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O Filho de José e Maria, de Odair José, enfim é reeditado em vinil

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Por Fabian Chacur

Durante 42 longos anos, o álbum O Filho de José e Maria (1977), de Odair José, manteve-se longe do catálogo das gravadoras, tornando-se uma raridade disputada a tapa nos sebos da vida. Isso não impediu esse incrível trabalho de se tornar um dos mais cultuados da carreira deste grande cantor, compositor e músico goiano. Pois agora, finalmente, teremos uma reedição, no formato LP de vinil de 180 gramas, bancada pela Polysom em parceria com a Sony Music, atual detentora dos direitos dos títulos da extinta gravadora RCA Victor.

Em pleno auge de seu sucesso comercial, Odair saiu da gravadora Polydor (atual Universal Music) e foi para a RCA, aceitando uma proposta das mais atrativas em termos financeiros. No entanto, surpreendeu a direção artística de lá ao gravar um álbum totalmente fora do que se poderia esperar. Ele compôs uma ópera-rock inspirada na vida de Jesus Cristo e nos livros de Gibran Kalil Gibram, mas adaptada para os dias atuais, tocando em temas polêmicos como a homofobia, o preconceito e o conservadorismo.

O elenco de músicos que o acompanha é de primeiríssima linha, incluindo o trio Azymuth (que também marcou presença nos seus discos clássicos da Polydor), Hyldon (guitarra), Robson Jorge (piano e Fender Rhodes) e Jaime Além. O resultado é simplesmente brilhante. No entanto, o público dele não estava preparado para um trabalho daquele porte, assim como a gravadora também não soube como divulgá-lo, e o resultado foi um retumbante fracasso.

Com o passar dos anos, O Filho de José e Maria tornou-se cultuado por um público roqueiro e mais sofisticado, e ganhou tanto respeito que levou o artista a fazer alguns shows tocando o seu repertório na íntegra, um deles tendo sido lançado em DVD em parceria com o Canal Brasil.

Lamente-se apenas o fato de esse relançamento ser apenas em vinil. Você só encontra músicas de O Filho de José e Maria em formato CD na hoje raríssima coletânea Grandes Sucessos (2000-BMG Brasil), que inclui 8 das 10 faixas do mais polêmico disco de Odair José.

Meu exemplar deste álbum histórico, autografado posteriormente pelo artista, tem uma história curiosa. Eu o adquiri em uma loja de discos no bairro paulistano da Liberdade no finalzinho dos anos 1980, a preço acessível e estado de novo. A explicação: os LPs naquele local ficavam em um mostruário com apenas a capa, com um papelão dentro da mesma. Eles guardavam os discos separadamente, e você só os tinha na hora que os comprava. Dessa forma, adquiri diversas raridades ultra bem conservadas e a preços ótimos.

Leia mais textos sobre Odair José aqui.

Fora da Realidade– Odair José:

Odair José solta o verbo em mais um belo álbum roqueiro e rebelde

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Por Fabian Chacur

Em 2015, com o álbum Dia 16 (leia a resenha de Mondo Pop aqui), Odair José iniciou uma trilogia roqueira que prosseguiu em 2016 com Gatos e Ratos (leia a resenha de Mondo Pop aqui). Agora, chega a vez de Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio, outro trabalho vigoroso, criativo e com uma assinatura forte e própria. Coisa fina! Uma profissão de fé no nosso velho e bom rock and roll feita no capricho e com letras rebeldes e incisivas.

Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio impressiona bem a partir da embalagem digipack do CD, com direito a encarte caprichado e visual com arte a cargo de Roger Marx que traz desenhos ilustrando a temática das letras. A produção incrível em termos visuais e sonoros conseguiu ser viabilizada graças ao apoio do Proac (programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo), com distribuição a cargo do ótimo selo goiano Monstro Discos, um dos mais ativos do indie rock brasileiro. Aliás, muito legal essa parceria entre eles e um dos mais importantes artistas goianos de todos os tempos.

Com 11 músicas, o álbum teve seu nome criado a partir da união dos títulos das três faixas que o abrem. A sonoridade lembra o rock com tempero blues e hard da década de 1970, pontuado por riffs de guitarra bem bacanas, teclados e a inclusão de gaita e metais aqui e ali. A voz de Odair nunca esteve melhor, algo incrível para quem completou 70 anos em agosto do ano passado. Sinal de que o cara está se cuidando muito bem, especialmente se levarmos em conta a intensidade de cada uma dessas canções.

As letras trazem temas bem atuais unidos a outros bastante presentes na obra do cantor, compositor e músico goiano, mas que também permanecem inseridos no contexto das pessoas. A paixão por descobrir as coisas pelas ondas do rádio (Ouvindo Rádio), a necessidade de dar uma respirada em meio ao caos que vivemos (Hibernar) e a busca do prazer com as “damas da noite” ou com quem quer que seja (Na Casa das Moças, Gang Bang, Liberado, Fetiche) estão em cena.

A obsessão pelas redes sociais é detonada em Fora da Tela, enquanto o lamentável e absurdo apoio do governo atual à liberação geral da posse de armas sofre forte questionamento na virulenta Chumbo Grosso.

O espírito daquele cara que vem do interior para encarar a vida nos grandes centros surge em Rapaz Caipira e Imigrante Mochileiro, e o dia-a-dia nessas cidades inspirou Pirata Urbano. Além de uma excelente banda, o disco também traz participações de Toca Ogan e Jorge du Peixe (da Nação Zumbi) e das cantoras do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira. Timaço que dá show de rock.

Após viver longos períodos fora da mídia e sem poder fazer aquilo que realmente desejava, hoje Odair José usufrui com categoria da liberdade artística que conquistou a duras penas, como prova esse muito bacana Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio. Quem sai no lucro somos nós. Que venham mais coisas boas pela frente, quem sabe um DVD gravado ao vivo com esse repertório roqueiro ou coisa do gênero. Pois agora, quem dá as cartas é ele. Melhor assim!

Ouça Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio na íntegra:

Odair José mostra músicas de seu novo álbum em São Paulo

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Por Fabian Chacur

Odair José vive nos últimos anos uma fase das melhores. Após lançar o elogiado Dia 16 (2015), ele não demorou muito para nos oferecer um sucessos à altura. Trata-se de Gatos e Ratos (cuja capa ilustra esse post), outro petardo com forte tempero rocker (leia a resenha de Mondo Pop aqui). Ele mostra o novo repertório em show em São Paulo nesta sexta (3) a partir das 23h no Cine Joia (praça Carlos Gomes, nº 82- Liberdade- fone 0xx11-3101-1305), com ingressos a R$ 50,00 (meia) e R$ 25,00(meia). A abertura fica por conta de Pélico.

O cantor, compositor e músico goiano estourou na década de 1970 graças a canções diretas e contagiantes como Cadê Você, Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, Eu, Você e a Praça e inúmeras outras. Em 1977, gravou o ousado O Filho de José e Maria, ópera-rock que não foi muito bem compreendida na época, mas que com o decorrer dos anos virou um trabalho extremamente cult e elogiado. Ele também teve o apoio de Caetano Veloso, com quem cantou em dupla no festival Phono 73 a música Eu Vou Tirar Você Desse Lugar.

Rotulado como brega e popularesco de forma injusta, começou a ser devidamente reconhecido a partir do finalzinho da década de 1980. Desde então, já mereceu até disco-tributo por parte de artistas de várias gerações do pop-rock brasileiro, e passou a investir em sua vertente roqueira com mais liberdade e inspiração. Seu show será aberto pelo paulistano Pélico, na estrada há mais de dez anos e atualmente divulgando seu mais recente CD, Euforia (2015).

