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Por Fabian Chacur

Pode um cantor ser um dos favoritos de artistas tão distintos entre si como Frank Sinatra, Roberto Carlos, Amy Winehouse e Elvis Costello? Melhor do que isso: atravessar décadas e até mesmo ir de um século para outro se mantendo relevante? Pois a resposta para estas duas questões pode ser dada com um só nome: Tony Bennett. Esse mestre, que nos deixou nesta sexta (21) aos 96 anos, sai de cena fisicamente, mas de forma alguma em termos de legado artístico.

Anthony Dominic Benedetto (seu nome de batismo) nasceu em Nova York em 3 de agosto de 1926, e desde criança mostrava vocação para a música. Entre 1944 e 1946, teve de prestar o serviço militar, e isso envolveu ter de lutar na 2ª Guerra Mundial, escapando várias vezes da morte prematura e se tornando um pacifista convicto desde então. Ao voltar à vida civil, decidiu se dedicar à vida artística, inclusive estudando técnicas de canto.

Em 1951, contratado pela Columbia Records (hoje, parte do conglomerado Sony Music), emplacou o seu 1º hit, Because Of You, e inicialmente deixou o estilo que fazia seu coração bater mais forte, o jazz, em prol de canções pop românticas que dominavam as paradas de sucesso na época. Ralph Sharon, o pianista que passou a tocar com ele em 1957, foi aos poucos o convencendo a voltar ao jazz, o que ocorreria aos poucos.

Mesmo lutando contra o predomínio do então emergente rock and roll, Bennett se manteve fazendo sucesso, e emplacou seu hit mais emblemático dessa fase em 1962. Curiosamente, I Left My Heart In San Francisco, que já havia sido gravada por outros intérpretes antes, teve menos impacto nos charts, mas permaneceu como uma espécie de cartão de visitas desse seu lado romântico, sempre em seus shows desde então.

Com o estouro dos Beatles e da chamada British Invasion a partir de 1964, os discos de Benedetto foram despencando em termos de vendagens, e isso o levou a aceitar a “sugestão” de sua gravadora em gravar algumas das canções daqueles roqueiros, em álbuns como Tony Sings The Great Hits Of Today! (1970) e Tony Bennett’s Something (1970). Não deu certo.

A década de 1970 viu o intérprete sem seu pianista (que saiu do time no final dos anos 1960) e dispensado da Columbia. Tentou outras gravadoras e até lançou o seu próprio selo, Improv, mas os discos desse período foram solenemente ignorados. Pra piorar, mergulhou nas drogas, e em 1979 teve sérios problemas com a cocaína. Aí, a família de certa forma o salvou.

O filho Danny, que tentava ser cantor e não sentia firmeza nas suas performances, viu que tinha talento para o ramo empresarial, e se tornou o empresário do papai Tony. Aos poucos, foi ampliando os horizontes do cantor, levando-a a cantar em teatros e outros espaços fora do circuito de Las Vegas. Melhor: conseguiu encaixá-lo em programas bacanas de TV.

Com Ralph Sharon de volta e a decisão de mergulhar nos standards do jazz, como sempre quis, Tony Bennett começou seu retorno triunfal aos poucos, quando o álbum The Art Of Excellence (1986) marcou não só o seu retorno à Columbia como também às paradas de sucesso, que não frequentava desde o então longínquo 1972. E isso era só o começo.

Sempre citado por ícones como Frank Sinatra e Roberto Carlos como um dos melhores do ofício, o cantor aos poucos conseguiu não só retomar seu público antigo como adicionou muitos jovens, com álbuns como Perfectly Frank (1992) e Steppin’ Out (1993). Este último lhe rendeu o 1º Grammy desde 1963 (ele faturou 20, em toda a carreira), façanha que MTV Unplugged (1994) superou, ao levá-lo com destaque ao público da emissora musical e com as participações de Elvis Costello e k.d.lang.

A partir daí, nosso querido Benedetto não saiu mais dos holofotes. Suas parcerias com outros artistas se mostraram frequentes e abrangentes, indo de B.B. King a Lady Gaga, passando por Paul McCartney, Diana Krall, Willie Nelson, Stevie Wonder, Christina Aguilera, Amy Winehouse, James Taylor, Elton John, Michael Bublé, Sting e inúmeros outros. Mas só gente do primeiríssimo escalão, e de talento comprovado.

Com o álbum Duets II (2011), que inclui a última gravação de Amy Winehouse, Body And Soul, Bennett atingiu o topo da parada americana de álbuns pela 1ª vez, algo impressionante para um artista então com 85 anos de idade. Ele repetiria a dose com Cheek To Cheek (2014), gravado em duo com Lady Gaga. E foi com ela que o cantor gravou seu derradeiro trabalho, Love For Sale (2021). Os etaristas deviam odiá-lo!

Body and Soul– Tony Bennett e Amy Winehouse: