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George Martin, esse produtor genial, nos deixa aos 90 anos

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Por Fabian Chacur

Pode um sim mudar não só a vida dos envolvidos em um determinado acontecimento, como também a história da música? Pois essa palavra mágica foi proferida em 1962 por um certo George Martin, contratando dessa forma os então desconhecidos e rejeitados Beatles para o pequeno selo Parlophone. O que aconteceu a partir dali, todos sabemos. Infelizmente, esse gênio nos deixou, por causas ainda não reveladas, aos 90 anos. O produtor por excelência.

Nascido na Inglaterra em 3 de janeiro de 1926, George Martin serviu a Marinha de seu pais e logo a seguir entrou na Guildhall School Of Music And Drama, na qual aprendeu composição, orquestração e a tocar o oboé. Ele começou a atuar no meio musical no Parlophone, pequeno selo ligado à gigante EMI, e depois de alguns anos se tornou o diretor de A&R de lá em 1955. Os discos de comédia que produziu para Peter Sellers e Peter Ustinov se tornaram famosos, e um de seus fãs era John Lennon.

Os Beatles e seu empresário Brian Epstein levaram sua fita demo para a Parlophone em total desespero, pois até ali já haviam sido rejeitados por literalmente todas as gravadoras atuantes na Inglaterra, incluindo a matriz do selo dirigido por Martin. A principal rejeição havia sido da Decca, e foi com as gravações que eles fizeram nos estúdios dessa gravadora que o grupo tentou seduzir Martin.

O produtor ouviu e não curtiu muito, mas teve sensibilidade suficiente para perceber que havia algo importante ali, só que ainda mal trabalhado. Em junho de 1962, ele resolveu contratar a banda, embora não botasse muita fé em seu baterista, Pete Best. A troca por Ringo Starr acabou ocorrendo durante as gravações do primeiro compacto da banda, Love Me Do. Surgia uma parceria histórica.

A colaboração entre George Martin e os Beatles se tornou perfeita pelo fato de o produtor ter uma formação musical sólida, que se tornou decisiva conforme os Fab Four foram ampliando os seus horizontes musicais. Além disso, tinha uma paciência interminável para encarar os egos daqueles jovens talentosos, como demonstrou ao sugerir a inclusão de um quarteto de cordas na gravação da música Yesterday, algo que Paul McCartney não admitia inicialmente.

Difícil imaginar álbuns elaborados como Rubber Soul, Revolver, Sgt. Peppers, The Beatles (o álbum branco) e Abbey Road sem a batuta de George Martin. Ele foi um dos responsáveis pela solidificação da aproximação do rock com a música erudita, e pela perfeita simbiose entre esses segmentos tão distintos do cenário musical.

A partir de 1965, Martin deixou a EMI e se tornou um dos primeiros produtores independentes na Inglaterra, além de criar seu próprio estúdio, o Air, que entre 1979 e 1989 teve uma filial na paradisíaca Montserrat, no Caribe, onde The Police, The Rolling Stones e Stevie Wonder gravaram. Pena que uma catástrofe tropical (o funesto furacão Hugo) acabou arrasando com aquele estúdio dos sonhos, anos depois.

Com o fim dos Beatles, George Martin continuou firme e forte sua trajetória. Trabalhou com Paul McCartney, o beatle mais apegado a ele, em Live And Let Die (canção tema de filme da franquia James Bond) e nos álbuns Tug Of War (1982), Pipes Of Peace (1983), a trilha do filme Give My Regards To Broad Street (1984) e Flaming Pie (1997).

Se tivesse trabalhado “apenas” com os Beatles, George Martin já mereceria canonização. Mas ele também produziu discos e faixas de outros grandes nomes da música, entre os quais America, Cheap Trick, Mahavishnu Orchestra, Jeff Beck, Kenny Rogers, Ella Fitzgerald e Neil Sedaka. Ele compôs música incidental para vários filmes, sendo a melhor a de Yellow Submarine (1968), com a sublime Pepperland.

George Martin gravou alguns discos, como Off The Beatles Track (1964), que traz versões instrumentais dos sucessos dos Fab Four. Em 1997, ele produziu a nova versão de Candle In The Wind, gravada por Elton John em homenagem a Princesa Diana. Em 1998, como forma de marcar a sua despedida da música, devido a problemas de audição que começavam a afligi-lo, ele resolveu lançar um CD de despedida.

Intitulado In My Life, o álbum trouxe onze composições dos Beatles e uma dele (Pepperland Suite) regravadas por astros da música como Phil Collins, Celine Dion, Bobby McFerrin e Jeff Beck, e atores como Goldie Hawn, Sean Connery, Robin Williams e Jim Carrey. O resultado ficou muito bom, e uma das marcas é o fato de ele ter trabalhado com o filho Giles Martin, que herdou o talento do pai e enveredou para o mundo da produção musical, com sucesso.

Para quem deseja saber mais sobre o profissional e o ser humano George Martin, vale assistir Produced By George Martin, documentário lançado em 2012 (saiu em DVD no Brasil) que dá uma bela geral em sua trajetória e traz depoimentos de Paul McCartney, Ringo Starr, Jeff Beck e outros. A humildade e a serenidade do cara eram impressionantes. Ainda bem que ele disse aquele sim no já distante ano de 1962. Eis o que eu chamo de um sim seminal!

Ouça o CD In My Life, de George Martin, em streaming:

Pepperland– George Martin:

Off The Beatle Track- George Martin And His Orchestra:

Maurice White deixa de luto o contagiante mundo do groove

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Por Fabian Chacur

Festa sem os grooves e as melodias do Earth, Wind & Fire não costuma prestar. Pois o criador dessa banda maravilhosa nos deixou nesta quinta-feira (4) aos 74 anos. Maurice White sofria de Mal de Parkinson, que o impediu a partir de 1994 de se apresentar ao vivo com a banda, embora tenha continuado a participar, na medida do possível, de suas gravações. Uma daquelas perdas tão dolorosas, mas tão dolorosas, que só mesmo dançando ao som da sua música para suportar.

