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Relançamento comemora 30 anos de Feminina, um dos clássicos da carreira de Joyce

Por Fabian Chacur

Na vida, tudo vem na hora certa. Não adianta a gente espernear. É assim que as coisas acontecem. Quem sabe bem disso é a cantora, compositora e violonista Joyce. Aos 19 anos, participou de um célebre festival, em 1967, e recebeu sonoras vaias. Ela não desanimou, seguindo adiante.

Após gravar um disco em parceria com Nelson Angelo e outro para o mercado internacional que só chegaria aqui anos depois, casou, teve filhas e resolveu dar um tempo com a carreira. Viveu seu momento mãe em tempo integral.

Mas é lógico que alguém com o seu talento não ficaria nessa para sempre. De certa forma, a parada foi parecida com a de John Lennon, que também saiu de cena para criar o filho Sean. Curiosamente, ambos voltaram à tona no mesmo 1980. Pena que Lennon tenha ficado por aí, naquele doloroso 8 de dezembro que completará 30 anos em 2010.

Mas voltemos a Joyce. Aproveitando o bom momento como compositora que havia sido gravada por Elis Regina (Essa Mulher), Maria Bethânia (Da Cor Brasileira) e Boca Livre (Mistérios), seu lado cantora e violonista resolveu retomar a trajetória solo. E que retomada!

Feminina, o álbum que marcou esse momento chave em sua carreira, volta às lojas em uma edição comemorativa fantástica, com direito a digipack, encarte com belíssimo texto escrito pela própria artista, ficha técnica completa, letras e fotos das gravações.

Fica difícil ouvir as 10 faixas desse clássico perene da MPB e acreditar que o mesmo foi registrado há três décadas. O trabalho soa moderno, conciso, elaborado e simples ao mesmo tempo, aquele tipo de simplicidade que só uns poucos conseguem concretizar. Joyce conseguiu.

Com seu violão swingado e brasileiro até a medula como âncora, ela teve a sapiência de conceber um grupo sólido e sem excesso de instrumentos para acompanhá-la. O samba, a bossa nova e as baladas típicas da MPB servem como base.

As melodias nunca são menos do que maravilhosas. A voz de Joyce é uma verdadeira bênção tão preciosa como sua habilidade rítmica no violão. De quebra, temos as letras, que abordam de forma até então inédita o universo feminino e da relação homem/mulher, assim como o das amizades e da vida como um todo.

Alguns trechos das letras explicam melhor do que eu poderia: “esse coração de menino grande vive fora do trilho e é duro cuidar de um filho do seu tamanho” (Coração de Criança). “No entanto, cadê meus amigos, vai ver que a poeira do tempo levou, a barra da vida tem muitos perigos, e a gente se afasta sem querer, se perde dos velhos amigos” (Revendo Amigos).

Mais um pouco. “Ô mãe, me explica, me ensina, me diz, o que é feminina? Não é no cabelo ou no dengo ou no olhar, é ser menina por todo lugar” (Feminina). “Preciso aprender os mistérios do rio pra te navegar” (Mistérios). Não são versos de arrepiar?

E o disco tem provavelmente o maior sucesso da carreira de Joyce, Clareana, canção fofinha feita para as filhas Clara e Ana que se popularizou ao ser apresentada no Festival MPB 80, da Globo. Essa, ninguém teve a coragem de vaiar.

Além das canções citadas e de suas próprias leituras para os sucessos que deu para os outros artistas que citei lá em cima, o álbum também inclui um tema instrumental irresistivelmente dançante, Aldeia de Ogum, na qual Joyce só faz vocalizações.

Graças à descoberta de Aldeia de Ogum por DJs britânicos nos anos 90, o trabalho de Joyce atravessou fronteiras e a levou a ser considerada, lá fora, como uma artista de acid jazz. Pode? Claro que sim!

Feminina é para se ouvir de ponta a ponta uma, duas, três, um quaquilhão de vezes. Difícil não querer ter todos os discos de Joyce após se deliciar com este aqui. E pode acreditar: vale a pena.

