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Banda Zil resgata seu trabalho em classudo DVD em preto e branco

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Por Fabian Chacur

Em 1986, sete músicos com um currículo invejável resolveram se unir com o intuito de criar um grupo para desenvolver uma sonoridade própria, baseada em uma mistura de jazz rock (ou fusion, rótulo muito usado naquele tempo para denominar tal sonoridade), bossa nova, Clube da Esquina, folk e muito mais. Surgia a Banda Zil, que lançou o álbum Zil (1987- Continental) e fez alguns shows concorridos, incluindo participação no Free Jazz Festival de 1988. Em 1991, saíram de cena, mas um possível retorno sempre ficou no ar.

E isso enfim ocorreu em 2016. Para felicidade dos fãs da melhor música brasileira, foi devidamente registrado no DVD Zil Ao Vivo (MP,B-Som Livre-Canal Brasil), também disponível em áudio nas plataformas digitais.

Fortes laços unem os integrantes da banda Zil. Zé Renato (vocal e violão) e Claudio Nucci (vocal e violão) integraram a formação do Boca Livre que lançou em 1979 seu icônico e autointitulado trabalho de estreia, além de terem gravado em 1985 pela gravadora CBS um bem-sucedido álbum em dupla.

Marcos Ariel (teclados) integrou nos anos 1970 o grupo Cantares ao lado de Zé Renato, além de ter sólida carreira solo. João Baptista (baixo e vocais) foi baixista da célebre e cultuada banda gaúcha Almôndegas (que revelou os irmãos Kleiton e Kledir Ramil), e depois tocou com João Bosco e Milton Nascimento.

Jurim Moreira (bateria) foi parceiro de Baptista na gravação e na turnê de divulgação de O Rock Errou (1986), excelente LP de vinil (nunca lançado em CD) e subestimado até pelo próprio autor, o polêmico Lobão, e integrou as bandas de apoio de Alceu Valença, Gilberto Gil, Edu Lobo, Gal Costa e Chico Buarque.

Ricardo Silveira (guitarra e vocais) estudou nos EUA, tocou na banda do consagrado jazzista americano Herbie Mann e tem no currículo trabalhos com gente do porte de Elis Regina, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Ivan Lins e Ney Matogrosso, além de manter elogiada carreira solo. Em seu tempo na banda de João Bosco, foi colega de João Baptista, por sinal.

Vale também registrar que em 2007 Marcos Ariel, João Baptista, Ricardo Silveira e Jurim Moreira lançaram o CD 4 Friends. Completa o time o virtuoso Zé Nogueira (sax, flauta, duduk e vocais), que emprestou seu talento a Edu Lobo, Djavan e Chico Buarque, só para ficar em alguns dos mais conhecidos.

Entrosamento, bom repertório, inspiração…

Com currículos como esses, e vale ressaltar que estão mega-resumidos nesta resenha, não é de se estranhar que tenha demorado tanto para que esses músicos conseguissem se reunir novamente. A agenda deles é mais do que cheia, e com toda justiça. Mas isso finalmente ocorreu no dia 19 de maio de 2016, no palco do Cultural Bar, em Juiz de Fora (MG).

Lógico que só a belíssima trajetória de seus integrantes não seria garantia de qualidade superior para a Banda Zil. Não são poucos os exemplos de formações deste gênero que sucumbiram, no melhor estilo “óleo e água”, sem dar liga. Aqui, no entanto, a combinação se mostrou das melhores, e quem sabe a amizade e as grandes afinidades sonoras tenham feito a diferença para tal resultado.

O repertório de Zil Ao Vivo traz as oito faixas do álbum original (sete no vinil e uma a mais nas versões em CD lançadas nos EUA, Europa e Japão) e mais seis adicionais. Oito delas são instrumentais, e seis seguem o formato canção. Das 14 faixas, só três não levam a assinatura de algum dos integrantes. Duas tem como coautor Milton Nascimento: Anima (parceria com Zé Renato) e Portal da Cor (escrita com Ricardo Silveira).

O som do grupo soube incorporar com sabedoria e bom gosto o background dos músicos, como as vocalizações a la Boca Livre, as improvisações típicas da fusion, as sofisticadas harmonias musicais da bossa nova etc.

O bacana é que eles encaixam seus talentos de forma generosa, sem cair em duelo de egos para ver quem sola de forma mais criativa ou tecnicamente mais difícil. Todos jogam a favor da música, e o resultado é muito bom de se ouvir, embora sofisticado e criativo ao extremo.

Preto e branco dá um tom vintage à festa

Se a enorme qualidade da performance dos músicos já não fosse suficiente, o DVD se torna ainda mais clássico pela opção de registrá-lo em preto em branco, com uma iluminação ressaltando o clima de barzinho de filme noir dos anos 1940/1950. Durante a música Lua Branca, o registro é feito em cima do palco, enfocando individualmente cada músico, com um efeito esteticamente delicioso.

Em Suite Gaúcha, Nucci e Zé Renato ficam de fora, eles que dividem o palco sem a banda na releitura de Blackbird, dos Beatles. E Calma traz apenas Ariel, Nogueira e Silveira. Os dois cantores se valem de suas vozes em encantadores vocalizes nos momentos de enfoque instrumental, em alguns trechos tendo o acréscimo de Baptista, Nogueira e Silveira.

O DVD é bom como um todo, mas alguns momentos podem ser ressaltados, como a encantadora Anima, as deliciosas Zarabatana e Song For a Rainforest (Tupete) , a ácida Pegadas Frescas (cuja letra permanece mais atual do que nunca) e a quase progressiva Portal da Cor, com seus mais de 10 minutos de duração.

Se fica difícil imaginar muitas reuniões futuras desse time tão requisitado e ocupado, ao menos agora temos um registro de alta qualidade para matarmos a vontade de vê-los juntos. Menos mal. O DVD foi dedicado ao saudoso produtor Paulinho Albuquerque (1942-2006), que teve participação importante na idealização e criação da banda nos anos 1980.

Portal da Cor (ao vivo)- Banda Zil:

Nau terá um álbum inédito da década de 80 lançado nesta 6ª

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Por Fabian Chacur

Ótima notícia para os fãs do rock brasileiro dos anos 1980. Será lançado nesta sexta (9) um álbum inédito do extinto grupo paulistano Nau, lembrado por ter tido como vocalista a saudosa cantora, compositora e escritora Vange Leonel (1963-2014). Intitulado O Álbum Perdido do Nau, será disponibilizado nas plataformas digitais pela gravadora Deck. Até o momento, não está previsto o lançamento em formato físico, o que torcemos para que ocorra futuramente.

O Nau surgiu lá pelos idos de 1984, formado por Vange (vocal e teclados), Zique (guitarra), Beto Birger (baixo) e Mauro Tad Sanches (bateria). Com uma sonoridade pesada, quase hard rock, que também trazia momentos mais reflexivos-psicodélicos, o quarteto tornou-se badalado na cena rocker de São Paulo, e atraiu as atenções de Luis Calanca e da sua Baratos Afins, que os incluiu na coletânea Não São Paulo II ao lado das bandas Gueto, 365 e Vultos.

Devido a problemas técnicos, esta compilação, gravada em 1986, só saiu em 1987, quando o Nau já havia sido contratado pela gravadora CBS (hoje Sony Music). As músicas incluídas no álbum foram Madame Oráculo e Sofro. Naquele mesmo ano, saiu o autointitulado álbum de estreia do grupo (ouça aqui ), produzido por Luis Carlos Maluly, conhecido por seu bem-sucedido trabalho com o RPM de Paulo Ricardo.

Com excelente qualidade, o álbum valeu à banda uma matéria de duas páginas da revista Veja, e também a capa da publicação independente Som & Imagem. Embora tenha tido ótima repercussão na cena indie, o LP vendeu muito menos do que merecia, o que gerou o desinteresse da multinacional em lançar um novo trabalho deles.