Maurice White nasceu em 19 de dezembro de 1941, e teve várias experiências musicais bacanas antes de montar a banda que o tornou conhecido mundialmente, entre elas integrar como baterista o The Ramsey Lewis Trio, de hits instrumentais bacanas como The In Crowd. Não demorou para ele sentir que seu negócio era partir para um trabalho próprio, no qual desenvolveria uma sonoridade nova e repleta de energia e criatividade musical.

A fase inicial rendeu dois discos pela Warner no início dos anos 70, sem grande repercussão, mas já com um trabalho interessante. Foi a partir de uma mudança na formação e da entrada na Columbia Records, ocorrida em 1972, que o grupo começou a pegar forma. White era o cantor, compositor e percussionista, e tinha na kalimba, raro instrumento africano, sua marca registrada. O irmão Verdine White segurava todas no baixo, e Phillip Bailey, com seus vocais em falsete, completou a trinca básica do time, ao lado de outras feras.

Em 1975, o single Shining Star atingiu o topo da parada de singles americana, mesma façanha atingida pelos álbuns That’s The Way Of The World (1975) e o ao vivo Gratitude (1976). A receita: uma mistura de funk, soul, música latina em geral (até a brasileira), rock, jazz e pop, com direito a muita energia positiva, temas transcendentais nas letras e romantismo também, que ninguém é de ferro.

Até o início dos anos 80, o Earth, Wind & Fire ganhou admiradores no mundo todo graças a sua combinação de discos repletos de boas canções e shows energéticos com direito a recursos audiovisuais até então não muito comuns em shows de grupos de black music. Devotion (uma das melhores baladas soul de todos os tempos), September, Boogie Wonderland, Can’t Let Go, Serpentine Fire, Let’s Groove, Let Me Talk, a lista é interminável. E simplesmente irresistível.

A liderança de Maurice White sempre foi positiva, pois ele tinha seu espaço na banda, mas sempre abria as oportunidades para que os outros integrantes brilhassem, além de chamar gente de fora para trabalhar com eles, como o então iniciante tecladista, compositor e músico David Foster, cuja presença no álbum I Am (1979) foi decisiva em faixas como After The Love Is Gone, da qual Foster é um dos autores.

Em 1980, a primeira visita da banda ao Brasil rendeu shows marcantes, como no Maracanãzinho, no Rio, tornando os caras ainda mais populares por aqui. Vale lembrar que eles gravaram Brazilian Rhyme no álbum All ‘N’ All (1977), assinada por Milton Nascimento. O grupo deu uma pequena parada na metade dos anos 1980, mas voltou a partir de 1987, embora sem o mesmo sucesso comercial com novos trabalhos.

Os shows, no entanto, continuaram contagiantes e populares, como vimos aqui no Brasil em 2008 (leia resenha de um dos shows aqui). Mesmo os discos lançados por eles a partir dos anos 90 são interessantes, e neles Maurice White continuava a mostrar seu talento. O Mal de Parkinson, no entanto, o afastou dos palcos, para tristeza dos fãs, embora a banda se mantenha até hoje na estrada, com Verdine e Bailey fazendo as honras da casa com classe.

No excelente documentário Shining Stars: The Official Story of Earth, Wind, & Fire (2001- saiba mais sobre ele aqui), lançado no Brasil pela extinta gravadora ST2, Maurice deu depoimentos nos quais era nítida sua dificuldade em se movimentar e mesmo falar. Uma pena. Esse cara vai deixar muita, mas muita saudade mesmo. E vale lembrar: ele nasceu no mesmo ano (1941) de Martin Balin e Signe Toly Anderson, do Jefferson Airplane. Xô, dona morte!

Devotion (live)- Earth Wind & Fire:

Boogie Wonderland– Earth Wind & Fire e The Emotions:

September– Earth Wind & Fire:

Serpentine Fire– Earth Wind & Fire:

Can’t Let Go– Earth Wind & Fire:

Signe Anderson nos deixa no mesmo dia de Paul Kantner!

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Por Fabian Chacur

A vida às vezes nos prega umas peças duras de serem aceitas. No dia 28 de janeiro de 2016, ou seja, há apenas cinco dias, lamentei profundamente a morte de Paul Kantner, fundador de uma de minhas bandas favoritas, a Jefferson Airplane (leia aqui). Pois aquele dia ainda teve outra surpresa lamentável para mim. Só agora fiquei sabendo que outro integrante da mesma banda se foi na mesma data de Kantner. Trata-se de Signe Anderson, a primeira vocalista do grupo. Dá para encarar?

Signe Toly Anderson morreu no mesmo dia 28 de janeiro de 2016 em que Paul Kantner se foi, e com a mesma idade. Ambos nasceram em 1941 e faleceram com 74 anos, sendo que o criador do Airplane fazia aniversário no dia 12 de março, e a cantora no dia 15 de setembro. Ela, que durante a vida teve de lutar contra vários e sérios problemas de saúde, incluindo um câncer ainda nos anos 1970, foi vítima de problemas envolvendo seus pulmões.

Nascida em Seattle e criada em Portland, Oregon, Signe começou seu envolvimento com a música cantando folk e jazz em bandas locais. Ela foi convidada a entrar no Jefferson Airplane quando a banda nem havia ainda sido batizada, em 1965, para ser o grupo residente do bar Matrix, em San Francisco, e provou que tinha muito carisma e uma voz deliciosa e versátil. Em pouco tempo, a banda se destacou no cenário da Bay Area.

Em 1966, o grupo americano lançou seu álbum de estreia, Jefferson Airplane Takes Off, e nele a presença de Signe era marcante. Seus solos vocais em Chauffeur Blues e And I Like It, com fortes pitadas de blues, e na melódica Come Up The Years, com uma vocalização folk e melódica que lembra a dos The Mamas And The Papas, ela mostrou que tinha tudo para se tornar uma das cantoras mais badaladas do rock. Até que….

Ela casou em 1965 e teve sua primeira filha em 1966. Com o tempo, ficou claro que ela não conseguiria cuidar adequadamente da sua garotinha e assumir o posto de cantora de uma das bandas mais solicitadas do rock da época, e em julho anunciou aos colegas que sairia do time. Um pedido do empresário Bill Graham a manteve com eles até outubro, mais precisamente até o dia 15 de outubro.

