Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

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Dolly Parton relê Let It Be com Paul McCartney e Ringo Starr

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Por Fabian Chacur

Em novembro de 2022, Dolly Parton foi nomeada para o Rock and Roll Hall Of Fame. Não se trata de algo incomum termos por lá artistas que teoricamente não seriam exatamente roqueiros, mas em um primeiro momento a cantora e compositora norte-americana não se sentiu à vontade com o convite. No fim, não só aceitou como decidiu gravar seu primeiro álbum totalmente dedicado a este estilo musical.

Rockstar, o nome do projeto da talentosíssima estrela de 77 anos e mais ativa do que nunca, sairá em 17 de novembro nos formatos CD duplo, LP de vinil quádruplo e também nas plataformas digitais. Serão 30 faixas, sendo 9 composições inéditas e 21 releituras de clássicos.

Uma dessas releituras acaba de ser divulgada. Trata-se de Let It Be, que ganha contornos históricos por ter as participações especiais de Paul McCartney e Ringo Starr, integrantes daquela banda de Liverpool que gravou originalmente em 1970 esta canção icônica. O resultado ficou ótimo.

O elenco de astros que marcam presença em Rockstar também inclui nomes do porte de Sting, Elton John, Richie Sambora (ex-Bon Jovi), Steve Perry (ex-Journey), Peter Frampton, Ann Wilson (do Heart) e Miley Cyrus. Ou seja, agora Dolly Parton sacramentou de vez a sua presença no cenário rocker.

Let It Be– Dolly Parton, Paul McCartney e Ringo Starr:

Bianca Gismonti Trio mostra seu show Gismonti 70 em SP

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Por Fabian Chacur

Em 2017, Bianca Gismonti concebeu ao lado de seu pai Egberto Gismonti o show Gismonti 70, que celebrou os 70 anos de idade desse icônico músico, cantor e compositor brasileiro. O resultado ficou tão bom que gerou desdobramentos. O mais recente é uma apresentação do Bianca Gismonti Trio em São Paulo neste domingo (27) às 19h30 no Bourbon Street (rua dos Chanés, nº 127- Moema- fone 11-5095-6100), com couvert artístico a R$ 90,00 (inteira) e R$ 45,00 (meia).

A escalação do trio para esta apresentação inclui Bianca (piano e vocal), seu marido Julio Falavigna (bateria) e o premiado percussionista norte-americano Frank Colón, que tem no currículo trabalhos ao lado de nomes do porte de Chet Baker, Jaco Pastorius, Manhattan Transfer, Wayne Shorter, George Benson e Herbie Hancock, entre (muitos) outros.

O repertório dá uma geral em clássicos do songbook de Egberto Gismonti, maravilhas como Palhaço, Lôro, Sonho e Água e Vinho. Bianca iniciou a sua carreira aos 15 anos tocando com o pai, e a partir de 2005 desenvolveu uma sólida carreira em vários formatos, incluindo shows, álbuns e DVDs com o Duo Gisbranco e o Bianca Gismonti Trio.

O show integra o projeto Jazz.BR- O Jazz no Domínio Brasileiro, que tem trazido grandes nomes da música brasileira com elementos jazzísticos ao palco do Bourbon Street e é patrocinado pelo Santander Brasil.

Leia mais sobre Bianca Gismonti aqui.

Chora Coração– Bianca Gismonti Trio com Frank Colón:

Nasi relê clássico do Ira! com uma linda roupagem de blues

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Por Fabian Chacur

Nasi prepara um novo álbum solo, previsto para sair ainda este ano. E a amostra inicial desse trabalho, que será lançado pela Ditto Music, é das mais animadoras e já está disponível nas gloriosas plataformas digitai. Trata-se de Dias de Luta, canção do Ira! que em sua versão original integrou o álbum Vivendo e Não Aprendendo (1986), o 2º da banda paulistana.

Desta vez, o cantor nos mostra esse clássico do rock brasileiro dos anos 1980 com um arranjo blueseiro que remete a maravilhas do porte de The Thrill Is Gone, uma das canções seminais do repertório do saudoso B.B. King.

Para dar autenticidade e vibração à gravação, Nasi convidou para acompanhá-lo um dos melhores guitarristas de blues do Brasil, o excelente Igor Prado, que nos proporciona bases certeiras e solos repletos daquela emoção que só blueseiros de alma são capazes de nos proporcionar.

Dias de Luta– Nasi e Igor Prado:

Paula Santoro mostra Sumaúma com um show no Rio de Janeiro

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Por Fabian Chacur

Há três décadas na estrada da música, Paula Santoro construiu uma carreira sólida que lhe valeu inúmeros shows no Brasil e exterior e parcerias muito bacanas. Ela acaba de lançar, nas plataformas digitais e em caprichada versão em CD, seu 7º álbum, Sumaúma. Ela mostra no Rio de Janeiro o repertório desse trabalho e ainda mais em um show nesta terça-feira (22) às 20h no Teatro Prudential (rua do Russell, nº 804), com ingressos a R$ 80,00 (saiba mais aqui).

A árvore Sumaúma é considerada a “mãe da floresta” pois, na temporada de chuvas, acumula água em suas raízes tabulares (sapopemas) e na seca, ela extravasa essa água no solo e as plantas ao redor não morrem. Paula explica o tema do álbum: “É urgente fazermos algo sobre a preservação da natureza e tento dar meu recado através de minha arte. Aliás, sempre faço arte com intuito de transformar as pessoas e a mim mesma.”

O álbum mescla músicas inéditas e releituras, entre as quais Coisa Mais Maior de Grande (Gonzaguinha), Sassaô (João Bosco), Na Boca do Sol (Arthur Verocai-Vitor Martins) e Lala Lay Ê (João Donato e Lysias Enio). Temos participações especiais de nomes do porte de João Bosco, João Donato, Ivan Conti Mamão e Toninho Horta.

Além das músicas do álbum, a cantora e compositora oriunda de Belo Horizonte (MG) incluirá no show outras duas de João Donato, um dos convidados especiais de Sumaúma e que nos deixou recentemente. São elas as marcantes Êmoriô e A Paz, ambas parcerias dele com Gilberto Gil.

Paula Santoro será acompanhada por uma banda integrada por Rafael Vernet – seu maior parceiro na música – arranjador, pianista, produtor musical do álbum e diretor musical do show, o baterista Cyrano Almeida, o contrabaixista Rodrigo Villa e o percussionista Serginho Silva.

E Lala Lay Ê– Paula Santoro e João Donato:

Luiz Gonzaga Jr.- Luiz Gonzaga Jr. (EMI-Odeon-1973)

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Por Fabian Chacur

Quando lançou o seu 1º álbum, Luiz Gonzaga Jr. (1973), no ano em que completou 28 anos, Gonzaguinha já tinha uma trajetória com boas realizações em seu currículo. Não é de se estranhar que soe como um trabalho bastante maduro e bem formatado. Ele entrou em estúdio com experiência suficiente para dar conta do recado com categoria. Para situar bem o leitor, vamos fazer uma viagem por essa fase inicial da carreira deste grande cantor, compositor e músico.

Gonzaguinha foi fruto de um relacionamento de menos de dois anos entre seu pai, Luiz Gonzaga (1912-1989) e a cantora, dançarina e compositora Odaléia Guedes dos Santos. Eles se conheceram quando ela fez vocais de apoio em gravações do Rei do Baião, como integrante do coro de Erasmo Silva. Foi ele quem sugeriu a Gonzaga que hospedasse a jovem artista, que há pouco havia sido expulsa de casa.

Odaléia também atuava no Rio de Janeiro em dancings, salões de baile nos quais os frequentadores pagavam para dançar com as meninas disponíveis, que tinham cartões nos quais marcavam suas atividades. O músico pernambucano não aceitava o jeito mais independente e rebelde da parceira. Mesmo assim, tiveram um filho, que nasceu no dia 22 de setembro de 1945.

Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. teve pouca convivência com a mãe. Por volta de dois meses após o nascimento de Luizinho (como ele era chamado quando era criança), Odaléia foi diagnosticada com tuberculose, e precisou ser internada em Minas Gerais. Gonzagão, então, pediu aos padrinhos da criança, seus amigos desde que chegou ao Rio, em 1939, que cuidassem dele.

Entre idas e vindas, Odaléia acabou falecendo por volta dos 23 anos, quando o filho não tinha nem 4 aninhos. O pai se casou com Helena em 1948, e ela não aceitou que o sanfoneiro levasse o garoto para morar com eles. Aí, os padrinhos, Leopoldina (Dina) de Castro Xavier e Henrique Xavier Pinheiro, o Baiano do Violão, passaram a criar de forma efetiva Luizinho.

Dina sempre fez de tudo para manter o menino próximo do pai, levando-o para visitá-lo de forma regular. Morando no Morro do São Carlos, no célebre bairro do Estácio, um dos berços do samba carioca, Luizinho aprendeu as malandragens na rua e também se apaixonou pela música, inspirado no pai, no padrinho e naquilo que ouvia nas programações das rádios de então- boleros, sambas-canção, baião, som de orquestras etc.

Rebelde e introspectivo, Gonzaguinha resolveu aos 16 anos tentar se aproximar do pai de uma forma mais efetiva, indo morar com ele. A madrasta desta vez aceitou, mesmo a contragosto, e dessa forma duas pessoas com personalidades muito distintas foram aprendendo a se entender aos poucos, mesmo que aos trancos e barrancos.

O autor de Asa Branca queria que o filho tivesse um curso superior, “virasse doutor”, como se dizia na época. Luizinho estudava, mas a música sempre se mostrou uma opção profissional que cresceu cada vez mais na sua vida. E, ao contrário do que alguns pensam, foi exatamente o pai quem lhe abriu as portas na carreira que viria a exercer.

Em 1964, Gonzagão gravou pela primeira vez uma música de seu filho, Lembrança de Primavera (ouça aqui), incluída no seu álbum A Triste Partida e canção que Luizinho escreveu quando tinha apenas 14 anos.

Papai mostrou que tinha fé no seu rebento, pois em seu álbum seguinte, Quadrilhas e Marchinhas Juninas (1965), registrou mais duas canções dele, Matuto de Opinião (ouça aqui) e Boi Bumbá (ouça aqui).

O álbum Canaã (1968), de Gonzagão, marcou o auge desse período, pois inclui nada menos do que quatro composições assinadas por Luiz Gonzaga Jr.: Pobreza por Pobreza (ouça aqui ), Erva Rasteira (ouça aqui), Festa (ouça aqui) e Diz Que Vai Virar (ouça aqui).

Quando resolveu gravar um álbum com canções de novos valores da música brasileira, O Canto Jovem de Luiz Gonzaga (1971), o Rei do Baião obviamente não iria deixar seu filho de fora, e não só registrou Morena (ouça aqui) como convidou-o para um dueto na releitura de Asa Branca (ouça aqui).

Completa essa sequência a música From U.S. Of Piaui (ouça aqui), composição de Gonzaguinha que Gonzagão gravou em seu álbum Aquilo Bom (1972). Vale registrar que o jovem compositor, que raramente pedia dinheiro ao pai, teve como ganhos iniciais no mundo musical exatamente os direitos autorais provenientes dessas gravações.

Entre 1964 e 1972, portanto, Luiz Gonzaga gravou nada menos do que 9 composições do filho em seus discos. De quebra, ainda foi o padrinho de casamento do seu herdeiro em 1971, com Angela Porto Carreiro. Ou seja, aquela história de que eles só se entenderam a partir de 1979, quando gravaram juntos A Vida do Viajante, é pura balela.

Uma das razões pelas quais Gonzaguinha passou a morar com o pai foi para poder ingressar em uma universidade, algo que seus padrinhos não tinham como ajudá-lo a fazer em termos financeiros. E isso ocorreu em 1967, quando ele entrou na Faculdade de Ciências Econômicas Cândido Mendes com o intuito de se tornar economista.

A entrada no meio universitário o ajudou a se aproximar de outros talentos musicais. O primeiro trabalho de Gonzaga Jr. fora do universo do pai ocorreu quando compôs a trilha sonora da peça teatral Joana em Flor, do grupo teatral Arena da Ilha (no caso, a do Governador). Nessa mesma época, foi levado pela amiga Angela Leal (que depois se tornaria uma famosa atriz) a uma certa casa situada na rua Jaceguai nº 27, no bairro da Tijuca.

Naquela residência simples de classe média, o médico Aluizio Porto Carrero, que também era músico, fazia reuniões musicais no melhor espírito dos saraus de antigamente. Ele, a esposa Maria Ruth e as filhas Angela e Regina recebiam jovens amigos, geralmente estudantes universitários, para tocar música e conversar. Gonzaguinha se sentiu à vontade logo na primeira visita.

Em 1968, Gonzaguinha lançou o seu primeiro disco, um compacto simples produzido por conta própria incluindo Tema Joana em Flor (ouça aqui), da trilha da peça teatral Joana em Flor, e Pobreza por Pobreza (ouça aqui).

Esta última, além de ter sido posteriormente gravada pelo pai, participou do I Festival Universitário da Música Brasileira, realizado pela TV Tupi. A composição ficou entre as finalistas, e acabou incluída no LP do evento em interpretação do cantor Jorge Nery (ouça aqui ). E foi ali que ele conheceu um de seus melhores amigos na cena musical, Ivan Lins.

Vale dizer que, a partir de 1965, os festivais de música se tornaram a grande plataforma através dos quais os novos nomes chegavam ao grande público. Elis Regina, Chico Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jair Rodrigues, entre outros, ganharam fama participando dessas competições organizadas pelas emissoras de TV.

Interagindo na casa da rua Jaceguai com Ivan Lins (que também se tornou figura assídua por lá), Aldir Blanc, Cesar Costa Filho, Guinga e outros jovens talentos, Gonzaguinha foi mergulhando cada vez mais na cena dos festivais, e em 1969 foi o vencedor do II Festival Universitário, da TV Tupi, com a música O Trem (Você se Lembra Daquela Nega Maluca Que Desfilou Nua Pelas Ruas de Madureira?) (ouça aqui).

Com elaborado arranjo fortemente influenciado pelo jazz de artistas como Miles Davis e escrito pelo consagrado músico Luizinho Eça, O Trem recebeu vaias intensas do público, obviamente não preparado para ouvir algo tão refinado, e com uma letra profunda e inspirada na fugacidade e dificuldade da vida de uma pessoa comum.

A vitória valeu a Luiz Gonzaga Jr. um contrato com o selo Forma, da gravadora Philips. Naquele mesmo 1969, outro resultado expressivo: venceu na categoria melhor letra com Moleque (ouça aqui) no 5º Festival da Música Popular Brasileira da TV Record.

Em 1970, a turma da Rua Jaceguai resolve participar do 5º Festival Internacional da Canção (FIC), promovido pela Rede Globo. Embora apresentem suas músicas de forma individual, os integrantes usam coletes da mesma cor e se definem como MAU (Movimento Artístico Universitário).

