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Broken Jazz Society lança um EP totalmente endiabrado

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Por Fabian Chacur

O rock brasileiro plantou boas sementes em Uberaba, importante cidade mineira. Lá se encontra a banda Broken Jazz Society, que estreou em disco em 2014 com o álbum Tales From Purple Land. Agora, eles voltam à cena com o EP Gas Station, que traz três faixas que merecem ser consideradas totalmente endiabradas. É uma amostra do mais puro rock and roll, com direito a muita energia, requinte e assinatura própria e personalizada.

Integram a Broken Jazz Society Mateus Graffunder (guitarra e vocal), João Fernandes (baixo) e Felipe Araújo (bateria). Partem de um conceito de power trio que não se prende a virtuosismos ou guerra de egos, apostando em peso, alternância de climas, respeito às canções que grava e pura concisão, mostrando criatividade, energia e diversidade em canções durando entre três e quatro minutos.

A banda se situa na área do stoner rock, estilo que tem em grupos como Kyuss e Queens Of The Stone Age seus seguidores mais famosos e no qual ocorre uma mistura de heavy metal a la Black Sabbath, punk rock e até eventuais viagens sonoras a la Pink Floyd. Oasis, Soundgarden e Alice In Chains são outras possíveis influências no som da BJS.

Na verdade, esse rótulo (stoner rock) é apenas uma referência, pois a BJS apresenta mais elementos bacanas no seu trabalho. Melhor não ficar perdendo tempo em tentativas de rotulação, e ir direto à audição.

Gas Station, a faixa título, alterna climas, indo do hard rock pesadão ao punk acelerado em questão de segundos, mas de forma bem concatenada. Riot Spring, regravação de uma música incluída no álbum de estreia, esbanja timbres ardidos de forma contundente. O EP é encerrado com Mean Machine, espécie de balada rock com pitadas de Pink Floyd e Oasis que traz um solo de guitarra vibrante. No total, as três músicas somam em torno de 12 minutos.

São 12 minutos que deixam o ouvinte com coceira nos ouvidos, querendo ouvir mais. E essa é uma característica que todo o EP deveria ter. Gas Station tem tudo para gerar esse efeito em quem resolver dar uma chance a ele. A banda define esse trabalho como o fim de um ciclo. Dessa forma, criaram grande expectativa positiva para o segundo álbum, previsto para sair em um futuro não tão distante. Stoner rock? Melhor definir como Broken Jazz Society Rock!

Gas Station (clipe)- Broken Jazz Society:

Priscila Amorim esbanja ginga em seu 1º disco, Pra Começar

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Por Fabian Chacur

Foram 15 longos anos. Durante esse período, Priscila Amorim cantou em bares e espaços culturais, e dividiu em algumas ocasiões o palco com artistas como Monarco, D.Ivone Lara, Oswaldinho da Cuíca, Almir Guineto, Tereza Gama e Clube do Balanço. Com garra e sem pressa, concretiza agora, enfim, o seu primeiro CD, intitulado Pra Começar. Para felicidade geral de seus fãs e incentivadores, valeu a pena essa espera toda. Bela estreia!

De forma inteligente, Priscila soube se cercar de gente experiente nessa sua primeira incursão pelo mundo do disco. De cara, escolheu como produtor Bira Haway, veterano profissional que assinou trabalhos de muito sucesso de grupos como Soweto, Exaltasamba, Molejo, Revelação e inúmeros outros. Ele soube arregimentar músicos e arranjadores que deram à voz da estrela da companhia uma moldura perfeita, sem complicações mas sem simplificação excessiva.

O repertório, por sua vez, traz boas composições inéditas de hitmakers do cenário do samba do naipe de Serginho Meriti, Arlindo Cruz, Chiquinho dos Santos, Xande de Pilares, Jorge Aragão, Paulo Cesar Pinheiro e Roque Ferreira. Também foram escolhidas duas canções clássicas de grandes autores, Cartola e Nuno Ferreira (Festa da Vinda) e Noca da Portela e Sérgio Fonseca (Canta Meu Povo Canta).

Nessas décadas que atuo como crítico e jornalista especializado em música, já ouvi vários discos com esse mesmo perfil, e nem sempre esse auxílio luxuoso resultou em algo positivo. A razão costuma ser sempre a mesma: a “estrela da companhia” não desempenhou a contento. Felizmente, esse não é o caso deste Pra Começar. Priscila Amorim mostra que nasceu para cantar samba, com direito a muita ginga, timbre vocal delicioso e maturidade como intérprete.

As onze faixas do CD fluem com desenvoltura, dando ao ouvinte uma bela amostra de samba com jeitão popular, sim, mas sem cair no banal. Pelo contrário. A faixa-título, Feliz do Homem Que Chora, Quem Me Ilumina, Festa da Vinda e Me Leva Contigo são possíveis destaques de um trabalho consistente que vai direto ao assunto, sem mais delongas. Fica a torcida para que não tenhamos de esperar mais 15 infindáveis anos para um novo trabalho dessa ótima intérprete.

Pra Começar (CD completo em streaming)- Priscila Amorim:

Antonio Adolfo mescla samba e jazz no CD Tropical Infinito

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Por Fabian Chacur

Na ativa desde a década de 1960, o pianista, produtor, compositor e arranjador Antonio Adolfo faz parte da elite da música desde sempre. No setor música instrumental, então, é daqueles que não erram uma. Para felicidade de quem segue sua brilhante carreira, a partir de 2005 ele engatou uma terceira marcha em termos de produtividade fonográfica, lançando desde então 10 CDs, sendo três deles em parceria com a filha, a ótima Carol Saboya. Seu novo álbum, Tropical Infinito, é outra aula de swing, bom gosto e criatividade.

Nada disposto a dormir sobre os louros do passado, Antonio Adolfo sempre traz novidades em seus trabalhos. Tropical Infinito tem como surpresa o uso de metais, algo que ele não fazia em sua discografia desde o álbum Viralata, lançado em 1979.

Participam do CD três craques dos sopros no Brasil. São eles Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Marcelo Martins (sax tenor e soprano) e Serginho Trombone (trombone). Eles somam forças com Leo Amuedo (guitarra), Jorge Helder (baixo), Rafael Barata (bateria e percussão) e André Siqueira (percussão), além do dono da festa, no piano e arranjos. Um verdadeiro timaço, que entra em cena e goleia mesmo!

Como habitualmente, Adolfo improvisa e abre espaços para seus músicos improvisarem sem, no entanto, cair no mero tecnicismo ou em sonoridades excessivamente intrincadas que só façam sentido para os próprios músicos. Aqui, quem manda é a música, com cada melodia e cada harmonia sendo desenvolvidas com requinte e dando ao ouvinte um prazer absoluto em suas audições.

A entrada dos metais na mistura deu ao álbum uma sonoridade brejeira, meio de gafieira, com um forte tempero de samba, bossa nova e jazz. E o legal é que temos no repertório cinco clássicos do jazz, que ganharam novas roupagens que, sem roubar suas características essenciais, as renovaram: Killer Joe e Whisper Not (ambas de Benny Golson), Stolen Moments (Oliver Nelson), Song For My Father (Horace Silver) e All The Things You Are (Jerome Kern e Oscar Hammerstein).

Além dessas, quatro composições de Antonio Adolfo foram incluídas, duas inéditas (Yolanda Yolanda, homenagem à sua mãe, Yolanda Maurity, a primeira mulher violinista da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e Luar da Bahia) e duas já gravadas anteriormente (Cascavel, em 1979, e Partido Leve, em 1994). Elas se encaixaram feito luva no espírito deste novo trabalho do autor de Sá Marina.

Outro aspecto altamente elogiável dos CDs desse brihante músico carioca é o cuidado com a apresentação visual deles. Este novo traz novamente capa digipack dupla e um design impecável assinado por Julia Liberati, que aproveita com finesse as belíssimas ilustrações de Bruno Liberati. Tipo do combo “embalagem perfeita para conteúdo perfeito”. Coisa fina, como se dizia antigamente.