Naquele dia, Signe fez seus dois derradeiros shows com o Airplane, e um deles foi gravado e lançado apenas em 2010 com o título Live At The Fillmore Auditorium 10/15/1966, como parte da série Collectors Choice Music Live da Sony Music. No dia seguinte, Grace Slick, ex-cantora do grupo The Great Society, assumiu o seu posto, e nos meses seguintes o grupo se tornou um dos mais populares do rock psicodélico.

Enquanto isso, a jovem mamãe voltou para Oregon, cantando com o grupo Carl Smith And The Natural Gas Company, na qual se manteve até os anos 1970. Era uma banda pequena e local, que lhe permitia cuidar da sua menina. E logo viria outra filha. Ainda naqueles anos, teve de lutar contra um câncer, mas felizmente se safou, mas a saúde sempre lhe pregou peças, nos anos que se seguiriam.

Alguns sortudos tiveram a chance de ver canjas eventuais dadas por Signe Anderson com o Jefferson Starship, o Hot Tuna e a KBC Band, o máximo que ela se aproximou novamente do mainstream do rock. Em deliciosa entrevista concedida em 2010 à radialista Iris Harrison (ouça aqui ), Signe se mostrou jovial e nada arrependida de sua decisão. “Você tem de ver as prioridades em sua vida, o que de fato importa, e a minha filha precisava de mim”, comenta, sobre sua saída do Airplane.

Jefferson Airplane: Live at The Fillmore Auditorium 10/15/66 Signe’s Farewell (conheça as músicas incluídas no CD):

1.”Jam” (Signe Anderson, Paul Kantner, Marty Balin, Jorma Kaukonen, Jack Casady, Spencer Dryden)
2.”3/5 of a Mile in 10 Seconds” (Balin)
3.”Runnin Round This World ” (Balin, Kantner)
4.”Tobacco Road” (John D. Loudermilk)
5.”Come Up The Years” (Balin, Kantner)
6.”Go To Her” (Kantner, Irving Estes)
7.”Fat Angel” (Donovan Leitch)
8.”And I Like It” (Balin, Kaukonen)
9.”In the Midnight Hour” (Wilson Pickett, Steve Cropper)
10.”Goodbye To Signe 1″ (Balin)
11.”Chauffeur Blues” (Lester Melrose)
12.”High Flyin’ Bird” (Billy Edd Wheeler)
13.”Goodbye To Signe 2″ (Bill Graham)

Chauffeur Blues– Jefferson Airplane:

And I Like It– Jefferson Airplane:

Come Up The Years– Jefferson Airplane:

Paul Kantner: como eu virei fã do incrível Jefferson Airplane

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Por Fabian Chacur

Mais uma vez faço um post doloroso aqui em Mondo Pop. Meus ídolos andam dando adeus ao mundo em doses muito grandes, nos últimos tempos. Desta vez, foi Paul Kantner, cantor, guitarrista e compositor americano, criador de uma de minhas bandas favoritas, a Jefferson Airplane. Ele nos deixou nesta quinta-feira (28), vitima de falência múltipla de órgãos, após ter tido um ataque cardíaco no início desta semana. Perda mais do que lamentável.

Em 1978, como parte integrante da trilha sonora da novela global O Pulo do Gato, a música Count On Me fez sucesso no Brasil. Ao comprar esse LP, tive contato pela primeira vez com uma música do que chamaria de “Família Airplane”. Com a nave mãe, ou seja, o Jefferson Airplane, só fui ter contato lá pelos idos de 1982-1983. E foi graças ao amigo jornalista Ayrton Mugnaini Jr., em duas ações decisivas por parte dele.

A primeira foi me vendendo, a preço módico, raras edições da seminal revista brasileira Rock, dos anos 70, com biografias bacanas de várias bandas, entre elas a Jefferson Airplane. Ao ler sobre eles, fiquei curioso para saber como era o som dos caras, e o Mug, de forma generosa, emprestou-me os dois Lps que tinha do grupo americano, After Bathing At Baxter’s e Volunteers. Aí, como diria o poeta, danou-se. Vício!.

O próximo passo foi ir nos sebos da vida atrás desses dois discos e também dos outros do JA. Foi duro, visto que apenas o primeiro saiu por aqui, e era até mais raro do que os importados. Aos poucos, completei a coleção, lá pelos idos de 1985. Nem é preciso dizer que, na onda, acabei também indo atrás de vários trabalhos do Jefferson Starship e de outras configurações musicais envolvendo integrantes do JA.

Paul Kantner era uma espécie de mestre zen da banda, que criou em 1965 em San Francisco com o também genial cantor e compositor Marty Balin. Desde o início, a sonoridade dos caras apontava para novos rumos em termos sonoros, embora tenha começado mais próximo do folk rock com boas harmonias vocais a la Byrds e The Mamas And The Papas. O 1º disco, Jefferson Airplane Takes Off (1966), apontava nessa direção.

Naquele mesmo ano, duas trocas na formação se mostraram decisivas na orientação musical do grupo. A boa cantora Signe Anderson deixou a carreira musical, e foi substituída por Grace Slick, até então vocalista do grupo Great Society e que trouxe com elas as músicas White Rabbit e Somebody To Love. A outra alteração veio com a saída do adaptado baterista Skip Spence (que depois montaria a ótima banda Moby Grape, tocando guitarra e cantando).

Se Kantner era o compositor intelectualizado e ligado a ficção científica e temas do gênero, Marty Balin era paixão pura, especialmente na hora de cantar. Grace tornou-se a parceira ideal para harmonizar com os outros dois, em combinações vocais ácidas, ardidas e repletas de beleza. Mas que atingiam o auge graças ao acompanhamento instrumental de seus colegas de time: Jack Casady (baixo) e Jorma Kaukonen (guitarra).