Ivan Lins atinge o 2º lugar, com O Amor é o Meu País, e Gonzaguinha fica com o 4º posto com Um Abraço Terno em Você, Viu, Mãe? (ouça aqui), canção que cita Asa Branca e é claramente inspirada em Tropicália, também aproveitando elementos de versos da mesma.

No III Festival Universitário da Canção, Gonzaguinha participa com Parada Obrigatória Para Pensar (ouça aqui), que seguia a mesma fórmula elaborada de O Trem e lhe valeu um honroso 4º lugar na classificação geral.

O bom desempenho dos integrantes do MAU no 5º FIC chamou a atenção de sua organizadora, a TV Globo, que pensava em fazer um programa musical dedicado aos jovens. Surgiu, dessa forma, o Som Livre Exportação, que no início de 1971 trazia como apresentadores Ivan Lins e Elis Regina e a turma de universitários participando, entre eles Gonzaguinha.

Após o contrato inicial, de dois meses, a Globo ofereceu renovação a apenas três integrantes do MAU: Ivan, Gonzaguinha e Cesar Costa Filho. Eles aceitaram, e assim tivemos o fim do movimento. O programa durou aquele ano de 1971, e teve boa repercussão perante o público.

Gerou o lançamento de dois LPs com performances dos convidados e dos apresentadores, com duas músicas inéditas de Gonzaguinha: Eu Quero (ouça aqui), bastante inspirada em Batmacumba, de Gilberto Gil, e Raça Superior (ouça aqui), ironizando o brasileiro naquele momento.

Mesmo com a presença expressiva de Luiz Gonzaga Jr. nos festivais e na mídia, o selo Forma não se mostrava animado em investir em um LP dele. Naquele ano efervescente, lançaram apenas um compacto simples (com Afriasiamérica) e um compacto duplo que destacava a faixa Por Um Segundo.

Por Um Segundo (ouça aqui), com sua roupagem meio soul pop que caberia feito luva na voz de Wilson Simonal, foi a que mais tocou em rádios, e é excelente, embora à parte do estilo habitual do cantor e compositor carioca.

A experimental e roqueira Afriasiamérica (ouça aqui), a lírica e no melhor estilo voz e violão Felícia (ouça aqui) e a deliciosa Plano Sensacional (ouça aqui), com inspiração no estilo de Milton Nascimento, são provas da qualidade da sua produção na época.

O compacto duplo era completado por Sanfona de Prata (ouça aqui), uma tocante homenagem ao pai que ressalta sua proximidade com o povo e as viagens pelo país inteiro divulgando a cultura popular. Embora ainda em processo de amadurecimento, ele já merecia a deferência de lançar um LP.

Com o fim do Som Livre Exportação e o aparente desinteresse da Forma/Philips em investir mais forte na sua carreira, Gonzaguinha assinou em 1972 um contrato com a EMI-Odeon.

Sua estréia na nova casa fonográfica foi no formato compacto, trazendo uma nova e bem melhor versão de Pobreza Por Pobreza (ouça aqui) e Mundo Novo Vida Nova (ouça aqui), linda canção que em 1969 foi interpretada por Claudete Soares no 2º Festival Universitário da Música Brasileira e em 1980 seria gravada por Elis Regina no álbum Saudade do Brasil.

O último lançamento daquele 1972 foi Depois do Trovão (ouça aqui), que concorreu no 5º Festival de Música Popular Brasileira de Juiz de Fora e foi incluída no LP com músicas daquele evento em versão ao vivo voz e violão, na qual Gonzaguinha cita novamente Asa Branca.

As músicas lançadas pelo autor de Explode Coração no selo Forma foram reunidas e lançadas no CD Gonzaguinha (2001), em ótimo trabalho do pesquisador Marcelo Fróes. Só ficou de fora Raça Superior, lembrando que as versões originais de Tema Joana em Flor e Pobreza por Pobreza são de um compacto independente. Esta última entrou no CD com Jorge Nery.

Em 1973, portanto, Luiz Gonzaga Jr. estava mais do que pronto para lançar um consistente álbum de estreia. E foi exatamente isso o que ele fez. A direção musical ficou a cargo do então já veterano Maestro Lindolfo Gaya (1921-1981). Para atuar como assistente de produção, orquestrador e regente, entrou em cena o brilhante J.T. Meirelles (1940-2008), conhecido por sua atuação com o grupo Copa 5.

O principal mérito dos arranjos neste álbum é não se perder em climas rebuscados que eventualmente frequentavam algumas gravações na época. As roupagens sonoras procuravam enfatizar as letras e os vocais.

O disco não traz ficha técnica completa, mas é possível deduzir que o guitarrista e violonista Sidney Mattos(que é citado nos agradecimentos especiais) tenha tocado nele, pois o músico tinha sido colega de Gonzaguinha no MAU e está na ficha técnica do segundo álbum do artista, de 1974.

A capa é enigmática. De forma apressada, pode parecer uma foto do artista em um porta-retratos cujo vidro estaria rachado. No entanto, se olharmos mais atentamente, podemos imaginar que seja, na verdade, o reflexo de Gonzaguinha em uma janela ou espelho, que estava refletindo também uma árvore. Como a outra foto do álbum traz o cantor atrás de plantas, esta segunda hipótese se mostra a mais pertinente.