Gatos e Ratos- Odair José (CD em streaming):

Gatos e Ratos traz Odair José com rock básico e tema irado

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Por Fabian Chacur

Odair José sempre incluiu boas doses de rock em seu trabalho, vide o incrível e injustiçado O Filho de José e Maria (1977). De uns tempos para cá, no entanto, esse gênero musical virou o eixo de sua criação, vide o excelente e muito elogiado Dia 16 (leia a resenha de Mondo Pop aqui). Seu novo álbum, Gatos e Ratos, equivale a mais rock na fogueira. Rock do bom!

A concepção sonora do novo trabalho deste consagrado cantor, compositor e músico goiano aposta em uma sonoridade crua, com a presença de apenas três músicos: o próprio Odair (vocal e guitarra), o coprodutor (ao lado de Conrado Ruther) Júnior Freitas (guitarra, baixo, teclados e piano) e Caio Mancini (bateria e percussão). Muitos riffs e solos de guitarras ótimos, vocais bem entrosados e pequenas sutilezas aqui e ali, para dar um colorido e um toque de classe.

A temática das letras é baseada no inconformismo com a situação atual do mundo, no qual o ser humano não se respeita e não respeita a natureza, o próximo, o bem-estar, coisa alguma. Irado, o artista libera sua visão com letras fortes, simples em seu formato para que todos possam entender, mas sem cair na banalidade. Nada de tomar partidos ou de panfletarismo. O que ele defende é um respeito que parecemos ter perdido por tudo e por todos.

São dez músicas, com destaques para a ótima faixa-título, as ardidas Carne Crua e Cobrador de Impostos e a virulenta Segredos. Um momento particularmente inspirado é a ácida balada Livre, com guitarra slide a la George Harrison e letra na qual fica claro que nem sempre ser livre é o melhor para nós. Pelo menos, não no caso específico que ele aborda. Gatos e Ratos é papo reto bem tocado e bem cantado. Odair rules!

Gatos e Ratos- Odair José (CD em streaming):

Odair José dá aula de talento e energia no novo CD Dia 16

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Por Fabian Chacur

Nada como o tempo para curar as feridas e colocar as pessoas nos lugares em que mereceriam estar. Isso aconteceu com o cantor, compositor e músico goiano Odair José. Depois de décadas deixado de lado pela crítica, hoje ele recebe a reverência que sempre mereceu. Reenergizado, o cara agora nos proporciona Dia 16, novo CD lançado pelo selo Saravá Discos que é desde já um dos melhores álbuns do ano. Discaço de cabo a rabo.

O novo trabalho sai meses após a gravadora Universal Music ter colocado no mercado discográfico uma excelente caixa contendo os quatro álbuns que Odair lançou pela extinta Polydor nos anos 1970 (leia a resenha de Mondo Pop aqui). Neles, música popular de ótima qualidade e executada por músicos como os do seminal grupo Azymuth.

Desta vez, a voz por trás de hits como Cadê Você e A Noite Mais Linda do Mundo (Felicidade) se cercou de um timaço de músicos capitaneados pelo experiente produtor, guitarrista e multi-instrumentista Alexandre Fontanetti (conhecido por seu trabalho ao lado de Rita Lee no álbum Bossa N’ Roll, nos anos 1990). Com inspiração roqueira vinda de fontes como Beatles, AC/DC, Neil Diamond, Roy Orbison e até Jovem Guarda, o astro goiano soltou o verbo em 11 composições recentes e uma inédita dos anos 1970 (Fera).

A festa começa com a demencial Dia 16, rockão de tirar o fôlego interpretado por um cara com 66 anos bem vividos que soa como se tivesse uns 30, se tanto. Esse pique se mostra em outros momentos mais rockers do CD, como Sem Compromisso, Começar do Zero e Deixa Rolar, para agitar quem gosta de som direto e na veia.

A levada folk e mais romântica, outra das marcas de Odair, aparece bacana em Cores (que mistura um toque de George Harrison na carreira solo com ecos do standard pop Blue Moon), no rock balada Morro do Vidigal e em Lembro, esta última com um tempero que lembra um pouco a fase Strawberry Fields Forever dos Beatles.

Um dos trunfos de Odair José é sempre se valer de letras (escrita por eles ou outros parceiros) nas quais a simplicidade que não ofende a inteligência de seus ouvintes prevalece, tocando em temas polêmicos com categoria. Essa é a marca da ótima A Moça e o Velho, que fala dos romances entre homens mais velhos com garotas bem mais novas.

Dia 16 é essencialmente um disco de pop-rock bem concatenado, composto por repertório bacana e produção na medida, sem exageros nem falhas que mostram que a categoria desse velho mestre da canção popular brasileira continua intacta e capaz de oferecer boas surpresas a seus inúmeros fãs. Ou, como diria o poeta em latim, brega é a mãe…

Ouça o CD Dia 16 de Odair José na íntegra em streaming:

Caixa traz quatro ótimos CDs do hoje badalado Odair José

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Por Fabian Chacur

De uns anos para cá, Odair José finalmente passou a ter o respeito que merecia como cantor, compositor e músico. A ponto de a Universal Music lançar no mercado Quatro Tons de Odair José, luxuosa caixa com quatro álbuns inéditos em CD lançados entre 1972 e 1975, sua fase áurea em termos de sucesso comercial. Mas a coisa nem sempre foi assim, caros amigos.

Em 1988, quando entrei no mundo do jornalismo diário como repórter e crítico musical do hoje extinto Diário Popular, ninguém queria saber do cara. Mas eu queria. E sugeri ao meu editor de então, o brilhante Osvaldo Faustino, que fizéssemos uma entrevista com o autor de Pare de Tomar a Pílula. O cara, sempre aberto, deu-me a autorização, e lá fui eu atrás da fera, todo feliz.

Na época, o artista goiano vivia uma fase não muito favorável em sua carreira, e era contratado da gravadora RGE. Liguei para a assessora de lá na época, uma figura simpática chamada Ielda, e fiz o meu pedido para entrevistar o artista dela. A moça ficou uns bons segundos muda, provavelmente sem acreditar no que ouvia. E deu show de bola.

Ela simplesmente trouxe Odair José na redação do Diário, que ficava na rua Major Quedinho, centro de São Paulo. Nem acreditei quando vi a fera ali, na minha frente. A entrevista foi deliciosa, realizada lá pelos idos de 1988, e nela minha admiração por esse artista aumentou ainda mais, por sua simplicidade e honestidade.

Acho que, modéstia à parte, dei sorte a ele, pois não muitos anos depois ele foi redescoberto pelas gravadoras e outros artistas. A partir dos anos 90, Odair começou aos poucos a ser reverenciado, e isso resultou em álbum-tributo de artistas do rock alternativo, disco produzido por Zeca Baleiro e a chance de tocar na íntegra ao vivo na Virada Cultural seu ótimo e polêmico álbum O Filho de José e Maria (1977).

E enfim chegamos à caixa recém-lançada. Sua importância é enorme, pois ela inclui o material que tornou Odair José um dos grandes nomes da música popular, acima da média no gênero. Ele era conhecido em 1972 graças ao sucesso de Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, na qual relata sua paixão por uma prostituta. Mas faltava algo a ele. Algo fundamental.

Ele queria se livrar das amarras dos arranjos bregas e travados propostos pela gravadora do Rei Roberto Carlos, a CBS, que só dava liberdade ao autor de Detalhes. Com esse objetivo, ele aceitou a proposta da Polydor, selo popular da gravadora Philips (hoje Universal Music). O presidente da gravadora, o genial André Midani, deu-lhe a liberdade. E nascia um mito.

Falando de temas reais e até então pouco explorados como amores por empregadas domésticas, as restrições trazidas pelo uso da pílula anticoncepcional e as duras separações dos casais, Odair ganhou como moldura instrumental o auxílio de músicos extremamente talentosos, entre eles o trio Azymuth, que se tornaria célebre por seu funk-soul-mpb pouco depois e o soul brother brasileiro Hyldon.

De quebra, Odair buscou inspiração em artistas fora do universo do chamado brega, entre eles Neil Diamond, Paul McCartney, Crosby Stills & Nash, além, é óbvio, do velho mestre Roberto Carlos. O resultado: canções de forte apelo popular, mas ao mesmo tempo com embalagem refinada e repletas de detalhes sofisticados.

Assim Sou Eu… (1972), Odair José (1973), Lembranças (1974) e Odair (1975) são álbuns repletos de músicas legais, tanto os sucessos como outras músicas menos conhecidas, mas tão legais quanto. São discos para se curtir um a um, faixa a faixa, arranjo por arranjo, letra por letra. E a caixa inclui as letras, capas originais e livreto com ótimo texto.

Cristo Quem É Você?, Eu Queria Ser John Lennon, Deixe Essa Vergonha de Lado, Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula), Que Saudade de Você, A Noite Mais Linda Do Mundo (A Felicidade), Dê Um Chega Na Tristeza, é muita música boa. Para quem é preconceituoso em relação a Odair José ouvir e chegar à conclusão de que o cara é um mestre da canção popular.

A Noite Mais Linda do Mundo (Felicidade)– Odair José:

Cadê Você – Odair José:

Odair José toca na íntegra em SP seu álbum mais polêmico

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Por Fabian Chacur

Em maio de 2013, Odair José mostrou uma surpresa para seus fãs durante a Virada Cultural: tocou na íntegra seu álbum mais polêmico, O Filho de José e Maria (1977). Para quem perdeu, surge uma nova chance neste fim de semana. Sexta (13) e sábado (14) às 21h e domingo (15) às 18h, o cantor, compositor e músico goiano tocará as músicas desse trabalho tão marcante no Sesc Belenzinho (rua Padre Adelino, 1.000- fone 2076-9700), com ingressos de R$ 8,00 a R$ 40,00.

A história de O Filho de José e Maria é das mais interessantes. Após se tornar um dos artistas mais populares do Brasil nos anos 1970, graças a hits certeiros como A Noite Mais Linda do Mundo (Felicidade), Pare de Tomar a Pílula e Cadê Você, Odair José recebeu uma proposta milionária da gravadora RCA e deixou a Polydor (hoje Universal Music) em 1977. Só que ele tinha novos planos para sua carreira.

Ambicioso e visionário, o astro goiano estava apaixonado por trabalhos de artistas como Peter Frampton, Neil Diamond e Paul McCartney, entre outros, e resolveu estrear na nova gravadora com uma ambiciosa ópera-rock na qual explorava temas como sexualidade, casamento, religião e comportamento, com uma sonoridade pop-rock com toques de soul e funk de verdade.

A acompanha-lo, músicos brilhantes como Hyldon (guitarra), Jaime Alem (guitarra e violão),Robson Jorge (piano e órgão Fender Rhodes), Alexandre (baixo), José Roberto Bertrami (órgão, clarinete e arp string) e Ivan Mamão (bateria). Uma verdadeira seleção, que proporcionou a Odair José uma sonoridade consistente e criativa.

Com dez ótimas faixas, entre as quais O Casamento, Nunca Mais, Não Me Venda Grilos (Por Direito), De Volta às Origens e a faixa-título, O Casamento de José e Maria infelizmente não conseguiu boa repercussão comercial, e rapidamente saiu de catálogo. Um exemplar em vinil custa uma verdadeira fortuna, sendo que o álbum nunca foi reeditado na íntegra no formato CD.

Você só encontra faixas de O Filho de José e Maria no formato CD (oito delas, para ser mais preciso) na hoje também rara coletânea Grandes Sucessos, lançada pela BMG (hoje Sony Music) em 2000 e trazendo um total de 20 músicas dessa quase obscura passagem de Odair José pela gravadora RCA. Tomara que esse disco ainda seja reeditado, pois é muito bom e merece ser resgatado.