Quem encara música instrumental como “algo difícil de se ouvir” deveria ouvir urgente Tropical Infinito. Se depois dessa audição continuar com a mesma opinião. é de se lamentar até o fim dos tempos…

Killer Joe– Antonio Adolfo:

Yolanda Yolanda– Antonio Adolfo:

Song For My Father– Antonio Adolfo:

Stevie Nicks terá Pretenders abrindo nova turnê nos EUA

stevie nicks e chrissie hynde-400xPor Fabian Chacur

A programação de shows no exterior às vezes nos deixa com uma inveja daquelas abissais. É o que senti ao ler no site americano da Billboard, a bíblia da indústria fonográfica mundial, que Stevie Nicks iniciará no dia 25 de outubro uma nova turnê solo. Até aí, já seria algo de se cobiçar, tendo em vista que a integrante do Fleetwood Mac nunca fez shows no Brasil. Mas sabem quem irá abrir a turnê? Ninguém menos do que os Pretenders.

Ou seja, de 25 de outubro até 18 de dezembro, em um total previsto de 27 datas confirmadas até o momento, teremos em cena pelos EUA e Canadá duas das maiores estrelas da historia do rock, a própria Stevie e a líder inconteste dos Pretenders, a cantora, compositora e guitarrista Chrissie Hynde. Como elas são amigas há muito tempo, não estranhem se uma acabar marcando presença no show da outra. Aí, seria algo para não se esquecer nunca mais.

A turnê servirá para divulgar o excelente álbum 24 Karat Gold: Songs From The Vault, lançado em outubro de 2014 e tendo atingido o sétimo lugar na parada americana. Trata-se do mais recente CD solo da cantora e compositora americana, e traz basicamente composições feitas por ela entre 1969 e 1987 e nunca antes gravadas. Um disco excelente e até hoje inédito no Brasil (leia a resenha de Mondo Pop aqui).

Blue Water– Stevie Nicks e Lady Antebellum:

Starshine– Stevie Nicks:

Middle Of The Road– Pretenders:

Axl Rose, Slash, Duff e quem mais? O Guns N’ Roses 2016!

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Por Fabian Chacur

O mercado do rock and roll estourou fogos quando foi anunciada há alguns meses a volta de Slash e Duff McKagan aos Guns N’ Roses. Dessa forma, ocorria o retorno desses dois ao lado de Axl Roses após longos 23 anos. Mas, ao menos para mim, ficou no ar uma dúvida: quem seriam os outros músicos do time rocker? É o que você ficará sabendo neste post de Mondo Pop. Antes, vamos ao roteiro dos seis shows que eles farão no Brasil em novembro.

Como parte da turnê Not In This Lifetime Latin America Tour 2016, a banda americana formada em 1985 tocará em Porto Alegre (estádio Beira Rio) no dia 8/11. Em São Paulo, o local será a Allianz Parque nos dias 11 e 12/11. No Rio de Janeiro, o palco será o Engenhão (estádio Olímpico Nilton Santos) no dia 15/11. Curitiba verá Axl e sua turma em 17/11 na Pedreira Paulo Leminski, e o show em Brasília, o último por aqui em 2016, rola o dia 20/11 no estádio Mané Garrincha. Preços dos ingressos e outras informações você pode conferir aqui.

E agora, vamos ao tema principal desse texto. Para iniciar a conversa, vale lembrar que a formação clássica do Guns N’ Roses contava com Axl Rose (vocal), Slash (guitarra), Duff McKagan (baixo), Izzy Stradlin (guitarra) e Steven Adler (bateria). O primeiro a sair, ou melhor, a ser “saído”, foi Adler, em 1990, devido a sérios problemas com drogas. Pela mesma razão, Stradlin caiu fora em 1991.

As coisas complicaram mesmo para o grupo de hard rock quando Slash, em 1996, e Duff, no ano seguinte, anunciaram as suas partidas. Desse momento em diante, o Guns N’ Roses virou a banda de apoio de Axl Rose, demorando a partir de 1997 mais de dez anos para enfim lançar um álbum de inéditas (Chinese Democracy, em 2008) e passando por várias mudanças de músicos. E enfim chegamos ao momento atual.