As 10 faixas deste trabalho giram em torno de estilos musicais que seriam constantes nos álbuns de Gonzaguinha. Basicamente, bolero, baião, samba e rock sob o viés de Milton Nascimento e do Clube da Esquina. Vamos a uma análise música a música deste LP.

Sempre Em Teu Coração (ouça aqui)

O álbum abre com uma canção lírica, com um delicado arranjo de cordas ao fundo e violão conduzindo tudo. A influência do Clube da Esquina se mostra nítida. A letra é ambientada em um salão de danças, certamente inspirada na atuação da mãe Odaléia, e cita a Orquestra de Waldir Calmon (1919-1982), que viveu o seu auge na década de 1950, ou seja, na infância-adolescência de Gonzaguinha. Ele exploraria esse mesmo universo futuramente.

Minha Amada Doidivanas (ouça aqui)

Neste bolero estilizado, o ouvinte desavisado pode achar que se trata de alguém lamentando um amor persistente por uma pessoa que o despreza em nome de outra pessoa-paixão. No entanto, a citação de trecho do Hino Nacional Brasileiro (para ser mais preciso, “No Teu Seio Mais Amores”) e os versos “dói saber, amada tropicana, somente eu não estou a fim de te explorar, doidivana” deixam claro se tratar de lamentações contra a ditadura militar que deitava e rolava naquele cinzento Brasil de 1973.

Página 13 (ouça aqui)

Em sua carreira, Gonzaguinha sempre se mostrou um ácido cronista do cotidiano brasileiro. Aqui, em uma mistura de samba-canção e jazz rock (com passagens de metais e guitarra simplesmente matadoras), narra a tragédia ocorrida com um vizinho que ele tinha em grande conta por razões absolutamente superficiais, e que acabou virando estrela macabra de matéria em um jornal popular. Ele tira conclusões acerca de um cara que viveu por 10 anos na vizinhança, e que ele só encontrava no elevador e de quem nem sabia o nome, “ele nunca falou”. Obra-prima, raramente citada.

Românticos do Caribe (ouça aqui)

Essa faixa é mais uma prova concreta de como o romantismo sempre fez parte da obra deste artista, taxado por alguns apressados como “cantor-rancor” nessa sua fase inicial. Com direito a uma guitarra jazzística e musicalidade envolvente, o tema aqui é uma relação afetiva que de certa forma entrou no piloto automático, longe da paixão dos tempos iniciais. E o que Gonzaguinha propõe é exatamente isso, a retomada do prazer da dança ao som de um bom bolero à meia luz. O romance resiste!

Sim, Quero Ver (ouça aqui)

Com tempero de samba-canção e acompanhamento em ritmo meio marcial, o tema aqui é o desejo de ver a festa de volta, “sem máscaras negras e com o pierrot vencendo o arlequim”. Lógico que o assunto aqui é o repúdio à ditadura militar e o sonho do retorno à democracia. A interpretação sutil e delicada em termos vocais mostra o quanto o Gonzaguinha cantor havia amadurecido em relação aos anos anteriores.

A Felicidade Bate à Sua Porta (ouça aqui)

Um dos temas recorrentes de Gonzaguinha é o retorno da festa, da alegria, de um tempo mais alegre e pra cima, em meio àqueles anos de chumbo vividos durante a ditadura militar. Aqui a abordagem é do tipo vamos voltar aos bons tempos da felicidade com a ajuda de um certo trem da alegria, “e que importa a mula manca, se eu quero…”. O arranjo pende para o rock latino percussivo. Com uma roupagem disco music, esta canção se tornaria o primeiro hit das Frenéticas, em 1977.

Palavras (ouça aqui )

Este samba-canção com um certo tempero de fado é explícito ao condenar quem fala muito e não faz nada para minorar ou mesmo acabar com o sofrimento e a tristeza. O ouvinte mais atento pode identificar ecos melódicos de Negue (Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos), clássico da nossa música que fez sucesso nas vozes de Nelson Gonçalves, Maria Bethânia e até do Camisa de Vênus.

Moleque (ouça aqui)

Esta canção equivale a um auto-retrato do autor, lembrando de suas origens como moleque nas ruas do Morro do São Carlos, onde aprendeu muito sobre a vida e firmou sua personalidade irreverente, contestatória e inconformista. A gravação original de 1969 trazia um arranjo orquestral um pouco rebuscado demais. Aqui, o acompanhamento é exato, com ênfase na parte rítmica (bem nordestina), uma flauta precisa e o vocal de Gonzaguinha mandando uma de suas melhores letras. Ele a regravaria em 1977, em pot-pourry com Festa, no álbum intitulado, não por acaso Moleque Gonzaguinha. Uma das canções essenciais do songbook gonzaguiano.