Memórias sobre o lançamento de Bad em 1987

Por Fabian Chacur

 

Thriller (1982) se manteve durante mais de três anos nas paradas de sucesso de todo o planeta. A partir do final de 1985, passou-se a especular sobre quando teríamos o sucessor desse blockbuster. Na era pré-internet, cada boato era saboreado com ansiedade pelos fãs, via rádios, televisões, jornais e revistas especializadas. No início de 1987, o novo disco parecia iminente, mas a data foi sendo adiada, até que, em agosto, o anúncio oficial: Bad iria enfim ver a luz do dia. A gravadora Sony soltou, inicialmente, um single com a balada I Just Can’t Stop Loving You, dueto de Michael com a então desconhecida (e boa) cantora Siedah Garrett (co-autora, ao lado do então desconhecido Glenn Ballard, de Man In The Mirror). Ou seja, a divulgação do disco começava igual à de Thriller, cuja primeira faixa de trabalho também foi uma canção leve e romântica, The Girl Is Mine (com Paul McCartney). A faixa saiu no formato single de vinil.

O álbum de fato saiu tendo o videoclipe da faixa título como ponta de lança promocional. Em São Paulo, a gravadora Sony Music promoveu na extinta discoteca Up & Down, situada na Rua Pamplona, no nobre bairro dos Jardins, uma megafesta de lançamento. Os mais de mil convidados tiveram a oportunidade de ouvir, em primeira mão, as dez músicas do álbum, além de beber e comer à vontade, em uma boca livre histórica. Lembro que me entupi de keep cooler, a sensação daqueles tempos, uma espécie de cidra vagabunda embalada de forma mais chique que, por sinal, adoro até hoje.

O melhor ficou para o final. Todo convidado, na hora da saída, recebeu uma sacola personalizada, que continha o cobiçado álbum Bad em vinil, um single do tamanho de um LP convencional incluindo versões remix da faixa Bad, adesivos, uma camiseta linda e a biografia Michael Jackson By Gordon Matthews. Tremo só de pensar em quanto custou aquela festa de arromba para a gravadora. Mas não era um lançamento qualquer……

 

Veja o videoclipe de Bad:

 

http://www.youtube.com/watch?v=uG5NhkxQJQc

 

Cláudia Rezende estréia em CD com bossa e swing

Por Fabian Chacur

 

Estréia é sempre um momento decisivo na carreira de um artista. Decisivo, porém não determinante. Tem quem lance trabalhos fracos no início, e com o decorrer do tempo, tire a diferença e se torne um craque. Há aqueles que, ao contrário, nos oferecem o que tem de melhor logo de cara, passando o resto da carreira tentando igualar tal performance, sem êxito. O futuro, a Deus pertence. O presente, no entanto, esta aí, e pode ser analisado. Movimentos Raros (Lua Music), pontapé inicial na trajetória artística da cantora paulistana Cláudia Rezende, é um CD norteado pela proposta de seguir o ritmo da bossa nova pop, com arranjos suaves que enfatizam as boas melodias do repertório. As canções se dividem entre boas composições inéditas de Nico Rezende (irmão da intérprete e também produtor do CD) e também clássicos do naipe de September (Earth, Wind & Fire), Theme From The Valley Of The Dolls (André Previn), Let’s Stay Together (Al Green) e Mistérios (Joyce/Maurício Maestro, sucesso com o Boca Livre). Em Café com Leite, temos a participação precisa de Jair Oliveira nos vocais. O time de músicos é exemplar, incluindo, além do próprio Nico nos teclados, violão e baixo, Leo Gandelman (flauta e sax), Alex Moreira (programação), Milton Guedes (gaita harmônica) e Alberto Continentino (baixo). Movimentos Raros proporciona ao ouvinte uma audição gostosa, tranqüila e sem sobressaltos, na qual a voz doce, suave, cheia de swing e afinadíssima de Cláudia comanda todas as ações. Ela estudou música, e também é formada em Arquitetura, Belas Artes e Design de Interiores, além de belíssima. O futuro, como já disse anteriormente, a Deus pertence. Mas que Cláudia Rezende iniciou sua trajetória artística com o pé direito, lá isso iniciou. Boa sorte, moça!

