Dos vários álbuns que marcaram a história da nossa música, Clube da Esquina é certamente um dos mais icônicos. Os seus 50 anos de lançamento estão sendo celebrados de várias formas, inclusive com a última turnê de Milton Nascimento. Outro marco certamente é De Tudo Se Faz Canção- 50 Anos do Clube da Esquina, livro que será lançado em São Paulo nesta sexta (24) às 19h na sede da gravadora Kuarup (Rua Alves Guimarães, nº 309- Pinheiro), com entrada franca.
Além da noite de autógrafos com Márcio Borges e Chris Fuscaldo, teremos também um pocket show de Telo Borges com a participação especial da cantora Alaíde Costa, que marcou presença no álbum lançado em 1972.
Organizado por Márcio Borges, um dos grandes parceiros de Milton Nascimento, e por Chris Fuscaldo, jornalista, pesquisadora musical e biógrafa, o livro é um lançamento da editora Garota FM Books, e equivale a um abrangente mergulho no universo que envolve o célebre álbum de Milton Nascimento e Lô Borges. Em suas 300 páginas, o leitor irá encontrar vários tipos de abordagens e informações.
Temos aqui desde depoimentos de quem participou efetivamente do álbum, como Milton, Lô, Márcio Borges e Alaíde Costa, por exemplo, até uma análise faixa a faixa do trabalho, realizada por nomes como Ana Maria Bahiana, Charles Gavin, Carlos Eduardo Lima, Zeca Azevedo e outros, entre os quais tive a honra de figurar.
A urgência jornalística aparece em um registro no calor do momento da turnê A Última Sessão de Música, que marcou a despedida de Milton Nascimento dos palcos em 2022, ano em que o Bituca completou 80 anos de vida. Tipo do livro que tem tudo para se tornar, ele próprio, histórico.
Me Deixa em Paz (ao vivo)- Milton Nascimento e Alaide Costa:
Sim, o nome de Wayne Shorter sempre será ligado ao jazz. O saxofonista, que nos deixou nesta quinta-feira (2) aos 89 anos de causas não reveladas, surgiu nessa cena e marcou época como integrante da banda de Miles Davis nos anos 1960 e também como um dos líderes da célebre banda de fusion Weather Report nos anos 1970 e 1980. Ele, no entanto, nunca se prendeu a um único estilo musical, e levou a liberdade criativa do jazz para outras praias sonoras.
Nascido em 25 de agosto de 1933, o músico americano começou a se tornar conhecido no meio da música como integrante do Art Blakey’s Jazz Messengers, Entre 1964 e 1970, fez parte de uma das bandas de apoio mais relembradas da carreira do genial Miles Davis, que também incluía Herbie Hancock (teclados), Ron Carter (baixo) e Tony Williams (bateria).
Nos anos 1970, criou o Weather Report, que além dele abrigou durante os seus 15 anos de atividade músicos do porte de Joe Zawinul (teclados), Jaco Pastorius (baixo) e o percussionista brasileiro Airto Moreira, entre outros. E foi a partir dessa época que ele começou a se abrir para trocar experiências com músicos de outros gêneros musicais.
Com Milton Nascimento, por exemplo, ele iniciou em 1975 uma parceria que rendeu inicialmente um álbum que se tornou antológico, Native Dancer (1975). Eles se tornaram grandes amigos e fizeram várias colaborações posteriores, sempre repletas de emoção.
Entre elas, destaca-se o maravilhoso álbum A Barca dos Amantes (1986), gravada ao vivo em São Paulo no extinto Projeto SP ainda em sua primeira versão, na rua Caio Prado e com o formato de um circo. Shorter participa das faixas Tarde, Nós Dois, Pensamento e Maria Maria. Foi o primeiro show realizado por eles em dupla, em abril de 1986.
Shorter marcou presença em 10 álbuns da cantora e compositora canadense Joni Michell entre 1977 e 2002, entre os quais se destacam Mingus (1979), Dog Eat Dog (1985) e Turbulent Indigo (1994).