Comportamento Geral (ouça aqui)

Se em outras canções tínhamos críticas feitas de forma um pouco mais sutil, aqui o filho do Rei do Baião vai direto ao assunto, ironizando o conformismo das pessoas ao aceitar as imposições dos patrões e dos ditadores de plantão. “Você merece, você merece, tudo vai bem, tudo legal, cerveja, samba e amanhã, seu Zé, se acabarem com o teu carnaval?”, diz o ácido refrão. Este samba fantástico foi lançado em compacto simples que rapidamente vendeu mais de 20 mil cópias, especialmente após ter sido apresentado no Programa Flávio Cavalcanti, uma das maiores audiências da TV de então. Outro momento estelar da obra de Gonzaguinha.

Insônia (ouça aqui)

O momento mais introspectivo e tenso do álbum, e que o encerra, começa com o tic-tac de um relógio e flagra alguém na cama, de madrugada, tenso e obviamente inseguro com aqueles dias cinzentos, com versos agudos como “e esse lençol gelado,e esse sono que não vem”.

A versão em CD de Luiz Gonzaga Jr. saiu em 1997 incluindo como faixa-bônus Depois do Trovão (ouça aqui).

Com a grande repercussão obtida por Comportamento Geral, a censura se mostrou implacável e determinou não só o recolhimento do compacto simples como também do álbum, que só seriam liberados novamente em 1980, quando vivíamos a abertura.

Embora reflita aquele tempo tão difícil, trata-se de um trabalho repleto de musicalidade, esperança e fé em um futuro melhor, e que seria uma espécie de template (molde) para os trabalhos posteriores de Gonzaguinha, artista que se valeu com rara habilidade da autorreferência e do desenvolvimento de um mesmo tema em várias canções diferentes, marca também de Belchior, vale registrar.

Ouça Luiz Gonzaga Jr. (1973) em streaming na íntegra:

Liam Gallagher dá a volta por cima com ótimo álbum ao vivo

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Por Fabian Chacur

Nos dias 3 e 4 de junho de 2022, Liam Gallagher levou mais de 170 mil pessoas aos seus shows em Knebworth, dando uma impressionante volta por cima após o fim da banda que o consagrou, o Oasis, em 2009. E o feito ocorreu no mesmo local onde a banda liderada por ele e seu irmão Noel viveram o seu auge em termos de público, em 1996. O registro desse show acaba de ser lançado no exterior pela Warner com o título Knebworth 22 em várias opções físicas em CD e vinil e nas plataformas digitais.

Acompanhado por uma banda extremamente competente, o cantor dá uma geral nos hits de sua carreira pós-2009 e também relê clássicos do Oasis como Champagne Supernova, Wonderwall, Rock ‘N’ Roll Star e Roll It Over. O que impressiona é que a voz de Liam continua com a mesma textura e timbre de seus tempos áureos nos anos 1990.

Com o fim do Oasis, a expectativa era de que Noel tivesse uma trajetória mais bem-sucedida do que a do irmão, em função de ter sido ele o principal compositor do grupo. No entanto, o irmão acabou conseguindo ultrapassá-lo, mesmo competindo com o trabalho bem respeitável do Noel Gallagher’s Flying Birds. O futuro é sempre imprevisível, mas não parece muito provável uma reunião dos Gallaghers.

Eis as faixas do álbum ao vivo Knebworth 22:

1. Hello
2. Rock ‘n’ Roll Star
3. Wall Of Glass
4. Shockwave
5. Everything’s Electric
6. Roll It Over
7. Slide Away
8. More Power
9. C’mon You Know
10. The River
11. Once
12. Cigarettes & Alcohol
13. Some Might Say
14. Supersonic
15. Wonderwall
16. Champagne Supernova

Champagne Supernova (live)- Liam Gallagher:

Marcelo Nova lança novo álbum com show único em São Paulo

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Por Fabian Chacur

Desde a primeira separação do Camisa de Vênus, ocorrida em 1987, Marcelo Nova mantém paralelamente ao grupo uma carreira-solo que já rendeu vários trabalhos. O mais recente, As Cartas Que Eu Nunca Enviei, acaba de ser disponibilizado nas plataformas digitais e também lançado em CD. Ele mostra o novo repertório e também seus hits em show único em São Paulo nesta quinta-feira (17) às 21h30 no Bourboun Street (Rua dos Chanés 194- fone (11) 5095-6100), com couvert artístico a R$ 75,00.

Completando 72 anos de idade nesta quarta-feira (16), o cantor, compositor e músico baiano traz como marcas a irreverência, a energia e a mistura de elementos de punk rock com o trabalho de roqueiros como Bob Dylan, Neil Young e Raul Seixas. Com este último, ele por sinal fez mais de 50 shows e gravou o álbum A Panela do Diabo (1989).

O novo álbum solo, que conta com a coprodução de seu filho, Drake Nova, traz 12 faixas que mostram a inquietude do artista. O primeiro single, Fios Desencampados, flagra o roqueiro em ótima forma, com um pique invejável. O trabalho traz outros momentos interessantes, como a faixa-título, com um elaborado arranjo de cordas e metais de Drake, e também O Lado Errado do Trilho do Trem, épica e com quase 10 minutos de duração.