Já com o experiente baterista Kuki Stolarski na vaga de Mauro Tad Sanches, o Nau entrou no estúdio Big Bang, em São Paulo, para gravar um novo álbum, com músicas inéditas cujas letras eram da jornalista Cilmara Bedaque. Com o fim do contrato com a CBS e a separação da banda, em 1989, este trabalho permanecia inédito até agora.

Após o fim do Nau, Vange lançou em 1991, pela Sony Music, seu primeiro e único trabalho solo, autointitulado. Com uma pegada mais dançante, ela emplacou o hit Noite Preta, tema de abertura da novela global Vamp. Esse Mundo, do mesmo álbum, entrou na trilha de outra atração global, Perigosas Peruas, em 1992.

Nau no programa Boca Livre, de Kid Vinil, em 1988:

Fred Falcão mostra o seu lado regional no CD Ser Tão Brasil

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Por Fabian Chacur

Após lançar o antológico álbum Leny Andrade Canta Fred Falcão-Bossa Nossa (leia a resenha aqui), o cantor, compositor e músico Fred Falcão volta com outro trabalho digno de ser devidamente apreciado. Trata-se de Ser Tão Brasil- Canções de Fred Falcão (Fina Flor), no qual traz como mote o lado mais regional de sua inspiração, ele que é pernambucano de Recife e radicado há décadas no Rio de Janeiro. Mais brasileiro, impossível.

Compositor inspirado e versátil, Fred foi gravado por artistas de áreas bem distintas, como Clara Nunes, Boca Livre, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga e Os Cariocas, entre outros. É exatamente essa capacidade de enveredar por vários estilos musicais com jogo de cintura que ele nos apresenta neste novo CD, no qual também dá vasão ao seu lado cantor e se mostra muito competente nessa área, dando conta do recado.

Inteligente, deu um espaço significativo no álbum para um bom valor da nova geração, a cantora Mariana Brant, sobrinha do grande e saudoso poeta mineiro Fernando Brant, um dos melhores parceiros de Milton Nascimento. Ela marca presença em cinco das doze faixas do álbum, emprestando a elas seu tom doce e bem utilizado, com destaque para as envolventes Valsa Sertaneja, Ser Tão Brasil e Faca de Ponta. A moça prova ter um ótimo potencial que tem tudo para gerar belos frutos.

Além de Mariana, o álbum traz outras presenças importantes. Entre outros, temos aqui Rildo Hora (harmônica), Elias Muniz (vocal), Manno Góes (vocal), Dirceu Leite (flauta e clarinete), Jaime Alem (viola caipira e viola 12 cordas), Lula Galvão (violão e guitarra), Jorge Helder (baixo), Jurim Moreira (bateria) e Marcelo Costa (percussão). Os arranjos e regências foram divididos por João Carlos Coutinho e Geraldo Vianna, com resultado expressivo e classudo.

O repertório passa por bolero, baião, xote, toada, canções e bossa nova, esta última a especialidade de Fred, que assina todas as músicas. Entre seus parceiros, temos aqui Antônio Cícero, Manno Góes, Elias Muiz, Aluizio Reis, Carlos Henrique Costa e Ronaldo Monteiro de Souza.

As envolventes melodias foram aliadas a letras impecáveis, versando sobre as várias vertentes do amor, memórias bacanas e impressões sobre o Brasil, com direito à citação de ícones da nossa música como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Altamiro Carrilho e Ademilde Fonseca.

Ser Tão Brasil equivale a uma deliciosa viagem por um universo musical oriundo da abençoada mestiçagem brasileira, fundindo ritmos e estilos e dando origem a uma sonoridade própria, típica da nossa terra e rica por natureza. E fica o registro: intérpretes talentosos/talentosas e de bom gosto em busca de músicas de qualidade deveriam procurar Fred Falcão urgente, pois o seu songbook não só é repleto de coisas boas, como também se renova e se amplia a olhos vistos.