Unidos ao novo baterista, Spencer Dryden, com suas influências jazzísticas, Casady e Kaukonen acresceram ao som do Airplane uma imprevisibilidade matadora. Isso, sem cair em uma maluquice completa. Som psicodélico de primeira, provavelmente o melhor feito no cenário musical americano. E Surrealistic Pillow (1967), seu segundo álbum, os levou aos primeiros lugares da parada ianque.

After Bathing At Baxter’s veio ainda em 1967, e é provavelmente o meu álbum favorito de rock psicodélico, levando ainda mais longe as ousadias do álbum anterior e entrando em uma fusão sonora que inclui até elementos de bossa nova, dá pra encarar? Nunca vou me esquecer da primeira vez que ouvi esse álbum. E que fique registrado: nunca me vali de drogas para ouvir os discos do grupo. Desnecessários esses aditivos para apreciar música tão ousada e boa.

Em 1968, veio Crown Of Creation, espécie de síntese da concisão de Pillow com a piração de Baxters, gerando outro trabalho clássico. E em 1969, era a vez do engajado Volunteers, com sua enfurecida faixa título e maravilhas como Wooden Ships (parceria de Paul Kantner com os amigos David Crosby e Stephen Stills), mantendo a aeronave nas alturas da qualidade musical. De quebra, suas participações nos festivais de Monterey (1967) e Woodstock (1969) os projetaram ainda mais perante os roqueiros mais antenados.

Vale ainda citar o álbum ao vivo Bless Its Pointed Little Head, lançado em 1969 e um belo registro dessa fase áurea do Airplane, com direito a versões turbinadas e aceleradas de seus hits e também algumas faixas inéditas na interpretação do grupo, como a deliciosa Fat Angel, de Donovan Leich, e The Other Side Of This Life, do grande compositor Fred Neil, o autor da célebre Everybody’s Talking, trilha do filme Midnight Cowboy e gravada por Harry Nilson.

Aí, veio a tempestade. Inicialmente com a participação da banda no desastrado festival de Altamont, promovido em 1969 pelos Rolling Stones nos EUA, no qual Marty Balin foi atacado em pleno palco. Parecia o prenúncio de tempos não muito bons. E para a banda não foram mesmo. Balin saiu fora, Spencer Dryden também, e quando voltou, em 1971, o Airplane não era mais o mesmo. Lançou dois discos de estúdio irregulares (Bark, de 1971 e Long John Silver, de 1972) e o ao vivo Thirty Seconds Over Winterland (1973) e saíram de cena.

Em 1970, no entanto, surgia a semente do que viria a ser o futuro de Paul Kantner. Ele resolveu aproveitar um período de parada do Airplane e gravou e lançou naquele mesmo ano o primeiro disco solo, Blows Against The Empire, com temática de ficção científica, ótimas músicas como Mau Mau (Amerikon), Have You Seen The Stars Tonite? e A Child Is Coming e participações especiais de gente como Grace Slick, Jack Casady, Jerry Garcia, Mickey Hart e David Freiberg.

O álbum veio creditado a Paul Kantner e Jefferson Starship, nome de certa forma brincando com a temática futurista das canções incluídas nele. Mas esse nome acabou sendo escolhido por Kantner para a banda que sucederia o Airplane. Antes, Kantner lançaria álbuns em dupla com a então esposa Grace Slick e também um com o casal e o músico David Freiberg. Seria o embrião para o que viria a seguir.

Com uma proposta um pouco mais pop, mas não menos roqueira, o Jefferson Starship lançou seu primeiro álbum em 1974, Dragonfly, com boa repercussão e músicas bacanas como Ride The Tiger, uma das grandes composições de Paul Kantner. Dos tempos do Airplane, sobraram Kantner, Slick e, na última hora, Balin. O álbum seguinte, Red Octopus, chegou ao primeiro lugar na parada americana, façanha que a nave original só conseguiu nas paradas de singles.

Até o início dos anos 80, o Jefferson Starship continuou frequentando as paradas de sucesso, com hits como Count On Me e Jane. Até que Paul Kantner resolveu sair fora do time, que a partir dali virou Starship, mantendo apenas Grace Slick dos bons tempos e emplacando hits mais pop como We Built This City e Sarah.

Enquanto isso, Paul Kantner montou uma nova banda com dois ex-colegas de Airplane, a KBC Band, ao lado de Marty Balin e Jack Casady. Rendeu um único (e bacana) disco em 1986. Aí, em 1988, a surpresa: a volta do Airplane com sua formação clássica (sem Spencer Dryden), para o lançamento de um único disco (autointitulado) e nada muito além disso. Paul Kantner voltou a ficar mais visível a partir de 1992.

Foi naquele ano que ele reviveu a marca Jefferson Starship, inicialmente com o nome adicional The Next Generation. Shows vieram, com participações de antigos colegas da família Airplane, como Grace Slick, Jack Casady e Marty Balin. Em 1999, lançaram o ótimo CD Windows Of Heaven, incluindo faixas como a empolgante I’m On Fire, de Paul Kantner e participação destacada de Grace Slick nos vocais. O último CD de inéditas, Jefferson’s Tree Of Liberty, saiu em 2008.

Em 2013, o Jefferson Starship esteve no Brasil e tocou no Manifesto Bar, em São Paulo, no dia 8 de agosto. Na formação, além de Paul Kantner, outro conhecido: David Freiberg, que integrou o Airplane em sua fase final e o Starship nos anos 1970. Infelizmente, o ingresso caro me impediu de ver o show. Ah, se arrependimento matasse…

Ouça Blows Against The Empire- Paul Kantner e Jefferson Starship:

Wooden Ships– Jefferson Airplane:

Ride The Tiger– Jefferson Starship:

Morre Glenn Frey, 67, um dos fundadores da banda Eagles

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Por Fabian Chacur

As mortes de nomes importantes no cenário musical estão aumentando de forma exponencial nos últimos tempos. Dá medo. Uma semana após David Bowie, agora é a vez do americano Glenn Frey nos deixar, nesta segunda-feira (18), aos 67 anos. Cantor, compositor e guitarrista, ele era o líder, ao lado do baterista, cantor e compositor Don Henley, dos Eagles, uma das bandas de rock mais bem sucedidas em termos comerciais da história do rock.