O belíssimo solo de End Of The Innocence, composição de Don Henley e Bruce Hornsby gravada pelo cantor dos Eagles em 1989 em seu álbum solo de mesmo nome, é dele. Outro solo marcante de Shorter está na faixa-título do álbum Aja (1977), do Steely Dan.
O músico também trabalhou com outros artistas de vários estilos e gerações, entre os quais o nosso Toninho Horta, Speranza Spalding, Pino Danielle, Michael Landau, Carlos Santana e até mesmo os Rolling Stones, estes últimos no álbum Bridges To Babylon (1997).
Milton Nascimento postou uma belíssima mensagem de despedida para Wayne Shorter, que ele visitou em 2022 quando sua turnê A Última Sessão de Música passou pelos EUA.
Tarde (ao vivo)- Milton Nascimento & Wayne Shorter:
Sabe a brincadeira do “tenho duas notícias, uma boa e a outra ruim?”. Pois cabe feito luva na notícia a seguir. Comecemos com o lado positivo. A Universal Music acaba de disponibilizar na sua loja virtual uma reedição de Água Viva (1978), um dos álbuns mais bem-sucedidos da carreira da saudosa Gal Costa. A parte negativa: cada exemplar custa a bagatela de R$ 169,90, fora o frete (saiba mais aqui).
Ou seja, para quem não estiver nadando em dinheiro, quem sabe valha mais a pena ir atrás de uma edição em CD, ou mesmo de um exemplar em vinil da época ou de outra reedição mais antiga e menos, digamos assim, salgada em termos de preço. Vai do bolso de cada um.
Em termos musicais, Água Viva é um álbum impecável. Seus maiores sucessos são Folhetim (Chico Buarque), que Gal interpretou em um capítulo da novela global Dancin’ Days (1978), e Paula e Bebeto (Milton Nascimento e Caetano Veloso), esta última uma belíssima homenagem ao amor sem preconceitos, fronteiras ou restrições.
Com um total de 12 faixas, traz também um delicioso dueto de Gal com Gonzaguinha em uma composição deste, o sacudido forró moderno O Gosto do Amor. A releitura de Olhos Verdes (Vicente Paiva), sucesso em 1950 na voz de Dalva de Oliveira é outro destaque, entre composições assinadas por craques como Dorival Caymmi, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil, Suely Costa, Moacyr Albuquerque, Ruy Guerra e Abel Silva.
Dos vários álbuns que marcaram a história da nossa música, Clube da Esquina é certamente um dos mais marcantes e icônicos. Os seus 50 anos de lançamento estão sendo celebrados de várias formas, inclusive com uma recém-encerrada última turnê de Milton Nascimento. Um dos marcos certamente será De Tudo Se Faz Canção- 50 Anos do Clube da Esquina, livro que será lançado no Rio de Janeiro nesta sexta (16) às 19h na Livraria da Travessa Leblon (Shopping Leblon- rua Afrânio de Melo Franco, nº 290- loja 205-A).
Organizado por Márcio Borges, um dos grandes parceiros de Milton Nascimento, e por Chris Fuscaldo, jornalista, pesquisadora musical e biógrafa, o livro é um lançamento da editora Garota FM Books, e equivale a um abrangente mergulho no universo que envolve o célebre álbum de Milton Nascimento e Lô Borges. Em suas 300 páginas, o leitor irá encontrar vários tipos de abordagens e informações.
Temos aqui desde depoimentos de quem participou efetivamente do álbum, como Milton, Lô, Márcio Borges e Alaíde Costa, por exemplo, até uma análise faixa a faixa do trabalho, realizada por nomes como Ana Maria Bahiana, Charles Gavin e outros, entre os quais tive a honra de figurar.
A urgência jornalística aparece em um registro no calor do momento da turnê A Última Sessão de Música, que marcou a despedida de Milton Nascimento dos palcos no ano em que o Bituca completou 80 anos de vida. Tipo do livro que tem tudo para se tornar, ele próprio, histórico.