 

Confira September ao vivo:

 

http://br.youtube.com/watch?v=qJuqEYsh5Go

 

 

Muita emoção em gravação de DVD

Trinta anos de estrada no conturbado mercado nacional não é para qualquer um, ainda mais se tratando de uma carreira repleta de sucesso. Como forma de comemorar essa trajetória, o Boca Livre passou pelo Auditório Ibirapuera (SP) com o intuito de gravar seu primeiro DVD, cujo título será Boca Livre ao Vivo. A formação atual do quarteto vocal inclui três integrantes originais, o cantor e violonista Zé Renato, o baixista, violonista, arranjador vocal e cantor Maurício Maestro e o cantor e violonista David Tygel, e também o violonista, percussionista e flautista Lourenço Baeta, que em 1981 substituiu Cláudio Nucci.

Como músicos de apoio na gravação, os ótimos Marcelo Mariano (baixo e produção musical), Pantico Rocha (bateria e percussão) e João Carlos Coutinho (piano, acordeon e teclados). Se só tivéssemos essa turma no palco, já teria sido um ótimo show, mas os convidados especiais deram um toque ainda mais nobre à festa: MPB 4, Renato Braz, Rodrigo Maranhão, Fred Martins e Roberta Sá. O repertório equivaleu a uma gostosa viagem por todas as fases do grupo, uma das melhores formações vocais da história da MPB em todos os tempos. Muita emoção, arranjos impecáveis e o prazer de quem sabe fazer e o faz por prazer pontuaram a apresentação.

Tivemos várias canções do antológico primeiro disco, auto-intitulado (leia matéria na seção discos indiscutíveis em www.mondopop.net) como Quem Tem a Viola, Toada, Mistérios, Diana, Fazenda e Ponta de Areia, além de maravilhas de seu repertório como Panis Et Circenses e Bicicleta. Sua mistura de música brasileira com o folk americano a la Crosby Stills & Nash se mostra mais atual do que nunca. O DVD deve sair ainda em 2007, e foi gravado em parceria com o Canal Brasil, selo MP, B e a gravadora Universal.

Lule Bruno, um brasileiro nada perdido em London Town

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Por Cristiano Bastos (colaboração para Mondo Pop)

Lule Bruno nasceu em Porto Alegre, em 1981, e começou tocando teclado na escola, aos dez anos, nos Estados Unidos, onde morou dos oito aos 15 anos de idade. Em 2003, junto com dois amigos, o músico fundou, na capital gaúcha, o estúdio Lopo 51, local de surgimento da banda de mascarados Procura-se Quem Fez Isso, da qual foi baixista.

A ideia de usar máscaras e esconder suas identidades veio por influência dos americanos dos The Residents. A intenção era botar ênfase na música e tirar o foco das personalidades dos membros do grupo. A banda terminou em seu auge, em 2010, devido a conflitos de personalidades e problemas pessoais, como seu uso de drogas. Durante essa época, também lançou CDs sob o pseudônimo Walter Willy em edições limitadas a 30 CDs, com todos os discos gravados em gravadores de 4 pistas.

Depois de uma breve pausa para se reabilitar, fundou a banda Dévil Évil, com a qual gravou três discos. O grupo juntava punk e psicodelia, Velvet Underground, Pink Floyd e Dinosaur Jr. Em 2014, Lule mudou-se para Londres, onde tocou na banda do francês Vincent Sala. Durante a pandemia, resolveu fazer uma terapia chamada “EMDR”, em busca da cura para eventos traumáticos em sua vida, o que o levou a resgatar fitas cassete com gravações antigas.