Além de Axl, Slash e Duff, outro músico da era de ouro da banda se mantém em cena. Trata-se do tecladista Dizzy Reed, que entrou no Guns em 1990 e se manteve no grupo durante todos esses anos turbulentos. O guitarrista e vocalista de apoio Richard Fortus foi adicionado à turma em 2002, e permanece firme nesta nova fase, assim como o baterista Frank Ferrer, que assumiu as baquetas hard rockers em 2006.

Além desses seis integrantes, o time agora ganhou uma representante do sexo feminino. Trata-se da vocalista de apoio e tecladista Melissa Reese, que possui no currículo trabalhos ao lado de músicos como Bootsy Collins (ex-Funkadelic/Parliament), Chuck D (do grupo Public Enemy), Vanessa Carlton, Taylor Swift e Bryan “Brain” Mantia.

Os primeiros shows da encarnação 2016 da banda de Axl e Slash ocorreram no badalado festival Coachella, em abril, com direito a participação especial de Angus Young, líder do AC/DC, banda na qual Axl assumiu provisoriamente os vocais.

Quem também apareceu em cena em alguns shows nos EUA foi o baterista Steven Adler. Ou seja, da line up clássica, só mesmo Izzy Stradlin parece não ter chances de dar uma eventual canja em algum show, aparentemente pelas tristes razões de sempre (drogas).

Guns N’ Roses Live In San Diego 2016 (show completo):

Guns N’ Roses- Live In Los Angeles 2016 (show completo):

Box com 3 CDs traz clássicos e gravações raras de Cartola

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Por Fabian Chacur

Nenhum apelido poderia ter sido tão preciso para definir um artista como o recebido por Angenor de Oliveira (1908-1980). Afinal de contas, quando a gente pensa em Cartola, o artista, pensa em elegância, em requinte, em poesia bem elaborada, em melodias deliciosas. A obra deste cantor, compositor e violonista carioca é coisa finíssima. A Universal Music acaba de lançar Todo Tempo Que Eu Viver, box com três CDs que nos oferece alguns dos melhores momentos da carreira desse indiscutível gênio da MPB.

O conteúdo desta caixa tem duas origens distintas, e reúne tudo que Cartola gravou entre 1967 e 1976. Vale lembrar que, antes disso, ele havia sido em 1928 um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, provavelmente a mais icônica escola de samba de todos os tempos, e viu suas músicas gravadas por artistas do porte de Carmen Miranda, Francisco Alves, Mario Reis e Silvio Caldas, entre outros. Como cantor, no entanto, fez apenas uma gravação (em 1940) da música Quem Me Vê Sorrir, e participou de programas de rádio.

Problemas de saúde e de outros tipos o levaram a sumir de cena a partir do final dos anos 1940, e muitos acreditavam até que ele tivesse morrido. Em 1957, no entanto, foi redescoberto pelo jornalista Sérgio Porto (também conhecido pelo codinome Stanislaw Ponte Preta), e a partir dali aos poucos retomou a carreira. As grandes gravadoras, no entanto, relutavam em contratá-lo para o lançamento de um LP, afirmando de forma cruel que “aqui não é asilo”.

Sorte que o produtor musical João Carlos Botezelli, o Pelão, não acreditava naquela frase infeliz, e batalhou o quanto pode para concretizar seu sonho de ver Cartola gravar um álbum. E a gravadora independente Marcus Pereira topou o desafio. O LP, intitulado Cartola, saiu em 1974, e é o primeiro CD desta caixa. Com produção elegante e despojada, traz maravilhas do porte de O Sol Nascerá (A Sorrir), Acontece, Alvorada e Tive Sim, entre outras. Foi um sucesso, com mais de 20 mil cópias vendidas. Que asilo, que nada!