No dia 26 de outubro deste ano, Milton Nascimento completará 80 anos de idade. Como forma de homenagear o nosso querido Bituca, a gravadora Warner colocou pela primeira vez nas plataformas digitais Irmãos Coragem (Nonato Buzar e Paulinho Tapajós). Trata-se da releitura da clássica canção de 1970 que, em 1995, foi usada na abertura do remake da célebre novela global, assinada pela saudosa Janete Clair(1925-1983). A gravação contou com a participação do cantor Leonardo Bretas, e ficou linda, bem próxima da beleza do registro original de Jair Rodrigues (ouça aqui).
Esta faixa fará parte da playlist Milton 80, que será disponibilizada em breve nas plataformas digitais e que incluirá gravações feitas pelo cantor, compositor e músico durante o período em que ele esteve sob contrato com a Warner, entre 1993 e 2003. Nesse período, ele lançou os álbuns Angelus (1993), Amigo (1995), Nascimento (1997), Tambores de Minas – Ao Vivo (1998), Crooner (1999), Gil e Milton (2000) e Pietá (2003), além de Maria Maria/ Último Trem – Trilha Sonora Original dos Ballets (2002).
Irmãos Coragem– Milton Nascimento e Leonardo Bretas:
Há certas dobradinhas que nunca dão errado, ocorram onde e quando ocorrerem. A que envolve Milton Nascimento e seu afilhado artístico Lô Borges se encaixa feito luva nessa descrição. E novamente equivaleu a uma bola no ângulo do goleiro adversário. Os dois colegas do lendário Clube da Esquina estão juntos em Veleiro, primeiro single a ser divulgado do novo projeto de Lô que incluirá parcerias dele com sua esposa, a letrista Patricia Maês. A balada roqueira com teor psicodélico já está nas plataformas digitais via gravadora Deck e também é divulgada por um belo lyric video.
A nova música, e por tabela o álbum como um todo, trará como novidade o fato de Lô ter deixado a guitarra e o violão de lado por enquanto para investir em um órgão, no qual compôs e tocou as canções. Trata-se de uma novidade em sua carreira. Além dele, participaram das gravações Henrique Matheus (guitarra, violão e bandolim), Thiago Corrêa (baixo, teclados e percussão) e Robinson Matos (bateria). O novo álbum ainda não tem data de lançamento divulgada.
Veleiro (lyric video)- Lô Borges e Milton Nascimento:
Pode uma garota brasileira de 15 anos de idade desembarcar sozinha em fevereiro de 1967 na efervescente Londres daqueles anos psicodélicos e em alguns meses se tornar uma verdadeira testemunha ocular de um dos momento mais importantes da carreira de ninguém menos do que os Beatles? Mais: participar de uma gravação dos Fab Four? Essa foi a cereja no bolo da trajetória de Lizzie Bravo, que, no entanto, fez muitas outras coisas relevantes, como ser musa de um grande clássico da nossa música. Ela infelizmente nos deixou nesta segunda (4) aos 70 anos, vítima de problemas cardíacos.
Elizabeth Villas Boas Bravo nasceu em 29 de maio de 1951, e foi uma das primeiras brasileiras a mergulhar de cabeça no som dos Beatles, ao ouvir o álbum Meet The Beatles (1964) que seu pai trouxe dos EUA. Nascia ali uma paixão pelo grupo e, em particular, por John Lennon. E a amiga Denise Werneck teve uma ideia, logo encampada por Lizzie (cujo apelido ela tirou da música Dizzy Miss Lizzy, clássico do rock de autoria de Larry Williams e regravada pelo grupo no seu álbum Help!, de 1965): pedir aos pais de presente uma viagem a Londres.