A partir dessas audições, o compositor decidiu regravá-las, o que resultou num álbum duplo contendo 24 canções. Entre as influências, Flaming Lips, Os Mutantes, Arnaldo Baptista solo, Brian Wilson, Electric Light Orchestra e Novos Baianos. Nesta entrevista exclusiva ao Mondo Pop, Lule Bruno falou sobre seus dois álbuns, que serão lançados neste mês, e também sobre a Procura-se Quem Fez Isso.

MONDO POP-Fale sobre Curtição Suprema. Qual o conceito em torno desse disco?
LULE BRUNO-
Trata-se de um disco duplo, dividido em dois volumes. Levou dois anos para ficar pronto, tive um colapso nervoso depois de terminar, o que me levou a não conseguir ouvir música por uns três meses. São canções de todas as épocas da minha vida. Cada volume do disco termina com uma mini-suíte de “musique concrète” inspirada em Pierre Henry e Stockhausen.

MONDO POP- Quais músicas do disco seriam destaques pra ti?
LULE BRUNO-
O ponto forte do disco são os arranjos, estou muito orgulhoso das progressões harmônicas e da quantidade de texturas que utilizei, inspirado em Electric Light Orchestra e no conceito de “wall of sound”. Seguindo nessa linha, eu destacaria A Música Vem Pra Me Salvar, que é uma música que fiz quando eu estava muito triste, mas que serve de lembrete, para mim mesmo, de que o meu amor pela música sempre vai me tirar do buraco. E também gosto muito do arranjo, ficou bem grandão, orquestral. A outra música é Você é meu Esconderijo, Beibe, canção que compus aos 23 anos, umas das poucas músicas de amor que compus na vida.

MONDO POP- Quais são suas influências no disco?
LULE BRUNO-
Eu tava ouvindo Electric Light Orchestra, Flaming Lips, Roy Wood, Negro Leo, Ana Frango Elétrico e Tom Zé, enquanto fazia esse disco. O conceito e o espírito geral foram inspirados pelo disco “perdido” Smile, dos Beach Boys, e também um álbum duplo do Frank Zappa chamado Läther, que nunca foi lançado. Também tem influências do Loki?, do Arnaldo Baptista, Álbum branco dos Beatles, Ween e os compositores franceses Pierre Henry e Pierre Schaeffer. Ah! E Raul Seixas e o Sun Ra, mentores espirituais.

MONDO POP- Você fez o disco todo sozinho?
LULE BRUNO-
Embora eu estivesse envolvido com bandas durante toda minha vida, sempre preferi produzir tudo sozinho. Esse disco eu compus e gravei todo em casa, aqui em Londres, mas resolvi, por exemplo, que queria que tivesse uma bateria de verdade.

MONDO POP- Como é ser um artista independente na Inglaterra e como é no Brasil?
LULE BRUNO-
Por incrível que pareça, na minha opinião é meio parecido. Essa coisa de exclusividade, de ter de “conhecer gente”. Isso rola igual aqui em Londres. Mesmo na época da minha banda, a Procura-se Quem Fez Isso, quando a gente fazia um certo sucesso, ainda nos sentíamos à margem, como se fossemos outsiders, por não querer jogar certos jogos. Aqui tem muito isso também, infelizmente. Essa coisa de personalidade, de ter que usar as roupas certas, de ser divertido na festa ou ser mais importante que a música ou a arte em si.

MONDO POP- Porque optou por fazer um disco duplo?
LULE BRUNO-
O disco começou com o conceito básico de gravar músicas engavetadas dos meus vinte e poucos anos que vieram à tona em sessões de terapia para trauma que fiz durante um ano e meio, em 2020. Revisitei essas gravações ouvindo fitas cassete antigas e comecei um processo de regravar as que mais gostava, cerca de 50 canções. Decidi fazer um álbum duplo como o Álbum Branco, dos Beatles, ou Freak Out, do Zappa. As canções que sobraram lancei sob meu outro alter ego, o Walter Willy, pelo selo Chupa Manga Records, de São Paulo.

