacional do Rio no qual foi acompanhado por uma orquestra e sua banda Vitória Régia.

Com qualidade técnica ótima, o show foi exibido como especial pela Globo na época, e traz no repertório momentos marcantes do repertório do genial cantor, compositor e músico, como Vale Tudo, Do Leme Ao Pontal, Sossego, Coroné Antonio Bento e Me Dê Motivo.

Os CDs incluem encartes com letras e fichas técnicas. Também faz parte do pacote um livreto com 16 páginas trazendo fotos e informações sobre a carreira de Dom Maia e dos discos.

Universal, a caixa, é um verdadeiro tesouro que vale cada centavo que você pagar nela. E o mais incrível é pensar que, mesmo contendo oito CDs e tantas músicas boas, inclui apenas uma parte da história. O cara era, com o perdão da palavra chula, foda mesmo!

Veja Você no especial da Globo, com Dom Maia arrasando:

Lembranças de Dom Maia, o eterno Síndico

Por Fabian Chacur

Nos próximos dias vou postar aqui um comentário sobre a sublime caixa Universal Tim Maia, que reúne oito CDs e um DVD de Tim Maia (1942-1998), um dos criadores e o rei absoluto da soul music brasileira.

Antes disso, no entanto, vou relembrar de algumas passagens que tive com essa figura durante minha carreira jornalística.

O primeiro encontro com o mestre deveria ter ocorrido em 1985, quando ele estava lançando o álbum Tim Maia, que inclui os sucessos Leva e Pede a Ela.

Lembro que cheguei no escritório da gravadora RCA (cujo acervo hoje pertence à Sony Music), que ficava na rua Dona Veridiana, no bairro paulistano de Santa Cecília, ansioso.

Afinal, ouço as músicas desse cidadão desde que eu era apenas um moleque.

Ao chegar na gravadora, a má notícia: o cara cancelou o papo que teria com a imprensa.

As boas notícias: ganhei o LP do cara, o primeiro disco que recebi de uma gravadora, e conheci a então assessora de imprensa da RCA, Miriam Martinez, que com o decorrer dos anos se tornou uma das pessoas mais importantes na minha vida profissional, além de grande amiga.

A chance de conhecer pessoalmente Dom Maia ocorreu no final dos anos 80, após uma apresentação dele no então Palace (hoje, Citibank Hall).

O show foi bacana, mas recheado daqueles “precisa afinar o baixo” que marcavam sua forma de interagir com a sua Banda Vitória Régia, uma das melhores da história da soul music brazuca.

Após a apresentação, Miriam me convidou para ir aos camarins. E lá, apertei a mão do mestre.

Ele parecia em outra dimensão. E não era para menos.

Em uma das mãos, segurava uma daquelas garrafinhas de uísque para se levar em bolsas e miguelar a consumação em bares e casas noturnas de preços mais caros.

Na outra, um baseado do tamanho de uma semana. Aliás, a nuvem nos camarins era digna da poluição paulistana…

O terceiro encontro ocorreu lá pelos idos de 1990, quando o Síndico estava lançando seus trabalhos por seu próprio selo.

A entrevista coletiva foi realizada em um hotel das antigas situado no centro de São Paulo.

Coincidência ou não, boa parte dos presentes estava acima do peso, incluindo eu, que se hoje sou gordinho, na época era um digno seguidor de Jotalhão e outros elefantes célebres.

Ao entrar na sala onde nos concederia a entrevista, o intérprete de sucessos como Você e Canário do Reino olhou para os presentes e soltou a frase clássica:

– Nossa, só tem gordo em São Paulo!

Nem é preciso dizer que abri a minha matéria, feita para o extinto Diário Popular, exatamente descrevendo essa “entrada triunfal” do cara.

Na época, ele estava divulgando o disco com releituras da bossa nova, e no final da coletiva, deu discos autografados para todos os presentes.

Minha última historinha com Tim ocorreu por volta de 1993, quando a música Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) voltou às paradas e ele tinha um show agendado para São Paulo.

A apresentação rolaria em um final de semana, e entrei em contato com o fone que tinha em minha agenda. O próprio atendeu. Não perdi tempo.

– E aí, Tim, tudo bem? Seguinte: você vai fazer show aqui em São Paulo no final de semana e eu gostaria de fazer uma entrevista por telefone com você. Será que rola?

Resposta do figura:

– E aí, Fabian, tudo bem? Olha, liga para a minha assessora de imprensa, a (n. da r.: esqueci o nome da figura…) no fone x, que ela marca.

Lógico que eu não iria deixar a coisa assim, pois todos sabíamos que Tim vivia um momento no qual suas entrevistas se tornavam raras.

– Mas Tim, será que não daria para ser agora? Sabe como é, não vou demorar, e você tem negado entrevistas nos últimos tempos…

A resposta dela foi imediata:

– Como não vou dar entrevista? Vou dar, sim! Pode ligar para a minha assessora. Tá pensando que eu sou o Michael Jackson? Liga para ela, que ela marca. Como não vou dar entrevista?

E lá foi esta besta, digo, eu, ligar para a tal assessora.

– Oi, tudo bem? Eu sou o Fabian, do Diário Popular, e foi o próprio Tim quem me deu o seu número. Eu quero marcar uma entrevista com ele para falar sobre o show que ele fará aqui em São Paulo.

Aí, a resposta surrealista:

– Olha, Fabian, infelizmente o Tim Maia não irá dar entrevistas para divulgar esse show, viu? Vou ficar te devendo.

E não deu mesmo! Aliás, ele foi aparecer no programa do Jô Soares no início da semana seguinte após o show. Dá para encarar?

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