Ser Tão Brasil– Fred Falcão e Mariana Brant:

Leny Andrade incorpora belas composições de Fred Falcão

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Por Fabian Chacur

Fred Falcão era ainda um jovem compositor em busca de reconhecimento quando a já badalada cantora Leny Andrade entrou em seu caminho, lá pelos idos de 1966. Ela o aconselhou a mostrar Vem Cá Menina para o consagrado grupo Os Cariocas, e foi exatamente isso o que ele fez, e se deu bem. Agora, mais de 50 anos depois, os bons amigos se reúnem para um projeto delicioso: Leny Andrade Canta Fred Falcão-Bossa Nossa (Biscoito Fino).

Desde que se conheceram, muita coisa aconteceu na vida dos dois personagens deste álbum. Fred Falcão teve suas músicas gravadas nas décadas de 1960 e 1970 por nomes do gabarito de Wilson Simonal, Vanusa, Maysa, Clara Nunes, Beth Carvalho, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Os Cariocas, Pery Ribeiro, Boca Livre, Golden Boys e outros. Advogado de ofício, deixou a música de lado por algum tempo, mas não para sempre, pois não faria sentido.

Incomodado por não ter seu nome associado a canções que escreveu e fizeram sucesso, ele resolveu gravar álbuns reunindo sua obra interpretada por ele e amigos famosos. Nesse clima, surgiram os CDs Imparceria (2006), Voando na Canção (2011) e Nas Asas dos Bordões (2014). E foi quando este pernambucano radicado no Rio preparava novas composições para um novo CD que Leny voltou à cena.

Considerada uma das melhores cantoras brasileiras e com fãs nos quatro cantos do mundo, admirada não só no cenário da bossa nova e MPB como também pelos jazzistas, Leny Andrade já havia participado de um dos CDs de Fred. Ao mandar as novas canções para ela escolher uma delas, a intérprete se ofereceu para gravar o álbum inteiro, proposta irrecusável que Fred obviamente não perdeu tempo em aceitar rapidamente. Surgia assim este admirável CD.

Com um repertório de 12 músicas maravilhosas, escritas sozinho ou com os parceiros Carlos Costa, Aroldo Medeiros, Ed Wilson, Lysias Ênio e Nelson Wellington, Fred deixou seu lado músico de lado e montou um time do tipo seleção, integrado por Jorge Helder (baixo), Lula Galvão (violão e guitarra), Rafael Barata (bateria) e João Carlos Coutinho (produção musical, arranjos, piano e acordeom), concentrando-se na direção artística e seleção/composição do repertório.

Com essa escalação e esse material, a probabilidade de termos em mãos um projeto impecável era imensa, e se concretizou sem maiores temores. As músicas viajam por variações bacanas da bossa nova, indo desde temas mais rítmicos como outros mais introspectivos e líricos, com os músicos demonstrando um swing e entrosamento de dar gosto, aproveitando alguns instantes para improvisos deliciosos, sem nunca deixar as composições em segundo plano.

E temos, obviamente, a estrela da companhia, Leny Andrade, esbanjando emoção, técnica e bom gosto em cada interpretação. No auge de seus 75 anos, soa como se fosse uma jovem com fome de bola, e ao mesmo tempo relaxada e tranquila, oferecendo às belas composições de Fred Falcão vida plena e vigorosa. Ela, vamos combinar, incorporou cada uma delas. Que beleza sem fim!

Difícil destacar só uma ou duas das músicas do CD, mas para não ficar em cima do muro, vamos de O Amor Pegou na Veia, Alô Donato, Tons de Ipanema e a faixa-título. E não nos esqueçamos das letras, que abordam as várias fases do amor e também mergulham nas lembranças e referências da Bossa Nova com sensibilidade e charme. Leny Andrade Canta Fred Falcão- Bossa Nossa é um disco que já surge clássico, um bálsamo para a alma em tempos tão conturbados como os atuais.