Nascido em Detroit no dia 6 de novembro de 1948, Glenn Frey deu seus primeiros passos rumo à fama tocando com o roqueiro Bob Seger (que ficou bem mais famoso nos anos 1970), no final da década de 60. Pouco depois, mudou-se para Los Angeles, onde montou com o cantor e compositor J.D. Souther a banda Longbranch Pennywhistle, que lançou um único álbum em 1969, sem muito sucesso.

Ambicioso, Frey encontrou o parceiro perfeito em 1970, Don Henley. Ambos queriam montar uma banda que pudesse explorar o então emergente country rock com a mesma qualidade técnica e artística dos Beatles. Ao lado de Bernie Leadon (guitarra) e Randy Meisner (baixo e vocal), criaram um time que chegou a acompanhar em 1971 a também iniciante cantora Linda Ronstadt. Não demorou para eles resolverem seguir seu próprio caminho, o que ocorreu em 1972.

The Eagles, o primeiro álbum, foi surpreendentemente gravado na Inglaterra, tendo como produtor Glyn Johns, conhecido por seus trabalhos com o The Who, The Who e os Rolling Stones, e inclui o primeiro hit dos caras, o delicioso country rock Take It Easy. Desperado, o segundo álbum, saiu em 1973, e com sua concepção conceitual não teve tanto sucesso, levando a banda a buscar novos rumos.

On The Border (1974) teve apenas duas músicas produzidas por Johns, com o resto do repertório ficando nas mãos de Bill Szymczyk e trazendo a entrada do guitarrista Don Felder. Ironicamente, o grande hit do álbum foi uma das duas trabalhadas por Glynn, a belíssima balada The Best Of My Love, que chegou ao primeiro lugar nos EUA como single.

Estava aberto o caminho para um estouro de verdade para o agora quinteto, que veio logo a seguir com o álbum One Of These Nights, primeiro trabalho da banda a atingir o topo da parada ianque. O sucesso do grupo foi tão grande que justificou poucos meses depois o lançamento da coletânea Their Greatest Hits 1971-1975, que vendeu 29 milhões de cópias e que só perdeu recentemente para Thriller, de Michael Jackson, a marca de álbum mais vendido da história nos EUA.

Com a saída de Bernie Leadon, o time cresceu com a entrada do já badalado pela crítica e público Joe Walsh, guitarrista, cantor e compositor que tinha em seu currículos bons trabalhos solo e com a banda James Gang. Sua estreia foi triunfal, em 1976, com o álbum Hotel California (1976), cuja faixa título se tornou um dos grandes standards do rock, apreciada por milhões de pessoas no mundo todo.

A fama manteve a banda na estrada o tempo todo e tornou complicada a gravação de um novo álbum, especialmente por causa dos problemas entre os músicos. The Long Run veio finalmente em 1979, com Timothy B. Schmidt na vaga de Bernie Meisner, e vendeu muito, considerado por alguns como seu melhor trabalho, mas a banda não conseguiu segurar a onda e em 1980, após uma briga feia entre Glenn Frey e Don Felder no fim de um show, encerrou suas atividades.

O clima entre os ex-colegas da banda após seu final era tão pesado que, ao ser perguntado sobre se seria possível um retorno, um de seus integrantes afirmava que isso só ocorreria “quando o inferno congelasse”. Enquanto isso não ocorria, todos investiam em projetos solo, sendo que Don Henley ficou com o respeito da crítica.

Henley também vendia muitos discos, enquanto seu ex-parceiro Frey ficou só com boas vendagens, pois os analistas musicais achavam sua obra solo muito comercial. Seja como for, ele emplacou músicas bem bacanas nos anos 1980, entre as quais The Heat Is On (tema do filme Um Tira da Pesada) e duas da trilha do seriado televisivo Miami Vice, You Belong To The City e Smuggler’s Blues, simples e diretas.

Em 1993, os grandes astros da música country de então resolveram gravar um álbum relendo músicas dos Eagles, a compilação Common Thread-The Songs Of The Eagles, e um dos participantes, Travis Tritt, convidou os ex-colegas de Eagles para participar do clipe de sua releitura (muito legal, por sinal) de Take It Easy. Eles se divertiram, começaram a conversar e….isso mesmo, o inferno congelou legal!

Com o divertido título Hell Freezes Over, os Eagles voltaram à ativa em 1994 com um ótimo disco ao vivo incluindo quatro faixas inéditas gravadas em estúdio, entre elas Get Over It, com a cara despretensiosa e direta do trabalho de Frey. O CD bateu no primeiro posto da parada americana, e a partir daí, a banda volta e meia encarava novas turnês, com direito a um novo e ótimo disco duplo de inéditas em 2007, Long Road Out Of Eden, outro campeão de vendagens.

A história da banda foi contada com maestria, belos depoimentos recentes e muito material bacana de estúdio no documentário History Of The Eagles (2013), lançado em DVD inclusive no Brasil. Nele, dá para viajar na trajetória de uma banda que, se não brilhou artisticamente como Beatles, Rolling Stones e outras desse porte, nos deixou um legado dos mais consistentes. Sim, deixou, pois dificilmente o time irá adiante sem Frey. O depoimento de Don Henley deixa isso bem evidente, embora não com todas as letras.

Take It Easy– The Eagles:

The Best Of My Love– The Eagles:

Get Over It– The Eagles:

Heartache Tonight – The Eagles:

The Heat Is On– Glenn Frey:

David Bowie e as lembranças de um grande ídolo do rock

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Por Fabian Chacur

David Bowie nos deixou neste domingo (10), apenas dois dias após completar 69 anos de idade. Conforme comunicado oficial de seu manager, o cantor, compositor e músico britânico lutava há 18 meses contra um câncer, o que não o impediu de gravar Black Star, novo álbum que lançou no dia de seu aniversário e que chegará às lojas brasileiras em breve. Uma perda para o mundo das artes do tamanho…do mundo!

