renato_russo3.jpgLogo de cara, para não gerar comentários do tipo “insensível” ou “desrespeitoso”, deixo claro que lamento muito o fato de Renato Manfredini Jr. ter nos deixado há dez anos, em 11 de outubro de 1996. Sei a dor de perder entes queridos, pois já perdi pai, mãe e irmão. Mas isto aqui é site de música, então, vamos ao que interessa, a pergunta que não quer calar: dez anos após a morte de seu líder, o que nos resta da Legião Urbana? Mais ou menos o mesmo do que existia na época, ou seja, pouco ou quase nada.

Desde o seu início, nos anos 80, Legião Urbana sempre foi sinônimo de culto messiânico, de poesia de plástico, de musicalidade tosca e derivativa. Os fraquíssimos músicos Dado Villa-Lobos (que ironia um guitarrista tão limitado ter um sobrenome dessa nobreza em termos musicais…) e Marcelo Bonfá, acompanhados pelos Carlos Trilhas e Negretes da vida, só geraram pastiches absurdamente iguais ao som de outros artistas. Ou alguém vai ter a cara dura de negar que Ainda é Cedo é U2 cuspido e escarrado? Ou que Índios é New Order mal xerocado? Ou ainda que Tempo Perdido chupinha The Smiths sem a menor cerimônia? E por aí vão os exemplos. E não estou falando em influências, algo plenamente normal em música, e sim em cópias descaradas, malfeitas, sem imaginação.

Quanto às letras, Renato Russo sempre foi muito inteligente, e soube escrever gororobas panfletárias e messiânicas que conseguiram cativar adolescentes incautos, que não tiveram a oportunidade de conferir poetas roqueiros de verdade, tipo Bob Dylan, Cazuza, John Lennon ou Raul Seixas. Não por acaso, sempre chamei o grupo de Legião Urbana da Boa Vontade, e seu líder, de Pastor Russo. Quem leu as inúmeras entrevistas que o cantor e compositor deu, em seus 35 anos de vida, sabe que ele nunca negou seu lado manipulador, marqueteiro, maligno, até. E conseguiu atingir seu intuito, graças a um inegável talento para vomitar clichês, uma voz ótima e de dicção perfeita e um carisma também difícil de ser rejeitado. Lógico que, nos discos gravados pela Urban Legio, há bons momentos, tipo Eduardo e Mônica , Música Urbana 2 , Metal Contra As Nuvens , mas são tão poucos, comparados com os ruins, que não justificam tanto culto. Ser humano Renato Russo à parte, Legião Urbana não faz falta alguma ao rock brasileiro atual. Que descanse em paz.