Fios Desencampados– Marcelo Nova:

James Blunt divulga single e lança seu 7º álbum em outubro

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Por Fabian Chacur

Em 2004, James Blunt se tornou mundialmente conhecido graças à canção You’re Beautiful, faixa de seu álbum de estreia, Back To Bedlam, que vendeu milhões de cópias em todo o mundo. Desde então, ele se firmou como um competente cantor e compositor de canções românticas e melódicas. O artista britânico acaba de divulgar um novo single, amostra de Who We Used To Be , seu 7º álbum de estúdio, previsto para sair no dia 27 de outubro via Warner Music.

Beside You, a nova canção de Blunt, poderá surpreender os fãs por ter uma levada dançante e bem pra cima, com cara de Maroon 5. O novo trabalho será o sucessor de Once Upon a Mind (2019), que atingiu o 3º posto na parada britânica, onde ele se mantém extremamente popular.

Neste trabalho, James Blunt usa o esquema de se valer de vários produtores, como forma de apresentar elementos sonoros distintos. São eles os badalados Jonny Coffer, Red Triangle, Jack & Coke e Steve Robson.

Beside You– James Blunt:

Clara Nunes tem álbum de 1973 relançado em um vinil amarelo

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Por Fabian Chacur

Se estivesse entre nós, a maravilhosa cantora mineira Clara Nunes celebraria 81 anos de idade neste sábado (12). Como forma de marcar essa efeméride, a gravadora Universal Music está relançando no formato LP de vinil amarelo o álbum Clara Nunes (1973), que está completando 50 anos de seu lançamento original, pela extinta gravadora EMI Odeon. Saiba como adquirir e também o preço do mesmo aqui.

Este trabalho flagra a grande estrela do samba em grande forma, especialmente graças ao sucesso da música Tristeza Pé No Chão. Livre das limitações anteriormente impostas a ela, especialmente nos anos 1960, Clara nos oferecia um repertório repleto de canções marcantes, entre elas uma parceria de Jards Macalé e Vinícius de Moraes, O Mais Que Perfeito.

Com linda capa concebida e executada pelo artista plástico Luiz Jardim, o LP contou com a produção do radialista Adelzon Alves, que foi extremamente importante na evolução da grande intérprete mineira, processo que atingiria seu auge a partir da sua associação com o grande poeta e compositor Paulo Cesar Pinheiro, pouco tempo depois.

Eis as músicas incluídas no LP Clara Nunes (1973):

Lado A:

1 – Tristeza pé no chão (Armando Fernandes Mamão)

2 – Fala viola (Eloir Silva/ Francisco Inácio)

3 – Minha festa (Guilherme de Brito/ Nelson Cavaquinho)

4 – Umas e outras (Chico Buarque de Holanda)

5 – Arlequim de bronze (Ao voltar no samba) (Synval Silva)

6 – O mais que perfeito (Jards Macalé/ Vinicius de Moraes)

Lado B:

1 – Quando eu vim de Minas (Xangô da Mangueira)

2 – Meu Cariri (Dilú Mello/ Rosil Cavalcanti)

3 – Homenagem à Olinda, Recife e Pai Edu (Baracho)

4 – É doce morrer no mar (Dorival Caymmi)

5 – Amei tanto (Baden Powell/ Vinicius de Moraes)

6 – Valeu pelo amor (Ivor Lancellotti)

Tristeza Pé No Chão (ao vivo)- Clara Nunes:

Sixto Rodriguez, 81 anos, um músico de história incrível

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Por Fabian Chacur

Sixto Rodriguez vivenciou uma das histórias mais incríveis de um artista na área musical. Sua trajetória foi tão marcante que rendeu um documentário que venceu um Oscar em 2013, Procurando Sugar Man, do saudoso Malik Bendjelloul. Ele nos deixou nesta terça (8) aos 81 anos, sendo que sua morte foi anunciada por seu site oficial nesta quarta (9). As causas não foram reveladas. Leia a seguir o texto de Mondo Pop sobre o artista, publicado originalmente em 2015 e focado no documentário sobre a sua carreira.

A saga de Sixto Rodriguez é daquelas que supera de longe qualquer tipo de ficção, com alternativas dignas dos melhores novelistas e roteiristas de cinema. Essa história fantástica é o mote do documentário vencedor do Oscar em 2013 Procurando Sugar Man (Searching For Sugar Man), que chega ao Brasil no formato DVD com belos extras. E o enredo não para de ganhar novos e bons capítulos.

Para quem não conhece, vale relatar a trajetória do cantor, compositor e músico americano descendente de latinos Sixto Rodrigues. Nascido em 10 de julho de 1942, ele ganhou experiência tocando em bares na cidade de Detroit, lar da Motown Records. Tocando uma mistura de folk, rock e bittersweet rock, foi descoberto pelos músicos e produtores Dennis Coffey e Mike Theodore, ambos egressos da Motown.

Contratado pela gravadora Sussex, de outro oriundo da Motown, Clarence Armant, Rodriguez lançou em 1970 Cold Fact. Embora elogiado, o LP não vendeu nada, assim como seu sucessor, Coming From Reality, produzido por Steve Rowland e lançado em 1971. Pior: foi logo a seguir demitido da gravadora. Um final que parecia infeliz.