Lizzie desembarcou em Londres em fevereiro de 1967, e logo se tornou uma frequentadora da porta dos estúdios Abbey Road, onde os Beatles gravavam seus discos, e também da casa de alguns deles. Naquela época, especialmente em Londres, os astros do rock eram muito mais acessíveis do que se tornariam não muito tempo depois, e a adolescente carioca conseguiu aos poucos se tornar uma quase amiga de John, Paul, George e Ringo.
No seu excelente livro Do Rio a Abbey Road (2015), ela relata como foi esse período no qual, afora trabalhos para conseguir se manter melhor na capital inglesa, suas tarefas básicas eram se manter atualizada sobre os lançamentos e novos rumos do grupo e também conseguir autógrafos, fotos e algumas conversas com os músicos. Na base da simpatia e da paciência, foi absolutamente vitoriosa no seu intuito, como provam as belas fotos contidas no livro.
Vale registrar que, nesse período, os Beatles viviam uma fase particularmente iluminada de sua brilhante trajetória, gravando Sgt. Peppers, Magical Mystery Tour e Abbey Road e consolidando de uma vez por todas a sua presença no panteão da música popular.
Lizzie permaneceu em Londres em dois períodos: de fevereiro de 1967 a abril de 1968, e de outubro de 1968 a outubro de 1969. Por lá, fez amizades com outros fãs e tirou a sorte grande em 4 de fevereiro de 1968, um domingo, quando Paul McCartney perguntou às garotas que estavam próximas ao estúdio Abbey Road se alguma delas conseguiria sustentar notas agudas. A nossa conterrânea afirmou positivamente, e depois levou outra amiga, a inglesa Gayleen Pease, para auxiliá-la. Dessa forma, participaram da versão original de Across The Universe.
A belíssima canção, assinada por Lennon e McCartney mas na verdade de total autoria do primeiro, acabou deixada de lado como um possível single do grupo. Em dezembro de 1969, no entanto, foi lançada como parte da coletânea inglesa No One’s Gonna Change Our World- The Stars Sing For The World Wide Fund, ao lado de gravações de dez outros artistas de ponta, entre os quais Bee Gees, The Hollies e Cilla Black.
Across The Universe entrou no repertório do álbum Let It Be (1970), mas em uma versão alterada que retirou os vocais de Bravo e Pease. Rara durante uns bons anos, a única gravação dos Beatles a incluir alguém do Brasil só voltaria a ser acessível ao entrar no repertório das duas versões do álbum Rarities (1980) e no volume 2 da coletânea Past Masters (1988).
Nem é preciso dizer que essa gravação tornou Lizzie Bravo uma figura sempre relembrada pelos fãs-clubes dos Beatles nas décadas seguintes, algo que se ampliou ainda mais com o advento da internet. Posteriormente, ela teve a oportunidade de rever Paul McCartney (em uma entrevista coletiva, em 1990, na qual o ex-beatle a reconheceu), George Harrison e Ringo Starr. Lennon, o seu favorito, infelizmente nos deixou antes de que ela pudesse reencontrá-lo.
Para quem acha que a história de Elizabeth parou por aqui, recupere o fôlego, pois vem mais coisas boas por aí. Em 1970, ao voltar ao Brasil, conheceu o cantor, compositor e músico Zé Rodrix, com o qual foi casada por dois anos. Em parceria com Tavito, ele compôs, inspirado nela, o clássico da MPB Casa no Campo, cuja gravação definitiva é a de Elis Regina. Em sua letra, a música fala de uma “esperança de óculos” (Lizzie) e o sonho de ter um “filho de cuca legal”, que veio na forma de Marya, nascida em outubro de 1971 e hoje cantora e atriz.
No decorrer de sua trajetória profissional, Lizzie foi vocalista de apoio de artistas do gabarito de Milton Nascimento, Joyce Moreno, Zé Ramalho, Ivan Lins, Djavan, Egberto Gismonti, Toninho Horta e Geraldo Azevedo, entre outros, participando de discos e shows deles. Também atuou como fotógrafa para artistas e gravadoras, e morou em Nova York de 1984 a 1994, atuando na área cultural.