O bom resultado comercial resultou no lançamento de um segundo disco, também intitulado Cartola e lançado em 1976. O bacana é que o artista incluía canções feitas recentemente, entre elas O Mundo é um Moinho e As Rosas Não Falam, fruto de sua maturidade como ser humano e compositor. Com o mesmo formato classudo e repleto de sutilezas, o trabalho, segundo CD desta caixa, traz também Cordas de Aço, Meu Drama (Senhora Tentação) e Ensaboa como outros destaques.

O terceiro disco incluído nesta caixa, intitulado Tempos Idos, é inédito, e se trata de uma coletânea reunindo gravações feitas pelo autor de Acontece em discos de outros artistas e também álbuns temáticos. São dez registros raros e nunca reunidos antes em um único CD, que mostram Cartola ao vivo, em estúdio e também junto com Elizeth Cardoso, Clementina de Jesus, Odete Amaral, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Canhoto e Conjunto de José Menezes.

O trabalho de remasterização realizado nos três CDs foi excelente, com qualidade de som impecável, especialmente se levarmos em conta se tratarem de registros feitos há mais de 40 anos. Os encartes são simplesmente sensacionais, com direito à reprodução dos textos incluídos nas edições originais, novos textos (feitos por Eduardo Magossi, curador do projeto desta box set) contextualizando cada álbum, fichas técnicas e as letras de todas as canções. Um trabalho belíssimo e à altura desse mestre da MPB.

Vale registrar que uma audição atenta desses CDs nos proporciona chegar a uma conclusão óbvia: Cartola não era só um compositor iluminado, um sujeito que falava sobre as idas e vindas do amor com classe, precisão cirúrgica e inspiração. O cara era também um violonista extremamente eficiente e, acima de tudo, um cantor impecável, que usava sua pequena extensão vocal com uma classe que envolve o ouvinte. Para ouvir trajado de fraque e…cartola!

As Rosas Não Falam– Cartola:

O Sol Nascerá– Cartola:

Acontece– Cartola:

Língua de Trapo destila o seu humor único em “último” CD

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Por Fabian Chacur

Existem inúmeras maneiras de se fazer música, todas válidas e capazes de render bons frutos. Há longos 36 anos, o Língua de Trapo resolveu criar a sua, única e facilmente reconhecível por quem os acompanha nessa trajetória mais do que peculiar. Em plena forma, o combo capitaneado pelo impagável Laert Sarrumor volta ao mundo fonográfico com O Último CD da Terra (Gênesis/Arlequim), que mantém o alto padrão de qualidade de sempre. E olha que a espera foi longa!

Trata-se do primeiro álbum da banda desde ao vivo 21 Anos na Estrada (2001), e o primeiro de inéditas desde o longínquo ano de 1992, quando Brincando Com Fogo chegou às lojas. Valeu a espera. Melhor lançar poucos e bons trabalhos do que enfiar abacaxis azedos goela abaixo do público, como muitos fazem por ai. E ao menos os caras continuaram com os shows, sem a frequência desejável mas sempre com categoria.

E o que seria essa tal fórmula própria de se fazer música implementada pelos “linguistas”? Trata-se de uma incrível mistura de ritmos musicais, indo do mega-brega ao mega-chique, passando por literalmente tudo. E tudo significa chorinho, jazz, rock, jovem guarda, blues, heavy/hard rock, country, folk, samba, brega de todos os tipos, romantismo… O que amarra isso tudo é um humor que consegue a façanha de ser cáustico, ácido e virulento, sem no entanto cair na tentação politicamente incorreta do “perco a piada, mas não perco o amigo”.

As tiradas do Língua não perdoam ninguém, mas nunca com teor ofensivo. E a provável explicação para essa façanha é o fato de não levarem ninguém a sério, especialmente eles próprios. Os compositores habitualmente gravados por eles, figuras do naipe de Laert, Carlos Melo, Guca Mastrodomênico, Ayrton Mugnaini Jr. e o saudoso Cesar Brunetti (entre outros) sabem, digamos assim, manter as amizades, sem perder as piadas jamais. Jamais!