Nos shows que fará no Sesc, Odair cantará e tocará violão e guitarra, tendo a seu lado os músicos Caio Mancini (bateria), Marco Camarano (guitarra), Marco Bispo (teclados) e seu filho Odair José Jr. (baixo). Pelo que se viu na Virada Cultural, vale e muito a pena não perder essa nova oportunidade de ouvir um clássico obscuro da MPB ao vivo e a cores.

Ouça a versão original de estúdio de O Casamento:

Ouça O Casamento ao vivo na Virada Cultural 2013:

Morre José Roberto Bertrami, do Azymuth

Por Fabian Chacur

Morreu no último domingo (8), aos 66 anos, o tecladista e compositor paulista José Roberto Bertrami. Ele era integrante do Azymuth, um dos grupos mais talentosos e importantes da música pop brasileira.

Sim, música pop é a definição mais simples para a sonzeira swingada, dançante, inteligente e maravilhosa que Bertrami e seus colegas de banda, Alex Malheiros (baixo) e Ivan Mamão Conti (bateria) criaram.

Nascido na cidade de Tatuí (SP), Bertrami começou a tocar ainda criança. Ele conheceu Malheiros e Conti no Rio, no início dos anos 70, e com eles participou de inúmeras gravações e apresentações ao vivo, incluindo discos clássicos de Odair José.

O nome da banda acabou sendo extraído de uma composição dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle (da trilha do filme O Fabuloso Fitipaldi), de quem eles gravaram algumas composições no decorrer de sua carreira.

Eles participaram da trilha sonora da novela O Espigão em 1974 com a música Pela Cidade, ainda com o nome Bertrami e Conjunto Azimuth.

O grupo estourou no Brasil com duas faixas de seu primeiro álbum, Azimuth (1975), as fantásticas Linha do Horizonte (de Paulo Sérgio Valle e Paraná, trilha da novela Cuca Legal) e Faça de Conta (de Bertrami).

Seu som basicamente instrumental, valendo-se eventualmente de vocais, já surgia originalíssimo, misturando funk de verdade, soul, jazz, bossa nova, samba, pop e o que mais pintasse, com direito a muito swing.

Melô da Cuíca (de Bertrami e Malheiros), de 1975, foi usada com destaque na trilha da novela Pecado Capital. Voo Sobre o Horizonte (de Bertrami e Paraná), da trilha da novela Loco-motivas, foi o destaque do segundo álbum do trio, Águia Não Come Mosca, no qual a grafia do nome da banda mudou de Azimuth para Azymuth.

No fim dos anos 70, o Azymuth passou a se dedicar a uma prolífica carreira internacional, que lhes rendeu sucessos como o álbum Light as Feather (1979) e o sensacional single Jazz Carnival, que chegou ao Top 20 inglês em 1980.

Aliás, a partir dali o grupo passou a fazer muito mais sucesso fora do Brasil, com direito a lançamentos exclusivos por selos internacionais, shows em festivais com o de Montreux e em diversos países da Europa, Ásia e América do Norte. O rótulo acid jazz certamente teve neles um de seus pioneiros.

Durante um curto período, entre o finalzinho dos anos 80 e o início dos 90, José Roberto Bertrami esteve fora do Azymuth, substituído por Jota Moraes, mas ele voltaria a tempo de comemorar os 20 anos de existência do trio, sem sair mais.

Bem, melhor do que escrever sobre o Azymuth é ouvir a sua música. Divirtam-se com a seleção abaixo, e não tenho dúvida de que José Roberto Bertrami nos deixará enorme saudade.

Jazz Carnival, com Azymuth:

Linha do Horizonte, com Azymuth:

Voo Sobre o Horizonte, com Azymuth:

Melô da Cuíca, com Azymuth:

Faça de Conta, com Azymuth:

Ivan Conti Mamão, 76 anos, um craque das baquetas e da vida

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Por Fabian Chacur

Acompanhar o perfil no Facebook de Ivan Conti Mamão era uma delícia. Sempre imagens bacanas de sua intimidade com a família e amigos, e também registros dos inúmeros shows realizados por ele com a banda que o tornou mundialmente famoso, a Azymuth. Imaginem o susto que tomei ao ler, nesse mesmo perfil, o anúncio de sua morte, ocorrida nesta segunda-feira (17), aos 76 anos.