O projeto de seu livro teve início em 1980, mas foi interrompido devido à trágica morte de John Lennon. Ela o retomou em 1984, novamente sem o levar adiante. Só em 2015 essa belíssima obra se concretizou, com uma tiragem inicial que se esgotou em 2017 (comprei um dos últimos exemplares, em julho de 2017. Ela preparava uma nova fornada de livros, assim como uma edição em inglês, que provavelmente serão viabilizadas por Marya.
Across The Universe (original version)- The Beatles:
Mais um item bacana será adicionado à coleção Clássicos Em Vinil. Trata-se do álbum Matança do Porco (1973), da banda Som Imaginário, considerado um dos clássicos da música brasileira dos anos 1970, com sua criativa fusão de rock progressivo, psicodelia e música popular brasileira. O lançamento chegará ao mercado discográfico exclusivamente no formato vinil de 180 gramas em novembro, em uma parceria da Polysom com a gravadora Universal Music.
Criada em 1970 inicialmente para ser grupo de apoio de Milton Nascimento e com participação decisiva no álbum Milton (1970), esta banda estava com a seguinte formação na época em que lançou Matança do Porco, seu terceiro trabalho discográfico: Wagner Tiso (piano e órgão), Luiz Alves (baixo), Fredera (guitarra) e Robertinho Silva (bateria).
O álbum contém nove faixas, entre as quais Matança do Porco, épica e com as participação especiais do Bituca de Três Pontas e dos Golden Boys, e Armina- Vinheta 2. Após décadas fora de cena, a Som Imaginário retornou em 2012, e desde então realiza alguns shows, sempre sob o comando de Wagner Tiso.
Zélia Duncan é a artista dos mil projetos. Além de uma bem-sucedida carreira solo que teve início há 31 anos, esta cantora, compositora e instrumentista oriunda de Niterói (RJ) já fez parcerias e participou de trabalhos com os mais diversos e distintos artistas. Seu mais novo fruto é o CD Invento +- Zélia Duncan e Jaques Morelenbaum Interpretam Milton Nascimento (Biscoito Fino), duo com o consagrado produtor e músico carioca.
O álbum consiste em um dueto da bela voz de Zélia com o violoncelo exemplar de Jaques. Como ingrediente, 14 pérolas extraídas do repertório do adorável Bituca de Três Pontas. Um projeto com feições camerística e minimalista, no qual os parceiros musicais nos trazem a essência de cada uma dessas canções, respeitando as melodias e as reapresentando com uma roupagem inusitada que muito provavelmente agradará a quem curte as leituras originais do astro da MPB.
A seleção de repertório se concentra especialmente na obra do Milton da década de 1970, sem sombra de dúvidas seu momento máximo em termos de criação. Além de compor com maestria, o carioca de berço e mineiro de criação sabia como poucos escolher obras de seus amigos e colegas, tornando-as suas com essa voz incrível que a gente reconhece logo nos primeiros segundos em que ela é emitida por tal mago.
Zélia abraça cada melodia com evidente respeito e à sua moda, enquanto Morelenbaum se vale de seu cello para tecer sonoridades encantadoras, emulando alguns momentos dos arranjos originais e também criando novas colorações para emoldurar essas maravilhas musicais. Nada mais difícil do que respeitar e ao mesmo tempo inovar obras perfeitas em suas versões clássicas, e é exatamente esse o feito concretizado aqui por esses dois experientes artistas.
Ponta de Areia, Caxangá, Mistérios, Cravo e Canela, Cais (de cujos versos foi extraído o título bacana do álbum, Invento +) e San Vicente são destaques em um álbum que prova de forma veemente que, sim, é possível mergulhar em uma seleção de músicas devidamente consagradas e já ouvidas de diversas formas e sair desse mergulho com um trabalho ao mesmo tempo reverencial e ousado/criativo.