Ouvir O Último CD da Terra equivale a uma viagem pelas programações das rádios AM de antigamente, nas quais se tocavam todos os estilos musicais, sem exceção (lógico que sempre em horários específicos, no caso de alguns deles). Se há algo de que não se pode rotular esse novo álbum de “Laert e seus Comparsas” é de monótono. As molduras musicais mudam a cada nova faixa, e às vezes em uma mesma faixa, como na impagável Os Infernautas, sátira aos viciados em internet que vai do vira a la Roberto Leal ao rap sem medo de ser feliz.

Três composições são da fase inicial da banda, o período 1980-1982, e que por um motivo ou outro nunca haviam sido gravadas: Circular 46, Amor Indigente e Ratatá no Zum-zum-zum. Sempre espere o inesperado em um disco e/ou show do Língua: ode a um pombo, encontro modelo humor negro em uma fila de hospital, o canto de um mendigo, um imitador de Bob Dylan que poderia ser o sumido Belchior, um ex-fã de rock progressivo… Tem até uma releitura do Hino Nacional Brasileiro, desta vez em homenagem aos desempregados (Hino dos Desempregados).

Em texto incluído na segunda página do encarte, o grupo afirma que este será o seu último CD. Tomara que não. Afinal de contas, eles mostram aqui que ainda tem muita lenha para queimar. E quer saber? O formato compact disc ainda ficará em cena por muito tempo, tal qual os discos de vinil e mesmo as fitas-cassete, ambos vivendo um revival improvável nos últimos anos. Quem duvida estar lá na esquina uma nova era dos CDs? E que venha um novo do Língua. Que último que nada, seus preguiçosos! Me dá o mizão e vamos logo gravar outro!

Ouça trechos das músicas de O Último CD da Terra:

Trechos do show de lançamento do CD- Sesc Pompeia abril 2016:

Rick Wakeman Nunca Mais– Língua de Trapo:

Peter Hook relê os hits de ex-bandas em shows no Brasil

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Por Fabian Chacur

Peter Hook virou figurinha fácil no Brasil. Desde sua primeira visita por aqui, em 1988, o baixista, cantor e compositor britânico tocou por aqui inúmeras vezes. E em dezembro ele nos visitará mais uma vez. Felizmente, cada visita nos proporciona novos repertórios, e desta vez não será diferente. Ele apresentará o show Peter Hook & The Light Performing Substance- The Albums Of Joy Division & New Order em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre (veja mais informações no fim deste post).

Desde que saiu do New Order, em 2007, Peter Hook montou uma nova banda, a The Light, que tem a seu lado Jack Bates (baixo, é seu filho), David Potts (guitarra), Andy Doole (teclados) e Paul “Leadfoot” Kehoe (bateria). Em seus shows, eles tem se proposto a tocar em sequência cronológica e na íntegra os trabalhos marcantes de Joy Division e New Order, sempre mudando os discos/repertórios de tempos em tempos.

Após shows por aqui em 2011, 2014 e 2015, a The Light agora traz como foco o repertório de suas coletâneas, ambas com o mesmo nome, Substance. A primeira saiu no formato vinil (2 LPs) em 1987 e dá uma geral nos principais sucessos do New Order enquanto a outra chegou ao mercado fonográfico em 1988, com um único bolahão, e conta com os singles de maior êxito da carreira do Joy Division.

Entre outras, teremos clássicos do naipe de Bizarre Love Triangle, Blue Monday, Ceremony, Perfect Kiss, Temptation e Thieves Like Us , do New Order, além de Atmosphere, Dead Souls, Love Will Tear Us Apart, She´s Lost Control e Transmission, do Joy Division.

Considerado um dos mais originais e influentes baixistas da história do rock, Peter Hook também participou dos grupos Revenge (com o qual lançou um CD e tocou no Brasil), Monaco (que lançou dois CDs) e Free Bass, este último ao lado de outros dois baixistas ilustres, Mani (do The Stone Roses) e Andy Rourke (dos Smiths, outro que sempre está no Brasil). Em breve, ele lançará um novo livro, Substance- Inside New Order, com 768 páginas e sucessos de livros que Hook lançou respectivamente sobre o bar Hacienda e o Joy Division.