Se não teve sucesso algum em sua terra natal, o que Rodriguez não soube na época é que Cold Fact não só foi lançado como se transformou em um enorme sucesso de vendas na longínqua África do Sul, vendendo algo em torno de 500 mil cópias por lá e o tornando mais popular naquele país do que Elvis Presley e os Rolling Stones.

Só que ninguém no país africano sabia nada sobre Rodriguez. Havia, inclusive, mitológicas explicações sobre seu sumiço, do tipo “botou fogo no próprio corpo” ou “atirou na própria cabeça durante um show”. Como se tratava de um país que viveu durante anos oprimido por uma violenta ditadura, sem contatos efetivos com o exterior, a lenda se manteve.

Até que, em meados dos anos 1990, o fã Stephen Segerman (que recebeu o apelido Sugar em função da música Sugar Man, do artista americano) foi questionado por uma amiga sul-africana que estava morando nos EUA onde poderia comprar uma cópia de Cold Fact. Ele descobriu que ninguém sabia desse disco nos EUA, e nem quem era o tal de Rodriguez, que para eles era um astro americano, e não um ninguém.

Aí, Segerman criou um site na então ainda emergente internet tentando encontrar pistas de Rodriguez. De quebra, fez o texto para o encarte do lançamento em CD de Coming From Reality, alertando para a falta de informações sobre Rodriguez e “convocando” detetives musicais para resolver aquele mistério. E o jornalista sul-africano Craig Bartholomeu-Strydom topou o desafio.

Conseguiram, depois de muita batalha, o contato do produtor Dennis Coffey, e ligaram para ele em Detroit. Lá, tiveram a notícia inesperada: Rodriguez ainda estava vivo. Logo em seguida, em mensagem publicada no site de busca, ninguém menos do que uma das filhas de Rodriguez entrou em contato com eles, passando os contatos dela e dele.

Resumo da ópera: Rodriguez foi convidado a se apresentar na África do Sul em 1998, foi tratado como um astro do rock e lotou ginásios em três shows por lá. Desde então, voltou e fez mais de 30 shows. Ele também ficou popular na Austrália, onde se apresentou em 1979 e 1981, mas em escala menor do que no país africano.

Só faltava o resto do mundo conhecer essa história fascinante, e isso ocorreu quando o jovem aspirante a diretor e roteirista de cinema sueco Malik Bendjelloul ficou sabendo dessa história através de Segerman e resolveu encarar o desafio de fazer um documentário. Foram quatro anos de muitas dificuldades e investimentos próprios. Até que seu sonho virou realidade.

Procurando Sugar Man estreou no mítico festival de Sundance nos EUA e desde então conquistou o mundo. Ganhou o Oscar de melhor documentário em 2013, merecidamente. E conta essa história com riqueza de detalhes, entrevistas suculentas, belas cenas de arquivo e criativas artes para ilustrar momentos importantes não documentados. E tem as músicas, belíssimas.

Fica difícil entender o porque Rodriguez não fez sucesso nos anos 1970. Seu trabalho tem tudo a ver com o espírito daquela época, recheado de afinidades com os trabalhos de Cat Stevens, James Taylor, Bob Dylan e Jose Feliciano (cujo timbre vocal é bem semelhante ao seu) e canções sublimes como Sugar Man, I Wonder, I Think Of You, I’ll Sleep Away e outras.

O mais curioso é saber que, nessas décadas longe dos holofotes, Rodriguez criou as três filhas trabalhando no ramo da construção civil, dando duro e carregando geladeiras nas costas, por exemplo. Sua postura zen, no entanto, não nos leva a crer que ele tenha encarado isso como sofrimento. Aguentou tudo, e soube encarar o sucesso tardio.

Os dois álbuns dele foram relançados nos EUA depois do sucesso do filme. Juntos, venderam mais de 300 mil cópias, e a trilha do documentário, que traz uma ótima seleção de músicas dos dois álbuns e uma inédita. também vendeu muito bem. Ele tem feito shows pelos EUA e Europa e participado dos programas de TV de maior audiência.

Mas Procurando Por Sugar Man não teve apenas desdobramentos positivos. Malik Bendjelloul ganhou o Oscar com seu primeiro longa, mas não segurou a onda. Começou a trabalhar como roteirista em Hollywood e se afastou dos amigos e das pessoas mais próximas. Voltou a Estocolmo e, no dia 13 de maio de 2014, jogou-se nos trilhos do metrô da cidade, suicidando-se aos 36 anos de idade. Uma tragédia horrível.

Chega a ser difícil ver, nos extras do DVD, a boa entrevista concedida por Malik à TV alemã na qual fala sobre como fez o filme, suas experiências anteriores e seus planos para um futuro que, hoje sabemos, não viria.

O making of do filme também é repleto de cenas com Malik, Rodriguez e os entrevistados. Triste fim para um autor tão promissor, e mais um capítulo em uma saga simplesmente fascinante. Tipo do DVD essencial para os fãs mais apaixonados de cinema e de música.

Sugar Man– Sixto Rodriguez:

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