Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

Author: Flavio Canuto (page 3 of 5)

Caetano Veloso – Cê (2006)

Caetano VelosoPara desespero de seus (inúmeros) detratores, que não cansam de criticá-lo mais por conta de sua personalidade do que por seu (inquestionável) talento, Cae volta a inovar em seu novo 40o álbum, .

Deixando de lado os arranjos do maestro Jaques Morelenbaum, o cantor apostou em seu filho Moreno Veloso e Pedro Sá para a produção e para a formação do ‘power trio’ que o acompanham nos ‘rocks à la Los Hermanos’ que compõem boa parte do repertório.

Não se estranhe, no entanto, ao se deparar com um quasi rap, O herói, onde Caetano discorre de forma simples e descomplicada sobre o fim da democracia racial brasileira que reinava no imaginário nacional e que deu lugar a um cenário de violência generalizada nos guetos de norte a sul.

Nas demais faixas, Cae deixa à mostra as cicatrizes da separação com Paula Lavigne. “Eu não me arrependo de você, cê não me devia maldizer assim, vi você crescer, fiz você crescer, vi cê me fazer crescer também” canta ele na ótima Não me arrependo, onde Caetano expõe sua intimidade de uma forma quase que inédita nesses tantos anos de carreira. Imperdível.

Outro ótimo momento é Rocks, que como o próprio título diz é uma canção de rock onde o power trio mostra que poderá fazer um bom trabalho também nos palcos mostrando um bom entrosamento e pegada. O mesmo acontece na primeira faixa, Outro (que poderia fazer parte de Bloco de Eu Sozinho). Em ambas, fica claro que Caetano, diferente de Bob Dylan, canta melhor a cada ano que passa .

Um álbum de separação, um álbum de rock, e mais uma vez Caetano surpreende. Aliás, fico imaginando onde estarão os criativos “inimigos” de Cae aos 64 anos de idade. Façam suas apostas.

Art Brut – Bang Bang Rock & Roll (2005)

Art BrutPosso até estar exagerando, mas para mim o Reino Unido está para o rock exatamente como o Brasil está para o futebol. É impressionante a quantidade (e a qualidade) das bandas que surgem a cada dia naquelas ilhas que são ao mesmo tempo tão loucas e tão conservadoras.

O Art Brut (que se apresenta neste final de semana aqui em SP) é mais uma delas, ou uma das mais especiais que surgiram nos últimos anos.Sua sonoridade (que vai do punk ao retrô), assim como as letras sarcásticas quase sempre declamadas pelo ótimo vocalista Eddie Argos dão a eles aquele algo mais que os diferencia das outras “melhores bandas do planeta” que surgem a cada mês.

O álbum começa com a irônica Formed a band, “Just stop buying your albums from the supermarkets. They only sell things that have charted”, onde eles criticam de uma forma muito divertida toda a indústria da música pop e como as canções e bandas (ainda) são vendidas.

O álbum ainda traz outras ácidas críticas ao universo pop como em Moving to L.A (sobre o fascínio que a cidade californiana exerce sobre as bandas de rock de todo o planeta), mas a grande atração é Emily Kane. Poucas vezes uma história de amor foi contada de uma forma tão inteligente e divertida, sem refrão, sem seguir a uma forma pré-estabelecida, e sendo tão cativante. Não vai ao show? Ao menos ouça Emily Kane, e deixe sua opinião aqui.

Art Brut no myspace.com
http://www.myspace.com/artbrut

Clipe de Emily Kane
http://www.youtube.com/watch?v=JfZF6kfVA2k

A Revolta dos Dândis – Engenheiros do Hawaii (1987)

Revolta dos DândisUma guitarrista improvisando no baixo. Um pseudo-hit de 6:13 min de duração. Alusões a Camus e Drummond. Absolutamente tudo conspirava contra esse disco gravado por aqueles três gaúchos em São Paulo que mudariam para sempre a história do rock do Rio Grande, e do Brasil.

Impossível o roqueiro que não cantarole pelo menos algum dos inúmeros (e fabulosos) versos de Infinita Highway, uma das poucas músicas que une os fãs xiitas da banda (que não são poucos) e aqueles que apenas curtem o estilo de Gessinger.

A mistura entre rock e o folk fica evidente em A revolta dos Dandis I, que abre o álbum. O violão e a harmônica de Augusto Licks, em contraponto com o saudoso Rickenbaker de Gessinger (que parecia ter nascido com um contrabaixo nas mãos) dão uma idéia da mudança na sonoridade da banda, bem distante do ska desastrado do primeiro disco.