Sem causa divulgada, a partida deste grande baterista e compositor carioca choca por ocorrer em meio à turnê que celebrava os 50 anos de carreira do seu grupo, com muitas datas ainda a serem cumpridas. Ninguém imaginava que o simpático e talentosíssimo Mamão estava em vias de nos deixar. Assim é a vida, mas fica difícil vê-lo nos deixar ainda tão produtivo e feliz.

Nascido em 16 de agosto de 1946, Ivan Miguel Conti Maranhão iniciou a sua carreira como músico profissional tocando em grupos e participando de gravações com outros artistas. Nesse período, montou um grupo ao lado dos amigos Alex Malheiros (baixo) e José Roberto Bertrami (teclados). E em uma dessas sessões, por volta de 1972, conheceram o grande Marcos Valle.

Esse encontro se mostraria providencial. Eles gravaram dois discos não creditados com o músico, e receberam o convite para participar da trilha do filme O Fabuloso Fittipaldi (1973), de Roberto Farias. Por razões contratuais, Valle ficou oculto, e o álbum com a trilha sonora foi creditado ao trio, que acabou batizado com o nome de uma música de sua autoria de 1969 resgatada por Marcos Valle para este trabalho.

E que batismo abençoado! Em 1975, o grupo lançou o seu primeiro álbum oficial, Azymuth, e sua música Linha do Horizonte (ouça aqui) estourou nacionalmente, incluída na trilha sonora da novela global Cuca Legal.

Essa canção virou um belo cartão de apresentações para o trio, com seu som misturando pop, soul, jazz, música brasileira e o que mais pintasse. Logo a seguir, Melô da Cuíca (ouça aqui), da trilha de Pecado Capital, trouxe ainda mais brazilidade swingada ao som deles.

Em 1977, Águia Não Come Mosca manteve a ascensão dos rapazes no mercado brasileiro, com direito a mais um hit em trilha de “telelágrimas” (como alguns chamavam as novelas de TV na época, de forma irônica), a não menos incrível Voo Sobre o Horizonte (ouça aqui).

Naquele mesmo 1977, foram convidados e participaram do badalado Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, e em seguida fizeram uma turnê pelos EUA ao lado dos conterrâneos Airto e Flora Purim. Pronto. As portas do mercado internacional estavam abertas, e o Azymuth entrou com tudo.

Com o álbum Light as a Feather (1979), consolidaram essa abertura internacional, com a faixa Jazz Carnival (ouça aqui) tornando-se rapidamente um grande hit no mercado internacional, especialmente no Reino Unido, onde emplacou o Top 20 como single em plena era disco.

Nos anos 1980, o trio emplacou diversos álbuns no mercado internacional, até que em 1989 Bertrami resolveu sair do time. Após alguns anos com outras formações, o resgate de gravações antigas da banda por DJs britânicos reacendeu não só o interesse pelo grupo como também resgatou a sua formação clássica, que voltou na metade dos anos 1990 e se manteve até 2012, com a morte de José Roberto Bertrami.

Nessa última década, Mamão e Malheiros tiveram a seu lado o ótimo tecladista Kiko Continentino, com quem se mantinham em franca atividade. Paralelamente ao trabalho com o grupo, Mamão gravou com inúmeros artistas, entre os quais Hyldon, Odair José, Roberto Carlos, Jorge Ben Jor, Gal Costa, Paulinho da Viola, Raul Seixas e Chico Buarque.

O músico também desenvolveu uma carreira solo, lançando os álbuns The Human Factor (1984), Pulsar (1997) e Poison Fruit (2018).