PETER HOOK SERVIÇO SHOWS:

RIO DE JANEIRO

Local: Teatro Rival – Rua Álvaro Alvim 33/37, subsolo – Cinelândia, Rio de Janeiro / RJ. Telefone: (21) 2240-4469.

Data: 1º de dezembro 22h

Ingressos: Lote 1 – meia entrada: R$80 / inteira: R$160. Lote 2 – meia entrada: R$100 / inteira: RS200.

•Online: www.ingresso.com

PORTO ALEGRE

Local: Bar Opinião – R. José do Patrocínio, 834 – Cidade Baixa, Porto Alegre / RS.

Data: 3 de dezembro 20h30.

Ingressos: de R$ 80,00 a R$ 220,00

•Online: www.minhaentrada.com.br/opiniao

SÃO PAULO

Local:Cine Joia -Praça Carlos Gomes, 82 – Liberdade, São Paulo/ SP. Telefone (11) 3101-1305.

Data: 6 de dezembro 22h.

Ingressos: Lote 1 – meia entrada: R$70 / inteira: R$140. Lote 2 – meia entrada: R$80 / inteira: RS160.

•Online: www.livepass.com.br

Ceremony(live)- Peter Hook & The Light:

Temptation (live)- Peter Hook & The Light:

Blue Monday (live)- Peter Hook & The Light:

Carol Saboya esbanja classe e swing em seu álbum Carolina

carolina saboya cd-400xPor Fabian Chacur

Existe uma velha discussão entre os fãs de música quando o assunto é cantar. Para alguns, só vale aquele que tem o chamado vozeirão, que é adepto do “dó de peito”, com características quase operísticas. Para outros, o que vale é a sutileza, sem exageros e com requinte cirúrgico. Na verdade, não há fórmula, é aquela história daquele antigo comercial: existem mil maneiras de se preparar Neston, invente a sua. E Carol Saboya faz isso muito bem em seu CD Carolina.

Nascida no Rio de Janeiro, Carol Saboya começou a cantar aos oito anos de idade. Morou nos EUA de 1989 a 1991, participou do célebre CD Brasileiro, de Sergio Mendes, e gravou Dança da Voz, primeiro trabalho solo, em 1998. Desde então, lançou mais de dez álbuns, alguns deles nos EUA e Japão, além de fazer inúmeros shows. Dessa forma, aperfeiçoou o seu canto, tornando-se uma profissional de alto nível.

Carolina, o CD, traz dez composições alheias selecionadas pela artista de modo a apresentar um pouco de suas influências no cenário musical. O quadro é amplo, e abrange autores que vão de Pixinguinha a Sting, passando por Beatles, João Bosco, Edu Lobo, Tom Jobim, Djavan e Chico Buarque. A escolha é bem personalizada, com direito a Passarim, Fragile, Hello Goodbye, Avião e Zanzibar, entre outras. Bom gosto e fuga ao óbvio.

Dois fatos dão ao disco uma estrutura sólida em termos de criação e concretização, tornando-o impecável. Um é a capacidade interpretativa de Carol, que canta suave, sim, mas sem cair na monotonia, mostrando-se expressiva e sutil e aproveitando bem cada palavra das letras, ou no caso da fantástica Zanzibar (do genial Edu Lobo), valendo-se com classe dos vocalizes/scats da gravação original sem cair na imitação.

O outro ponto chave de Carolina, o CD, é o elenco escalado para acompanha-la. No piano e arranjos, temos o mestre Antônio Adolfo, que é pai da moça. Nas outras posições, os craques Marcelo Martins (sopros), Jorge Helder (baixo), Rafael Barata (bateria) e André Siqueira (percussão), com participação especial de Claudio Spiewak na faixa Faltando Um Pedaço. Juntos, eles fazem uma sonoridade swingada, pura bossa jazz que proporciona a moldura perfeita para a voz de Carol.