MONDO POP- Qual a diferença entre Volume 1 Volume 2? É o mesmo conceito musicalmente, as influências são as mesmas?
LULE BRUNO-
O disco foi dividido em dois volumes como se fazia com os discos de antigamente. Acho que fica mais legal assim, e também não acho legal ter 24 músicas seguidas do mesmo disco no streaming, parece muita coisa e as pessoas não têm mais o poder de concentração e a paciência que tinham antigamente. Fazer a ordem das musicas é uma das minhas partes favoritas de gravar discos. E como eu tinha muitas músicas, pareceu a coisa mais clássica a se fazer. O Volume 1 sai dia 23 de setembro e o Volume 2, no dia 8 de outubro. As músicas foram compostas todas no mesmo período, portanto têm as mesmas influências. Não há muita diferença entre os dois, talvez na minha concepção as canções do volume 1 sejam um pouquinho mais “pop”, se é que dá pra dizer isso, do que as do volume 2, que considero um pouco mais escrachadas em termos de temas das letras. O Volume 2 começa com a músicas título do disco Curtição Suprema que é um tema que compus com 18 anos e termina com A Paz é a Coisa Mais Importante que acho o final perfeito pro disco. Ambos os discos terminam com pequenas peças de colagens musicais do que se chama “música de vanguarda” inspiradas também no que o Zappa fazia nos seus discos.

MONDO POP- Você mencionou um alter ego, Walter Willy e a banda Dévil Évil. Fale mais sobre esses projetos.
LULE BRUNO-
Sempre gravei muito desde que ganhei da minha mãe, aos 18 anos, um gravador de 4 canais da Fostex. Tenho caixas e caixas de fitas. Criei o personagem Walter Willy em 2003, que era e continua sendo meu alter ego “carreira solo” paralelo a tudo que faço, no caso na época a minha banda Procura-se Quem Fez Isso que durou de 2003-2010 em Porto Alegre. Foi uma fase conturbada da minha vida. Passei por algumas estadias em hospitais psiquiátricos por abuso de substâncias e está tudo mais ou menos documentado nos discos do Walter Willy. Ao sair da última internação, em 2011 (estou limpo há 11 anos), fiz a banda Dévil Évil, em Porto Alegre, que tocava tipo um pop-punk psicodélico. Aqui em Londres tenho um projeto paralelo chamado I Know I’m An Alien.

MONDO POP- Fale da banda Procura-se Quem Fez Isso. Porque os integrantes nunca mostraram os rostos?
LULE BRUNO-
A banda Procura-se quem Fez Isso é um assunto meio difícil. É a primeira vez que falo publicamente sobre isso, escondi minha identidade enquanto membro da banda por cerca de 15 anos e agora decidi me assumir como integrante. Os outros membros seguem querendo não se identificar. A banda começou em 2004 e tínhamos um conceito de não mostrar nossos rostos em público, com o intuito de colocar o foco na música e não nas personalidades e aparências dos membros da banda. Era influência dos The Residents. Fizemos muitos shows, festivais, tivemos matéria na Rolling Stone e abrimos para os meus ídolos, os Mutantes. Gravamos um disco no nosso estúdio, em 2004, e é um dos poucos registros que deixamos (pode ser ouvido na internet).

MONDO POP- Qual o seu processo criativo?
LULE BRUNO-
Raramente sento para compor com o intuito de “vou fazer uma música agora”. Geralmente a ideia vem do nada e na maioria das vezes a músicas vem mais ou menos pronta na minha cabeça. Tento gravar rapidamente com o que estiver por perto e logo faço algum tipo de gravação demo que fico ouvindo enquanto saio para caminhar na rua ou andar de ônibus. Vou resolvendo a estrutura da música na minha cabeça e gravando demos até chegar no mais próximo do que imaginei inicialmente quando a ideia apareceu e daí então gravei a música e ideias para arranjos vão surgindo enquanto estou gravando. Posso estar gravando a linha de baixo e já ouço na minha cabeça como vão ser as guitarras por exemplo. Nunca deixo para terminar uma gravação depois, procuro terminar no mesmo dia que comecei, o que leva geralmente em torno de 3-4h para gravar uma músicas inteira. Gosto de terminar para me livrar e me desbloquear do que estou trabalhando para abrir espaço para uma nova música que logo virá.