Bossa Nossa– Leny Andrade:

Zé Renato revê seu repertório e hits em show em São Paulo

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Por Fabian Chacur

Difícil não se lembrar do nome de Zé Renato quando o assunto é qualidade vocal na música brasileira. Além de ser um dos integrantes do Boca Livre, banda seminal da nossa MPB, ele também incorpora a sua linda voz a vários projetos, entre eles uma carreira-solo consistente que desenvolve paralelamente ao grupo. Ele fará um show individual em São Paulo nesta sexta (21) às 20h30 no Unibes Cultural Teatro (rua Oscar Freire, nº 2.500- fone 0xx11-3065-4333), com ingressos a R$ 20,00 (meia) e R$ 40,00 (inteira).

Neste show, o cantor, compositor e músico contará com a participação especial do cantor pernambucano Zé Manoel, que acaba de lançar o CD Canção e Silêncio. No repertório, Zé Renato comemora seus 60 anos de idade e 40 de carreira mergulhando no repertório que desenvolveu durante todos esses anos. Ele pinçará algumas canções dos projetos especiais que gravou em homenagem a Silvio Caldas, Chico e Noel e Zé Kéti, nos quais deu ênfase a seu lado intérprete.

Lógico que o lado autoral também estará presente, com direito a obras mais recentes e também a clássicos como Quem Tem a Viola e Toada, que gravou com o Boca Livre. Durante sua trajetória, Zé Renato também fez trabalhos voltados ao público infantil, integrou os grupos Dobrando a Carioca e Banda Zil e teve suas composições gravadas por nomes do porte de Jon Anderson (ex-Yes), Milton Nascimento, Zizi Possi, Joyce Moreno, Leila Pinheiro e Nana Caymmi, entre outros.

Ponto de Encontro (ao vivo)- Zé Renato:

Polysom relança o compacto de vinil do obscuro Vímana

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Por Fabian Chacur

O nome Vímana pode não ter registro para muitas pessoas que gostam e acompanham o cenário musical brasileiro. Os mais atentos, no entanto, já devem ter ouvido falar desse quinteto carioca, que existiu entre 1974 e 1978. O único registro fonográfico oficial dos rapazes, o compacto simples de vinil com as músicas Zebra e Masquerade, está sendo relançado neste mês pela Polydisc, em edição limitada. Um interessante resgate.

A banda é daquele tipo que se tornou muito mais conhecida depois de sua separação, em função da fama que seus ex-integrantes ganharam posteriormente. Ritchie (vocal e flauta), inglês radicado no Rio, era um deles, assim como os outros astros do pop-rock dos anos 1980 Lulu Santos (guitarra e vocal) e Lobão (bateria). De quebra, completavam o time Fernando Gama (baixo), que integrou de 1992 a 2005 o grupo Boca Livre, e o tecladista Luiz Paulo Simas.

Fortemente influenciado pelo rock progressivo, especialmente o feito pelo grupo Yes, o Vímana participou de festivais como o Hollywood Rock em 1975 e fez shows em locais como o MAM, no Rio, além de tocar com Fagner, Marília Pera, Walter Franco e Sérgio Dias, dos Mutantes. O compacto simples foi lançado originalmente pela gravadora global Som Livre em 1977. Zebra, em português, é uma mistura de rock, disco music e percussão brasileira, enquanto Masquerade (em inglês) tem o típico tempero do progressivo setentista, embora bem mais curta.

Após sair, curiosamente, do Yes, o tecladista suíço Patrick Moraz veio ao Brasil e quis transformar o Vímana em sua banda de apoio. Uma briga com ele tirou Lulu Santos do grupo, que em seguida encerrou suas atividades. A Som Livre preferiu não lançar o LP que gravou com eles, e hoje só são encontrados raros piratas de outras de suas músicas. Mas vamos ser sinceros: o trabalho posterior de seus músicos é bem melhor.