O som de David Bowie entrou na minha vida no já longínquo ano de 1975, quando meu saudoso irmão Victor comprou um compacto simples que incluía Young Americans e Sufragette City. A primeira logo se tornou uma das minhas músicas favoritas, com sua levada soul-funk e vocais que evocavam Elvis Presley, curiosamente nascido no mesmo dia e mês que ele (8 de janeiro, só que de 1935, enquanto Bowie nasceu em 1947).

Sufragette City, de 1972, do seminal álbum Ziggy Stardust And The Spiders From Mars, só foi devidamente compreendida por mim depois de vários anos. Não muito tempo depois, em 1976, Golden Years fez parte de trilha de novela e deu sequência a minha experiência em relação à obra desse grande artista. No início dos anos 1980, comprei duas coletâneas e começava a ampliar minha coleção dele.

Com o estouro de Let’s Dance (1983), e mesmo um pouco antes, já estava indo atrás dos discos anteriores lançados pelo astro britânico. Vale lembrar que estavam todos fora de catálogo no Brasil, e custavam bem caro nos sebos da vida. Mas, com paciência e juntando cada centavo, fui aos poucos completando minha coleção. Também nessa época, conheci Rosa Kaji, presidente do incrível fã-clube de Bowie no Brasil, que me ajudou muito no sentido de conhecer a obra desse gênio.

Ironicamente, Rosa se mudou do Brasil para os EUA lá pelos idos de 1987 pelo fato de ter como sonho ver um show de seu grande ídolo, e de não acreditar que ele viria se apresentar ao vivo em nossos palcos.

Curiosamente, isso acabou ocorrendo muito antes do que se poderia imaginar, em 1990, durante a turnê Sound + Vision, que em São Paulo passou pelo estádio Palestra Itália, do Palmeiras, em belo show debaixo de chuva que teve abertura dos Titãs.

A Sound + Vision foi uma turnê com repertório calcado nos grandes sucessos da carreira do roqueiro e teve como marca uma bela campanha de relançamento de sua discografia lançada entre 1969 e 1980 pela gravadora RCA, cujos direitos então passaram para a EMI-Odeon (no Brasil) e Rykodisc (nos EUA). Enfim esses álbuns seminais voltavam aos catálogos e puderam ser devidamente apreciados por muito mais gente.

Em 1º de novembro de 1997, Bowie voltou a tocar por aqui como atração principal do festival Close Up Planet, realizado em São Paulo na Pista de Atletismo do Ibirapuera. E mais uma vez a chuva esteve presente, desta vez uma garoa que felizmente não durou o tempo todo. Outro show incrível, repleto de pique e com a sonoridade com tempero drum n’ bass do álbum Earthling, que ele tinha lançado há pouco.

Vale lembrar que esse show de 1997 pode ser considerado mais ousado em termos estilísticos, mas o de 1990 equivaleu a um maravilhoso desfile de grandes hits, tendo a guitarra de Adrian Belew como cereja de um bolo delicioso. Tive a oportunidade de trocar umas rápidas palavras com esse guitarrista, que também tocou com o King Crimson e Talking Heads, no hotel Hilton, onde Bowie estava hospedado. Foi o mais perto que cheguei do roqueiro britânico…

Porque David Bowie é tão vital para a história do rock? Eis uma explicação para ser dada em muitas e muitas linhas. Logo de cara, é por ter sido um artista multimídia quando esse termo nem ao menos existia. Nunca se restringiu apenas à música, mergulhando de cabeça no cinema, teatro, literatura, artes plásticas e o que mais pintasse, sempre com muita curiosidade e procurando aprender o máximo possível. Um verdadeiro operário da arte.

O autor de clássicos como Space Oditty, Ziggy Stardust, Heroes, Let’s Dance e tantos outros nunca dormiu em cima dos louros conquistados. Rock futurista em Space Oditty, glam rock em Ziggy Stardust e Rebel Rebel, soul-funk em Young Americans, experimentalismo eletrônico em Low e Heroes, pop funk rock em Let’s Dance, o cara se renovava constantemente. Sua discografia é uma verdadeira aula de rock.

Ao contrário de muitos inovadores, que pagaram um alto preço por sua ousadia, David Bowie conseguiu criar novidades maravilhosas em termos musicais e vender milhões de discos, além de sempre lotar seus shows pelo mundo afora. Soube se manter relevante, e quando lançou em 2013 um novo álbum de inéditas após dez anos, o sublime The Next Day (leia a resenha desse álbum aqui), tinha milhões de ouvintes dispostos a curtir novamente seu trabalho. Ele sabia se renovar.

Em 2014, mais de 80 mil pessoas tiveram a oportunidade de conferir em São Paulo uma maravilhosa exposição com memorabilia de Bowie (leia matéria sobre esse incrível evento pop aqui), uma rara e preciosa oportunidade de se ter a plena noção da abrangência e criatividade de uma obra seminal em todos os sentidos.

Ele já era uma lenda mesmo antes de nos deixar, imaginem agora, quando infelizmente não o teremos mais por perto. A rigor, trabalhou até muito próximo de seu fim, o que lhe dava muito prazer e força. Aliás, claro que o teremos por perto, sim, ao menos em discos, DVDs, Blu-rays, livros etc. Bowie é trilha sonora eterna!

Young Americans– David Bowie:

Fashion– David Bowie:

– Ashes To Ashes- David Bowie:

– Rebel Rebel- David Bowie:

The Stars (Are Out Tonight)– David Bowie:

Morre aos 81 anos o manager australiano Robert Stigwood

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Por Fabian Chacur

Morreu no dia 4 de janeiro de 2016 aos 81 anos o produtor australiano Robert Stigwood. Ele tinha 81 anos. Nome lendário no meio do show business, ele sempre será associado aos Bee Gees, grupo que ajudou a encaminhar rumo ao estrelato, mas seu currículo é repleto de momentos importantes e associações bacanas, além de um pioneirismo marcante em termos profissionais em termos empresarias no Reino Unido. Um cara que deixou sua marca na música.

Nascido na Austrália em 16 de abril de 1934, Stigwood se mudou para a Inglaterra em 1955. Na época, era tradição uma espécie de limitação da área de cada profissional no meio da música na Inglaterra. Ele foi um dos primeiros que ampliou os horizontes para seu tipo de atividade, englobando empresariamento, edição de músicas, gravação de discos, promoção de shows e espetáculos, agenciamento de shows, assessoria artística e de marketing etc. Ou seja, ele cobria todos os setores importantes para um artista fazer sucesso.