MONDO POP- Qual sua motivação/inspiração pra fazer música?
LULE BRUNO-
Transformar experiências ruins em boas, rir do trágico, tentar trazer alguma alegria pro mundo. Acredito que conseguir superar dificuldades na vida pessoal fortalece a minha criatividade e me inspira para continuar, me sinto muito mais criativo estando limpo do que em todos os meus anos utilizando álcool e drogas, estou sempre compondo, tendo ideias para músicas e discos novos. Parece uma fonte inesgotável, vou estar ocupado até o dia que eu morrer hehe e isso é uma benção. É como se por eu ter passado por essas experiências mais extremas que talvez muitas pessoas não tenham que passar, a minha música adquiriu pra mim uma profundidade e significado pessoal que não tinha antes. Se hoje eu estou sorrindo é um sorriso honesto porque houve um período da minha vida em que era muito difícil sorrir.

MONDO POP- Por que ser artista em 2022?
LULE BRUNO-
Tenho muita coisa que quero expressar, sou obcecado por gravar, estou sempre compondo, compus mais de 500 músicas na minha vida, gosto de fazer discos. E não pretendo parar. Acredito no humor como ferramenta de transcender tudo, de poder rir da própria tragédia, gosto do tragicômico. A criatividade é a coisa mais importante pra mim pois quando estou criando eu e a música viramos uma coisa só e o mundo exterior deixa de existir.

MONDO POP- Qual sua opinião sobre a importância da mídia social e da tecnologia na música?
LULE BRUNO-
Sem querer parecer velho, mas sou do tempo em que era tudo meio que no boca a boca, a gente fazia poster, distribuía flyer e as pessoas iam aos shows e aos poucos a palavra chegava nas pessoas certas que depois apareciam nos shows. Embora seja fã da internet e de como essa ferramenta possibilita a gente ouvir e ler coisas que jamais imaginamos, o lance da mídia social para o artista hoje em dia virou uma parada mais de servir a plataforma do que de fato criar arte e acho que estamos num caminho bem negativo em relação a isso. Se não criarmos uma plataforma livre onde os artistas podem distribuir seu trabalho direto para os fãs sem a interferência de um algoritmo acredito que com o tempo será cada vez mais difícil divulgar um trabalho para um público que possivelmente possa gostar do que a gente faz.

MONDO POP- Fale um pouco de shows. Como você traz o seu trabalho pros palcos?
LULE BRUNO-
Em 2018, lancei meu primeiro trabalho solo em vinil usando meu próprio nome, e montei uma banda que incluía às vezes até 5 integrantes tocando minhas músicas e infelizmente a banda se desfez durante a pandemia do novo coronavírus. Esse ano, retomei os shows sozinho, aliado a backing tracks e uma coisa incrível aconteceu que quando estava sozinho no palco me peguei conversando com a platéia, contando histórias baseadas nas músicas e tem dado certo! Os shows viraram meio que uma mistura de música com stand up comedy hehe. Para os shows, no futuro estarei novamente acompanhado de James Ovens (Crazy World of Arthur Brown) na bateria. Eu chamo a banda de Mental Butter.

MONDO POP- Quais seus discos favoritos de todos os tempos?
LULE BRUNO-
Gosto de discos conceituais como Sgt. Pepper’s que contam uma história e as músicas tem uma ligação entre si e não são apenas um monte de singles amontoados. Gosto de discos de identidade forte e com capas interessantes. Meus outros discos favoritos são Magical Mystery Tour também dos Beatles, From a Basement on the Hill do Elliott Smith, White Album (Beatles), Axis: Bold as Love (Jimi Hendrix), Smile (Beach Boys), Loki? (Arnaldo Baptista), O A e o Z (Mutantes), Yoshimi Battles The Pink Robots (Flaming Lips), Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt (John Frusciante) e We’re Only in it For the Money dos Mothers of Invention.