Zebra– Vímana:

Masquerade– Vímana:

On The Rocks (pirata)- Vímana:

Gonzaga Leal esbanja brasilidade em novo CD

Por Fabian Chacur

Com mais de 30 anos de estrada, o cantor e autor pernambucano Gonzaga Leal traz como marca registrada o desejo de mergulhar nas várias sonoridades da música popular brasileira, sem se prender a um único estilo. Seu novo CD, De Mim, lançado pela via independente, é uma boa prova da consistência de sua proposta, com 15 faixas que equivalem a uma bonita viagem pela musicalidade tupiniquim de qualidade.

Nascido em Serra Talhada e radicado desde a adolescência em Recife (PE), Gonzaga tem no currículo atuações em shows e discos de gente do gabarito de Edu Lobo, Boca Livre, Milton Nascimento, Alaíde Costa e inúmeros outros. Já lançou diversos trabalhos individuais, entre os quais O Olhar Brasileiro (2000), Um Tributo a Nelson Ferreira (2002) e Cantando Capiba…e Sentirás o Meu Cuidado (2004).

De Mim inclui em seu repertório composições de autores de vários estados brasileiros, como Altay Veloso, Adriana Calcanhoto, Paulo Cesar Pinheiro, Luiz Tatit, Fábio Tagliaferri e Junio Barreto, só para citar alguns. Os arranjos musicais são minimalistas, delicados e bastante elaborados, um deles assinados pelo grande músico e arranjador Jaime Além, conhecido por seu trabalho realizado há muitos anos com Maria Bethânia.

Com sua voz suave e doce, Gonzaga Leal dá um tom sóbrio e bem pessoal ao repertório. Um dos destaques do álbum fica por conta da participação especial da amiga Marília Medalha, conhecida pelo antológico dueto com Edu Lobo no clássico Ponteio. Aqui, ela divide com Gonzaga as músicas Voo Cego e Deusa da Lua, dois dos momentos mais felizes desse álbum.

A marcante cantora Cida Moreira é a atração da faixa A Janela Da Casa do Tempo. J. Veloso marca presença em Sonho Imaginoso, enquanto Juliano Holanda e Públius comparecem em Ainda Bem Que Eu Trouxe a Viola. Por sinal, a viola brasileira é uma das paixões confessas de Gonzaga Leal, e uma das principais inspirações para sua obra e este trabalho em particular.

Com ótima produção, participação de músicos de primeira linha e apresentação gráfica belíssima, com direito a capa digipack e encarte luxuoso, De Mim é o tipo de trabalho que certamente irá cativar os fãs da música popular brasileira de real mérito artístico, além de ser prova concreta e segura de que a produção independente brasileira continua crescendo cada vez mais em termos qualitativos e organizacionais.

Ouça Água Serenada, do CD De Mim, de Gonzaga Leal:

Série resgata dois clássicos do genial Edu Lobo

Por Fabian Chacur

Edu Lobo é um dos grandes gênios da história da nossa amada música popular brasileira. Só não é mais badalado e reverenciado por sua conhecida aversão ao contato constante com a mídia. Discreto, foge da badalação como o capeta da cruz. Sua obra, no entanto, é tão consistente como a de outros mestres da MPB. Boa prova é a recém-lançada caixa Dois Tons de Edu Lobo (Universal Music).

Filho do também compositor Fernando Lobo (autor de Chuvas de Verão e outros clássicos da MPB), Edu nasceu em 29 de agosto de 1943 e se tornou conhecido no cenário musical muito cedo. Ele estourou nas paradas de sucesso com a música Ponteio, vencedora do Festival da Record de 1967. Ao invés de aproveitar aquele momento em termos comerciais, preferiu estudar e aprofundar seus conhecimentos musicais. Ele é parceiro musical de gente como Chico Buarque, Gianfrancesco Guarnieri, Cacaso e muitos outros do mesmo altíssimo gabarito.

Se perdeu em popularidade, ganhou em reconhecimento entre os colegas e em consistência artística. Com profundo conhecimento teórico, ele no entanto não se distanciou da música popular, em uma original mistura que inclui bossa nova e os ritmos nordestinos. Aliás, ele foi um dos responsáveis por forró, baião e outras variações da cultura nordestina ganharem sofisticação, sem perder a alma.