Vai fazer muita falta esse verdadeiro dínamo que era o Mamão enquanto músico, um mestre do ritmo. E fará ainda mais falta o cara simpático, acessível, sem estrelismos e que adorava seus amigos e sua família. Meu abraço solidário a todos eles, e a mim também, que sempre curti e muito a sua música envolvente e encantadora. Difícil ficar triste ouvindo o Azymuth.

RIP, querido Mamão!

Jazz Carnival (live)- Azymuth:

Caetano Veloso, 80 anos, magia de ser eternamente relevante

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Por Fabian Chacur

Conheci Caetano Veloso pessoalmente em 1985, ao participar de uma entrevista coletiva concedida por ele à imprensa no hotel Maksoud Plaza. Entre as diversas perguntas feitas pelos jornalistas presentes, uma pedia a ele uma opinião sobre os grupos britânicos The Smiths e New Order, então extremamente badalados por aqui. E ele gastou alguns bons minutos para responder. Logo de cara, tive contato com uma das marcas registradas desse cantor, compositor e músico baiano, que completou 80 anos neste domingo (8).

Até os dias de hoje, a mídia parece sempre querer saber o que Caetano Veloso pensa sobre cada novidade musical que surge. Isso, para ficarmos na área abordada por Mondo Pop. Pois seus pitacos sobre política, moda, economia, cinema, TV etc (e tome etc) também são solicitados de forma constante. Isso, quando necessário, pois com frequência o próprio artista se antecipa e discorre sobre esses temas todos. Falar é com ele mesmo.

E é bom ressaltar que isso não ocorre por oportunismo dele. É de seu espírito ser assim, atento ao que acontece no Brasil e no mundo e afim de interagir e tentar entender o mundo em suas eternas mudanças. E isso se reflete nele próprio, um ser mutante por natureza, capaz de ir do voz e violão ao acompanhamento orquestral, passando por todas as possibilidades entre uma coisa e outra, sem medo de experimentar.

Cria da bossa nova de Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes, Caetano não demorou para mergulhar em outros mares sonoros. Sem preconceitos, flertou com os Beatles, Odair José, Smetak, Rogério Duprat, Talking Heads, Pixies, poesia concreta, axé music e o que mais pintasse. E sempre saiu inteiro de cada uma dessas experiências, mesmo quando não deu muito certo em termos qualitativos.

Minha primeira experiência com ele foi logo com um disco mais ousado, Caetano Veloso (1971), gravado durante o seu exílio em Londres provocado pela gloriosa ditadura militar. A música Maria Bethania sempre me encantou com a sua mistura de música regional e erudita e os seus vocais onomatopaicos com efeito de mastigação, como se deglutisse as palavras.

Uma coisa curiosa é perceber que o autor de Sampa nunca teve momentos de ostracismo ou de grandes sumiços da mídia. Em cada década, ele sempre esteve lançando novos trabalhos, fazendo shows pelo Brasil e o mundo e sendo citado por novos artistas como uma influência importante. Raros artistas tem esse poder, e ainda mais por tantas décadas. Paul McCartney, seu colega de ano de nascimento, é um deles, sendo Milton Nascimento, da mesma classe de 1942, outro bom exemplo a ser citado.

Caetano tem o dom de trafegar entre todas as classes sociais, capaz de emplacar hits muito populares e também encantar os fãs de experimentalismo. Um caso raro de unanimidade nacional? Bem, ele tem lá os seus detratores, mas como levá-los a sério, se observarmos a obra do artista em questão? Alguns se aproveitam de incursões menos felizes no cinema e em livros para tentar, mas são vaciladas tão pequenas que é melhor não levá-los a sério.

A qualidade da obra artística de Caetano Veloso é reverenciada em todo o planeta, e serve como uma boa amostra de como o Brasil consegue, mesmo com todas as suas contradições seculares, produzir artistas desse altíssimo gabarito. Uma obra que permanecerá perene e relevante daqui a 50, 100, 200, mil anos. De um cara tranquilo e infalível como Bruce Lee.

Maria Bethania– Caetano Veloso:

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