Eu Gosto de Você (clipe)- Lule Bruno:

Novos Baianos tem caixa com dois CDs lançada pela Warner

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Por Fabian Chacur

Boa notícia para os fãs dos Novos Baianos que também curtem lançamentos em formato físico. A gravadora Warner Music está disponibilizando a partir desta sexta (22) Os Anos Continental- 1973-1974, caixa com dois CDs que reúne todas as faixas lançadas oficialmente pelo seminal grupo baiano durante os dois anos em que se manteve sob contrato com a extinta gravadora paulistana Continental, cujo acervo pertence desde a década de 1990 à Warner. O curioso é que a empresa anunciou o lançamento apenas no formato físico, deixando as plataformas digitais de lado, ao menos por enquanto.

O grupo integrado por Moraes Moreira, Baby do Brasil (naquela época, ainda usando o nome artístico Baby Consuelo), Pepeu Gomes, Galvão e Paulinho Boca de Cantor vinha do lançamento de Acabou Chorare (1972- Som Livre). Na Continental, eles lançaram dois álbuns. Novos Baianos F.C. (1973) é considerado um dos melhores de sua carreira, trazendo faixas bem bacanas como O Samba da Minha Terra, Sorrir e Cantar Como Bahia e Dagmar.

O trabalho seguinte, Novos Baianos (1974), tem em Linguagem do Alunte e Isabel (Bebel) os destaques. O primeiro CD da caixa inclui o LP de 1973 na íntegra, trazendo como faixas bônus Minha Profundidade e O Prato e a Mesa. O segundo CD reúne as nove faixas do álbum de 1974, além das bônus Boas Festas (clássica composição de Assis Valente, com o famoso refrão “eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel”) e No Tcheco Tcheco.

As quatro músicas adicionais incluídas neste projeto foram lançadas originalmente em dois compactos de vinil, ambos em 1973. A caixa também nos oferece encartes com as letras das músicas e textos sobre os álbuns, além das artes gráficas usadas originalmente nas capas dos discos.

Saiba quais são as músicas incluídas na box set:

CD 1

Sorrir e Cantar Como Bahia (Moraes Moreira/ Galvão)
Só Se Não For Brasileiro Nessa Hora (Moraes Moreira/Galvão)
Cosmos E Damião (Moraes Moreira/Galvão
O Samba Da Minha Terra (Dorival Caymmi)
Vagabundo Não É Fácil (Moraes Moreira/Galvão)
Como Qualquer Dois Mil Réis (Moraes Moreira/ Pepeu Gomes/Galvão)
Os Pingos Da Chuva (Moraes Moreira/Pepeu Gomes/Galvão)
Quando Você Chegar (Moraes Moreira/Galvão)
Alimente (Jorginho Gomes/Pepeu Gomes)
Dagmar (Moraes Moreira)
Minha Profundidade (Moraes Moreira/Galvão/ Paulinho)
O Prato E A Mesa (Moraes Moreira/Galvão)

CD 2

Fala Tamborim (Moraes Moreira/Galvão)
Ladeira Da Praça (Moraes Moreira/Galvão)
Eu Sou O Caso Deles (Moraes Moreira/Galvão)
Miragem (Moraes Moreira/Galvão)
Isabel (Bebel) (João Gilberto)
Linguagem Do Alunte (Moraes Moreira/Pepeu Gomes /Galvão)
Ao Poeta (Moraes Moreira/Pepeu Gomes /Galvão)
Reis Da Bola (Moraes Moreira/Pepeu Gomes /Galvão)
Bolado (Pepeu Gomes)
Boas Festas (Assis Valente)
No Tcheco Tcheco (Moraes Moreira/Galvão/Paulinho)

Ouça Novos Baianos FC em streaming:

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