O produtor e pesquisador Thiago Marques Luiz reuniu em Dois Tons de Edu Lobo dois dos melhores, mais importantes e mais bem-sucedidos em termos comerciais álbuns da carreira desse grande artista. No formato caixa, com direito a embalagem luxuosa, encartes repletos de informações e as letras e fichas técnicas completas de cada canção, temos aqui Camaleão (1978) e Tempo Presente (1980).

Lero-Lero, um dos maiores sucessos comerciais da carreira de Edu Lobo e tema da novela global Sinal de Alerta, é a faixa mais conhecida de Camaleão. Prova de que é possível unir melodia bela e acessível, ritmo sofisticado e cativante e uma letra poética e direta, sem rodeios. Chega a ser inacreditável imaginar que essa música fez sucesso radiofônico na época.

O álbum conta com canções maravilhosas do naipe de O Trenzinho do Caipira (Bachianas Brasileiras nº2), versão com letra da obra de Villa-Lobos, Coração Noturno, Sanha da Mandinga, a releitura de seu clássico dos anos 60 Memórias de Marta Saré e duas instrumentais simplesmente cativantes, a faixa-título do álbum e Bate-Boca.

O grupo Boca Livre, então iniciando de forma decisiva sua ascensão rumo ao estrelato, marca presença em várias faixas de Camaleão e também de Tempo Presente, assim como o brilhante Antônio Adolfo. Aliás, os dois álbuns possuem boas semelhanças estruturais, incluindo dez faixas cada, sendo dois temas instrumentais (no caso de Tempo Presente, as belas Balada do Outono e Rio das Pedras).

Tempo Presente tem como diferenciais o fantástico dueto de Edu com Joyce Moreno em Rei Morto Rei Posto (Joyce também é coautora da faixa-título) e o incrível bate-bola vocal entre o autor de Ponteio e Dori Caymmi na envolvente Desenredo, que tem ecos de O Trenzinho do Caipira. Os grupos vocais Viva Voz e MPB-4 também estão presentes nesses trabalhos.

Com uma voz doce e sempre utilizada de forma inteligente, melódica e envolvente, Edu toca violão e se dedica com afinco aos arranjos e à escalação dos músicos, fazendo dessa forma aquilo que se convencionou chamar de “disco de produtor”, ou seja, no qual o astro da companhia procura também delegar espaços bacanas para que outros músicos participem com brilho de seus discos, sempre com ótimos resultados.

Camaleão e Tempo Presente são discos maravilhosos, daqueles que se recusam a envelhecer e que são marcos de um tempo em que músicas com esse alto gabarito não só eram reconhecidas pelos críticos como também conseguiam ocupar espaços nas programações de rádio, hoje algo praticamente impossível em meio ao domínio de gêneros mais popularescos e imediatistas. Que, provavelmente, sairão de cena rapidinho, ao contrário da obra de Edu Lobo, cada dia mais importante e boa de se ouvir.

Ouça Lero-Lero, com Edu Lobo:

Feito em Casa, de Antonio Adolfo, é relançado

Por Fabian Chacur

Feito em Casa, um dos discos mais importantes da história da MPB e um clássico do repertório de Antônio Adolfo, está sendo relançado no formato original no qual chegou ao mercado musical, em 1977, ou seja em vinil. O selo Polysom está disponibilizando o disco em vinil de 180 gramas, com qualidade de áudio e embalagem de primeira linha, como esse incrível álbum merece.

A importância de Feito em Casa vai além da qualidade musical, pelo fato de ter sido o primeiro trabalho do eventual cantor, mas atuante compositor, tecladista e maestro pela via independente. O sucesso de sua empreitada acabou animando outros artistas a explorar esse caminho, entre os quais o grupo Boca Livre, Paulinho Boca de Cantor, a vanguarda paulistana e muitos outros.