A primeira entrevista coletiva a gente nunca esquece. A número um deste jornalista especializado em música que vos tecla ocorreu precisamente em um 15 de agosto de 1985. O artista em questão era Milton Nascimento, e o local, uma das salas do então badalado hotel Maksoud Plaza, localizado na Alameda Campinas, 150, perto da Paulista.
Fui convidado pelo Valdimir D’Angelo, figura fantástica a quem fui apresentado pelo músico, jornalista e amigo Ayrton Mugnaini Jr. em uma feira de compra, venda e troca de discos realizada naquela época em uma loja, a Golden Hits, situada em uma travessa da Rua Augusta (rua Mathias Aires, para ser mais preciso), próxima à Pàulista e na qual fiz belos negócios com discos de vinil.
D’Angelo, que depois seria até meu padrinho de casamento, era o editor de uma publicação que em breve chegaria à bancas, a Revista de Som & Imagem, e em cujo número 1 seriam publicadas minhas primeiras matérias como jornalista profissional. Ele me levou na coletiva para eu conhecer o ambiente do jornalismo especializado em música.
E posso dizer que comecei bem e mal, ao mesmo tempo. Bem, pois tive a cara de pau de fazer logo a primeira pergunta da coletiva. Mal porque eu perguntei ao Bituca se Milton Nascimento Ao Vivo (1984), seu então mais recente LP, havia sido o primeiro disco de ouro da carreira dele, e ouvi um não como resposta. E bem de novo, pois não perdi o fio da meada e consegui fazer uma nova e boa pergunta, de bate-pronto, sem perder o pique. Virei o jogo!
Ao fim da concorrida coletiva, da qual participaram jornalistas de todos os órgãos bacanas de imprensa da época, não só peguei um autógrafo dele, como também tirei uma foto simplesmente hilária, na qual apareço atrás do Milton (que autografava alguns discos), enquanto eu fazia sinal de positivo, sorria e posava na maior cara de pau. Um ingênuo idealista no fosso dos crocodilos…
Nessa coletiva, encontrei com a Silvana Silva, colega de Cásper Líbero que já estava há algum tempo trabalhando como reporter de TV. Aquela seria apenas a primeira de incontáveis entrevistas coletivas de que participei com Deus e o mundo, em termos de música.
A segunda entrevista com o autor de Travessia da qual participei ocorreu em 1986, na primeira versão do extinto Projeto SP, situado em um circo montado na rua Caio Prado, pertinho da avenida Consolação. Ele estava lá junto com o músico americano Wayne Shorter, com o qual iria gravar lá, ao vivo, o sublime álbum A Barca dos Amantes (1986).
Ironia: no dia seguinte, o Estado de S.Paulo publicou matéria sobre a coletiva, e na foto publicada, lá estou eu, da cintura para baixo. Teria sido eu, naquela ocasião, o primeiro caso de um “barriga de pirata”, ao invés de papagaio de pirata?
Reencontraria o mesmo Milton em 1987, desta vez no escritório da então CBS (hoje Sony Music), que na época ficava no início da avenida Pedroso de Moraes, em Pinheiros. Também tenho fotos dessa ocasião.
Teria depois outras boas oportunidades de entrevistar o Bituca de Três Pontas, uma figura sempre tímida, mas simpática e adorável. E vamos ser sinceros: sou muito fã dele, embora saiba reconhecer que sua discografia comporta tanto títulos sublimes como alguns bem irregulares, do tipo Yauaretê (o álbum que ele lançou em 1987).
Ah, e tive a honra de estar na plateia, no Teatro Cultura Artística, em São Paulo, quando Milton gravou outro álbum ao vivo, O Planeta Blue Na Estrada do Sol, lançado em 1992.
Como os raros leitores de Mondo Pop sabem, fui em 2011 no belíssimo show de lançamento do álbum …E A Gente Sonhando, na Via Funchal. Publiquei resenha aqui. E que venha a próxima entrevista com o Milton! E o próximo show, também!
Encontros e Despedidas, com Milton Nascimento, versão de estúdio:
ÚLTIMOS COMENTÁRIOS