Ele passou a primeira metade dos anos 1960 se firmando em termos profissionais, e deu o pulo do gato em janeiro de 1967 ao se associar ao empresário dos Beatles, Brian Epstein, na empresa Nems. Quando Epstein morreu, em agosto daquele ano, Stigwood já tinha conhecimento suficiente para criar sua própria empresa multiuso, a The Robert Stigwood Organization, que entre outros desdobramentos geraria uma gravadora/selo, a RSO Records.

Os primeiros grandes nomes a serem empresariados em termos amplos por ele foram o grupo Cream, e depois de sua separação o guitarrista e cantor Eric Clapton, e os Bee Gees. Pouco depois, envolveu-se com a encenação de musicais, e em seguida a versões cinematográficas de tais musicais, entre os quais Jesus Cristo Superstar (1973) e Tommy (1975).

Se a coisa já estava muito boa para ele e seus contratados, ficou ainda melhor quando ele produziu os filmes e as trilhas sonoras Saturday Night Fever (Os Embalos de Sábado a Noite-1977) e Grease (Nos Tempos da Brilhantina- 1978), que levaram milhões de pessoas aos cinemas e venderam milhões de discos. A primeira ficou 24 semanas no primeiro lugar nos EUA, enquanto a segunda permaneceu durante 12.

Nesse período entre 1978 e 1979, era a coisa mais comum do mundo um disco com o selo RSO suceder outro na liderança das paradas dos mais vendidos em todo o mundo. Se não repetiu todo esse sucesso nos anos subsequentes, Stigwood se manteve muito ativo, e emplacou até mesmo uma versão cinematográfica de Evita (1997) com Madonna, que lhe valeu um Oscar como produtor.

Os Embalos de Sábado a Noite- Trilha Sonora completa em streaming:

Morre aos 65 anos de idade a ótima cantora Natalie Cole

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Por Fabian Chacur

No último dia do ano em que foram completados 50 anos da morte de seu pai, o ícone da música Nat King Cole, foi a vez de Natalie Cole dar adeus ao cenário pop. No dia 31 de dezembro de 2015, mais um nome de grande calibre musical nos deixa, em um período repleto de grandes perdas no setor. Ela tinha 65 anos, estava internada no hospital Cedar Sinai em Los Angeles e foi vítima de problemas com uma hepatite C que a infernizava há pelo menos sete anos.

A doença, que ela admite ter sido contraída devido a consumo de drogas, lhe custou um transplante de rim em 2009. O vício em heroína, crack, cocaína em álcool levaram a cantora a passar por seis meses em uma clínica de reabilitação em 1983, problemas que ela contou de forma franca em sua autobiografia, Angel On My Shoulder, lançada em 2000. A intérprete continuou fazendo shows e gravando, apesar de tudo.

Nascida em Los Angeles em 6 de fevereiro de 1950, Natalie iniciou a carreira aos 11 anos, cantando ao lado do pai, Nat King Cole. Apesar da morte precoce de Nat em 1965 aos 45 anos, vítima de câncer, ela manteve firme o sonho de também se tornar uma estrela, e isso se concretizou em 1975 com o sucesso de seu álbum de estreia, Inseparable, que lhe rendeu hits como a faixa título e também o Grammy de melhor artista novo daquele ano.

A carreira se manteve bem até o fim dos anos 70 no cenário do pop e da soul music, com direito a sucessos como This Will Be (An Everlasting Love) e I’ve Got You On My Mind, até que as drogas começaram a cobrar o seu preço. Após passar pela reabilitação, aos poucos retomou o pique, emplacando em 1988 nas paradas uma ótima releitura de Pink Cadillac, de ninguém menos do que Bruce Springsteen.

Em 1991, lançou seu projeto mais ambicioso: Unforgettable With Love, álbum dedicado ao repertório do pai e no qual fez um dueto tecnológico com ele em Unforgettable. O CD surpreendeu a todos, ficando por cinco semanas no primeiro lugar da parada americana, faturando sete troféus Grammy (incluindo as três categorias mais importantes) e vendendo mais de 13 milhões de cópias. O pop tradicional encarou com garra o grunge, o rap e os outros ritmos então na moda.

A cantora conseguiu se manter na ativa com bons discos e shows nos anos que se seguiram, incluindo outro dueto tecnológico com o pai, When I Fall In Love, em 1996, que lhe rendeu mais um Grammy, e uma segunda parte do álbum de sucesso, Still Unforgettable, em 2008. Natalie procurou mesclar momentos mais próximos do pop e da soul music com o jazz pop tradicional, e se deu bem, com uma voz sempre muito boa de se ouvir.

I’ve Got You On My Mind– Natalie Cole (1977):

Inseparable– Natalie Cole (1975):

This Will Be (An Everlasting Love)– Natalie Cole (1975):

Pink Cadillac– Natalie Cole (1988):

Unforgetabble– Natalie e Nat King Cole (1991):

Morre cantor Scott Weiland, do Velvet Revolver e do STP

The IMDb & Amazon Instant Video Studio At The Village At The Lift - Day 2 - 2015 Park City

Por Fabian Chacur

Para Billy Corgan, líder da banda Smashing Pumpkins, Kurt Cobain (Nirvana), Layne Staley (Alice in Chains) e Scott Weiland (Stone Temple Pilots e Velvet Revolver) são os melhores cantores da sua geração. Todos nasceram em 1967. Cobain nos deixou em 1994. Staley, em 2002. Infelizmente, agora chegou a vez de Weiland, que foi encontrado morto em seu ônibus de turnê nesta quinta-feira (3). Ele tinha 48 anos, e era, de fato, um ótimo cantor.

O rocker, que estava fazendo turnê para divulgar o álbum Blaster (2015), que gravou acompanhado pela banda The Wildabouts, iria entrar em cena em show que deveria ter ocorrido na cidade americana de Minnesota. Foi encontrada cocaína no local onde ele dormia. Os problemas do cantor com drogas e bebidas alcoólicas o levaram a cumprir penas de prisão algumas vezes nos últimos 20 anos.