A capacidade que Antônio Adolfo tem de mesclar a sofisticação e a acessibilidade sonora na sua forma de arranjar e tocar dão o tom ao disco. Mas de nada valeria se Carol não fosse uma intérprete tão capacitada e talentosa. Carolina (que é seu nome de batismo) é um trabalho que celebra a música brasileira e internacional sem cair na mesmice, prova de que em pleno 2016 há ainda muita coisa boa a se ouvir dessa fonte inesgotável chamada MPB.

Passarim– Carol Saboya:

Sá Marina – Carol Saboya e Antonio Adolfo:

Leve– Carol Saboya:

Eric Clapton nos traz mistério e belas canções em I Still Do

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Por Fabian Chacur

Logo de cara, I Still Do, novo álbum de Eric Clapton, propõe um desafio aos fãs. Nos créditos de músicos que participaram do trabalho, está listado como violonista e vocalista na faixa I Will Be There um certo Angelo Mysterioso. Os fanáticos por Beatles sabem que um pseudônimo quase idêntico (L’Angelo Mysterioso) foi usado em 1968 por George Harrison em sua participação especial na faixa Badge, do grupo Cream, do qual Eric Clapton era um dos integrantes.

Nem é preciso dizer que isso criou um frisson em torno da mídia especializada. Seria I Will Be There uma faixa gravada antes da morte do ex-Beatle (em 2001) e somente resgatada agora por Clapton, um grande amigo do autor de Something? A verdade é que o astro britânico se recusa a revelar quem é o artista que se valeu desse pseudônimo. E surgiram novos candidatos. Um é Dhani Harrison, filho de George.

Outro candidato é o astro pop Ed Sheeran, que por sinal participou do show de Clapton no dia 13 de abril no Budokan Hall, no Japão, interpretando exatamente essa música. E aí? Bem, a voz não parece a de Dhani, estando mais próxima do timbre de Sheeran. Seja como for, a assessoria de Clapton garante que ele não irá revelar quem é o tal “anjo misterioso”. E quer saber? O importante é que I Will Be There, uma espécie de folk-ska-reggae-balada, é linda!

Essa canção serve como bom chamariz para I Still Do, que atingiu o sexto lugar nas paradas dos EUA e do Reino Unido em sua semana de lançamento, algo habitual na carreira deste genial cantor, compositor e guitarrista britânico. Trata-se de um trabalho “Clapton per se”, ou seja, sem novidades ou influências diferenciadas do que estamos habituados. Temos várias variações de blues, tempero rock e folk, um pouco de pop, e por aí vai. E vai bem. O tal do bife com fritas bem feito.

O mais legal é a sutileza da coisa. A voz de Clapton está cada vez mais apurada e deliciosa, sem toda essa potência mas repleta de paixão. Cercado por músicos que o acompanham há muitos anos, como Andy Fairweather Low, Simon Climie, Chris Stainton e Henry Spinetti, o cara desliza sua guitarra com a categoria de quem sabe todos os atalhos para chegar ao ponto G dos seus ouvintes. São 12 faixas deliciosas.

O repertório traz apenas duas canções assinadas por Clapton, a quase pop Catch The Blues e a ótima Spiral. Entre os autores, alguns dos favoritos do ex-integrante do Blind Faith e Derek And The Dominoes, como Bob Dylan, JJ Cale e Robert Johnson. O clima vai do blues ardido em Alabama Woman Blues, que abre o álbum, à quase jazzística e delicada I’ll Be Seeing You, que pôe fim à festa. Tipo do álbum muito bom de se ouvir, descomplicado e simples.

Em entrevista recente, o músico afirmou que está sofrendo de neuropatia periférica, que lhe provoca dormência e dores nas mãos e nos pés, dificultando, portanto, o seu trabalho. Como ele já está com 71 anos, nos resta torcer para que Eric Clapton possa domar essas dificuldades físicas e continue em cena, fazendo shows pelo mundo e gravando discos deliciosos como este I Still Do. Se isso é “apenas mais do mesmo”, eu amo esse “mais do mesmo”!

I Will Be There– Eric Clapton e “Angelo Mysterioso”:

Catch The Blues– Eric Clapton:

Can’t Let You Do It– Eric Clapton:

Stones In My Passway– Eric Clapton:

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