Por Fabian Chacur

 

Foram sete anos de espera para um novo disco de estúdio só de inéditas de João Bosco. O anterior foi Malabaristas do Sinal Vermelho. E valeu a pena aguardar pacientemente. Não Vou Pro Céu Mas Já Não Vivo No Chão (MP,B/Universal), já está nas lojas, e equivale a mais um momento de brilhantismo em uma carreira pontuada por eles. A boa nova é a volta da parceria com o letrista e poeta Aldyr Blanc, com quem ele escreveu até meados dos anos 80 maravilhas como O Bêbado e a Equilibrista, Dois Pra La Dois Pra Cá, Escadas da Penha, De Frente Pro Crime, Bijouterias, Incompatibilidade de Gênios e tantas outras. Cinco tem o filho Francisco Bosco (um ótimo e inspirado letrista) como co-autor, duas, o poeta Carlos Rennó e uma, o sambista Nei Lopes. Ingenuidade, única que não leva a sua assinatura (é de Serafim Adriano), foi gravada originalmente em um disco de Clementina de Jesus, em 1976. O disco traz em seu DNA uma abordagem sutil e minimalista, em termos instrumentais. O sempre maravilhoso violão de nylon de Bosco é acompanhado por poucos instrumentos, e às vezes, surge ou sozinho, ou apoiado por uma guitarra ou outro violão. Percussão aparece em poucos momentos, com o violão também se incumbindo da mesma, quando necessário. Mas o clima musical é predominantemente suave, doce, romântico, indo do samba ao quase bolero, com os vocais de João explorando a linha melódica de cada canção com uma classe admirável. O CD é repleto de momentos inesquecíveis, como a maravilhosa Perfeição (João Bosco/Francisco Bosco), certeira ode a um amor. Quem curte o lado mais rítmico do violão desse mestre vai viajar ao ouvir Jimbo No Jazz (João Bosco/Nei Lopes), que já nasce como clássico, em seus jogos de palavras e versos como “e o jazz e o samba e a milonga e o tango e o candombe e a rumba e o mambo tudo é lá do Congo”. A dobradinha Bosco/Blanc volta com tudo, como provam as sublimes Navalha e Sonho de Caramujo, enquanto o fim de um amor e a preparação para o próximo inspiraram a inteligente  Pronto Pra Próxima (João Bosco/Carlos Rennó). Como um todo, Não Vou Pro Céu Mas Já Não Vivo No Chão é um daqueles discos que merecem ser ouvidos com atenção e prazer repetidas vezes, para absorver cada acorde, cada melodia, cada verso. Como os clássicos da MPB de antigamente, só que feito agora, em pleno 2009. Salve, João Bosco!

 

Incompatibilidade de Gênios com João Bosco ao vivo:

 

 

http://www.youtube.com/watch?v=TOmWrEYbbmg