Nascido em 27 de outubro de 1967 na cidade de San Jose, Califórnia, Scott Weiland criou em 1986 ao lado dos irmãos Dean (guitarra) e Robert DeLeo (baixo) e de Eric Kretz (bateria) a banda Stone Temple Pilots. O grupo conseguiu notoriedade no auge do grunge, e seu álbum de estreia, Core (1992), vendeu muito e atingiu o terceiro posto na parada americana, impulsionado pelas músicas Plush e Sex Type Thing.

Purple (1994), o segundo álbum da banda, bateu no topo da parada ianque logo na semana de seu lançamento. Em 1995, montou uma banda paralela de curta existência, a The Magnificent Bastards, que só lançou oficialmente duas faixas, sendo uma delas um ótimo cover de How Do You Sleep?, de John Lennon, incluída no álbum tributo Working Class Hero- A Tribute To John Lennon (1995).

Após o lançamento de Tiny Music- Songs From The Vatican Gift Shop (1996), no qual o STP investiu em elementos que ajudaram a diversificar sua sonoridade grunge, Scott começou a atrair a atenção das publicações sensacionalistas, todas em busca do novo “roqueiro morto por overdose”. Seu envolvimento com drogas o levou a prisões e deu uma atrapalhada na carreira, retomada em 1998 com o primeiro CD solo, 12 Bar Blues, que teve participações especiais de Sheryl Crow, Daniel Lanois e Brad Mehldau, entre outros.

Nº4 (1999) e Shangri-La Dee Da (2001) deram continuidade com sucesso à carreira dos Stone Temple Pilots. Em 2000, Scott participou do especial de TV VH1 Storytellers ao lado dos três remanescentes dos The Doors, cantando com eles as músicas Break On Through (To The Other Side) e Five To One. E em 2003, acabou saindo fora do grupo.

Não demorou muito para que outro projeto importante entrasse em sua trajetória. Os ex-Guns N’ Roses Slash (guitarra), Duff McKagan (baixo) e Matt Sorum (bateria), aliados a Dave Kushner (guitarra), o convidaram para integrar uma nova banda, que seria um sucesso instantâneo. Trata-se da Velvet Revolver, que em 2004 lançou Contraband, álbum que chegou ao primeiro lugar nos EUA com os hits Slither e I Fall To Pieces.

Libertad (2007) chegou ao mercado discográfico em 2007, e apesar de sua boa repercussão e músicas bacanas como The Last Fight, seria o último trabalho de estúdio lançado pela banda. Em 2010, ele voltava ao Stone Temple Pilots, que lançou naquele ano um álbum autointitulado. Depois de vários shows, Weiland foi dispensado do time por seus colegas, em função dos boatos de um retorno do Velvet Revolver.

Como artista solo, Scott também lançou Happy In Galoshes (2008), A Compilation Of Scott Weiland Cover Songs (2011) e The Most Wonderful Time Of The Year (2011), além de Blaster (2015), com o The Wildabouts. Em 2011, ele lançou a autobiografia Not Dead & Not For Sale, escrita com o consagrado David Ritz. Sua voz potente e personalizada ficará para sempre marcada como uma das mais bacanas surgidas no cenário do grunge dos anos 90.

Plush– Stone Temple Pilots:

Sex Type Thing– Stone Temple Pilots:

Fall To Pieces– Velvet Revolver:

Slither– Velvet Revolver:

The Last Fight– Velvet Revolver:

Chris Squire, fundador do Yes, sai da cena rock com 67 anos

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Por Fabian Chacur

Sempre que se fazem listas com os nomes dos melhores baixistas da história do rock, Chris Squire é presença garantida, graças a seus quase 50 anos de serviços prestados. Infelizmente, ele nos deixou neste domingo (28) em Phoenix, Arizona, onde morava com a família, vítima de um tipo raro de leucemia que foi divulgado para o público no mês de maio. Ele tinha 67 anos.

Quando anunciou a doença que lamentavelmente o levaria desse plano físico, Squire também divulgou que, pela primeira vez na história do Yes, uma turnê do grupo não contaria com a sua presença. Seria a dobradinha Yes/Toto programada para ter início em agosto. Billy Sherwood, que integrou o Yes entre 1997 e 2000, seria o seu substituto (leia sobre a turnê aqui), anunciado em comunicado pelo próprio Squire.

Chris Squire nasceu em Londres em 4 de março de 1948 em Londres, e criou o Yes em 1968 com o vocalista Jon Anderson. Ele foi o único integrante a participar de todos os discos e shows da banda, uma das mais importantes, bem-sucedidas e criativas do rock progressivo. O primeiro álbum saiu em 1969, e desde o início chamou a atenção pelo talento de seus músicos.

O estouro mundial veio em 1972 com o álbum Fragile, que inclui faixas marcantes como Roundabout, Long Distance Runaround e Heart Of The Sunrise. A partir dali, o Yes viveu várias fases em sua carreira, incluindo uma mais próxima do pop na década de 1980, mas sempre tendo Squire como âncora e garantia de qualidade.

São várias as virtudes de Chris Squire. Suas linhas de baixo sempre se caracterizaram pelas belas melodias e criatividade na utilização de timbres e recursos eletrônicos. De quebra, participava das vocalizações de forma consistente e foi coautor de alguns dos clássicos da banda, entre os quais I’ve Seen All Good People, Heart Of The Sunrise, Owner Of a Lonely Heart e Leave It, só para citar algumas mais conhecidas.

Além do Yes, Squire também lançou um aclamado álbum solo, Fish Out Of Water (1975), que alguns críticos consideram tão bom como os da sua banda. O músico tocou no Brasil pela primeira vez em janeiro de 1985 na mitológica primeira edição do Rock in Rio, e esteve por aqui pela última vez em 2013. Esse vai deixar muita saudade.

Leave It – Yes:

Heart Of The Sunrise– Yes:

I’ve Seen All Good People– Yes:

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