Com predominância instrumental, o álbum inclui uma faixa com vocais que fez sucessos nas rádios dedicadas à música brasileira na época, a belíssima Aonde Você Vai, cantada pelo próprio Adolfo com impecável registro vocal. Ele conta no álbum com participações especiais de músicos do alto gabarito de Jamil Joanes (baixo), Luizão Maia (baixo), Luiz Cláudio Ramos (violão e guitarra) e Chico Batera (bateria).

Outra participação bacana é a da cantora, compositora e violonista Joyce na faixa Acalanto, sendo que Dia de Paz foi composta em parceria com Jorge Mautner. Vale lembrar que, na época, nenhuma gravadora multinacional se dispôs a lançar esse trabalho de Antônio Adolfo, que resolveu então encarar a opção independente como forma de dar continuidade a uma carreira que já tinha colhido frutos bacanas.

Antes de lançar Feito Em Casa, Antônio Adolfo integrou o popular grupo A Brazuca, compôs sucessos como Sá Marina, BR-3 e Juliana e trabalhou com nomes do alto gabarito de Wilson Simonal, Elis Regina e Sérgio Mendes, entre muitos outros. Ele tem sólida formação musical, tendo estudado no Brasil e no exterior, o que lhe possibilitou refinar seu trabalho, sem no entanto cair no tecnicismo puro.

Mais ativo do que nunca, Adolfo lançou recentemente o fantástico álbum Finas Misturas (leia a crítica aqui), e tocou recentemente em São Paulo em julho (leia mais aqui), em apresentação única e gratuita. Ele continua morando no exterior, e desenvolve um prolífico trabalho educacional, além de continuar tocando ao vivo e gravando novos álbuns.

Ouça Aonde Você Vai, com Antônio Adolfo:

Morre Ivone Kassu, assessora de imprensa nº1

Por Fabian Chacur

Ivone Kassu, assessora de imprensa de Roberto Carlos por quase 40 anos, nos deixou nesta terça-feira (3), e foi enterrada nesta quarta-feira (4). Trata-se de uma daquelas perdas irreparáveis para o meio musical/artístico.

Nascido em Itu (SP), Ivone se formou em secretariado e começou sua carreira no meio musical durante os anos 60, na gravadora CBS, numa época em que a rigor nenhum artista tinha assessor de imprensa. Ela teve como primeiro cliente Chico Anysio em 1965, e ajudou a criar jurisprudência na área em nosso país. Jurisprudêcia positiva e do bem.

Além de seu cliente mais famoso, Roberto Carlos, com quem começou a trabalhar na metade dos anos 70, Kassu também assessorou artistas como Jorge Ben Jor e inúmeros outros, além de inúmeros eventos importantes, com a sua Kassu Produções.

Conheci Ivone quando ela comandava a assessoria do festival Hollywood Rock, em 1988. Ao contrário do que virou padrão nos últimos 20 anos, Kassu atendia todos os profissionais da mesma forma, sem discriminar quem trabalhava em órgãos de imprensa menores que as Folhas e Globos da vida.

Nunca deixei de ser credenciado para os eventos em que Ivone trabalhava, e não por causa de vínculos de amizade ou coisa que o valha. Bastva ela ver que você era profissional e que estava a fim de cobrir o evento, não entrar em uma boca livre. As três vezes em que tive a honra de entrevistar o Rei foi através de Ivone.

Gentil e enérgica ao mesmo tempo, Kassu sabia como tratar com as pessoas, e nunca deixava de atender quem a procurava, obviamente dentro do possível. Mas até seus “nãos” eram dados com classe e transparência.

Que o legado de Ivone Kassu possa ser divulgado e seguido por mais gente, especialmente essa gente despreparada e metida a besta que adora ser grosseira e humilhar as pessoas, assessorando às vezes artistas que não chegam sequer ao dedinho dos nomes com quem essa saudosa profissional trabalhou. Descanse em paz, amiga de fé!

Ouça Amigo, com Roberto Carlos:

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