Apesar de várias canções terem tocado ad nauseum nas FMs (Refrão de Bolero virou hit depois de clip da MTV), algumas pérolas como Desd’ Aquele Dia e Vozes (uma das melhores composições de Gessinger)permanecem “intocadas” pelo grande público e tornam o disco ainda mais imperdível.

“Hey mãe! Por mais que a gente cresça, há sempre alguma coisa que a gente não pode entender”. Na profética Terra de Gigantes, Gessinger mostrava que seria um dos maiores compositores da MPB (vale lembrar que até hoje suas qualidades como compositor são questionadas pela crítica), abordando com delicadeza a inquietação, a falsa alegria (típica de um reclame da Fanta), e as incertezas do jovens dos anos 80, 90, etc…

Se o maior power trio que esse País já produziu (Gessinger, Licks & Maltz) infelizmente terminou, eles não poderiam ter começado de forma melhor. E você…sempre se sente um estrangeiro?

Instru (2006)

instru.jpgÉ possível fazer canções de rock com energia e conscientes ao mesmo tempo? Os rapazes da banda paulistana Instru mostram que sim. Com uma cozinha eficiente, um vocalista afinado, e muito punch eles mostram em seu primeiro EP que é possível ir além da receita básica do rock nacional (emocore, corecore, etc), e se dar bem.A princípio parece se tratar de uma banda gospel (Cristo, Criador, Deus, aparecem com frequência) mas a temática das letras vai muito além disso, questionando os valores da sociedade moderna e eles vão nos levar “Andamos como zumbis,
Servindo ao sistema que criamos, somos vivos sem vida, mas porque tem que ser assim?”, canta o vocalista em Como se fosse o Céu. Reflexão em meio a uma muralha de som muito bem construída pelos garotos.

A cozinha entrosada surpreende novamente em Duas respostas, que começa com um dedilhado no baixo, seguido pela sempre veloz bateria, numa canção vai crescendo na letra e melodia no melhor estilo do rock progressivo.

Dífícil rotular o Instru por conta da enorme quantidade de influências que formam o som da banda. Progressivo? Power pop? Alternativo? Nada disso. Apenas uma ótima banda de Rock’n Roll!

A importância do Clipe

 

Desde os anos 60 (tudo começou com os Beatles), o vídeo clipe é usado pelos músicos não apenas como forma de divulgação mas também para firmar sua imagem perante a seu público.

Ninguém pode responder se Thriller, de Michael Jackson, seria um dos maiores álbuns da história sem a força dos espetaculares videoclipes. O que seria de Madonna sem a imagem? Difícil dizer se apenas as suas canções, sem o apelo visual dos clipes, fariam dela a grande estrela que ela ainda é.

A democratização dos meios digitais permitiu que mesmo os artistas iniciantes possam gravar um vídeo clipe com qualidade dispondo de um baixo orçamento. Você não precisa de um equipamento profissional para começar a filmar. Com uma simples câmera fotográfica digital é possível fazer um vídeo, que pode ser melhorado e editado depois em qualquer PC. Nem mesmo a dependência da MTV, que era praticamente o único canal de divulgação de clipes, é mais uma barreira. Sites como o You Tube e o My Space, disponibilizam vídeos de bandas de todo o planeta de forma gratuita e eficiente.

Até mesmo artistas mais consagrados, como os portugueses do Toranja (veja abaixo), têm usado o clipe de uma forma mais simples, e como complemento do seu trabalho, não fazendo que a imagem se torne mais importante que a canção. Aliás, o mundo não precisa de outra Madonna, ou de seus clones malsucedidos.

Sua banda não tem um CD ainda? Grave um clipe.

 

Iron Maiden – A Matter of Life and Death (2006)

maiden_lifeanddeath.jpgDepois de três décadas na estrada, não é fácil manter a qualidade. Os senhores do Iron Maiden têm tentado. A banda agora tem três guitarras, não é tão “heavy” como costumava ser, aposta num metal mais progressivo, com canções mais longas, temáticas diferentes em suas letras. Enfim, uma nova fórmula…para resultados iguais.Depois de ouvir todo o álbum fica a impressão de que tentaram mudar tudo sem tirar nada do lugar. Músicas longas, refrões sendo repetidos à exaustão pelo ainda competente Dickinson, duelos de guitarras, belos solos de Smith/Gears/Murray…tudo soa como antes, mas muito mais chato.

A guerra é uma constante nas letras, o que mostra a insatisfação da banda com o que o Reino Unido, e os EUA têm feito no Oriente Médio. O tema é muito bem explorado em For The Greater Good Of God, que seria uma ótima canção de metal se não fosse tão longa e repetitiva. Alguém já contou quantas vezes Dickinson canta tell me nos 9:24 minutos da música?

A grande surpresa do álbum é Out of the Shadows. Os fãs mais atentos vão notar que a música parece (intencionalmente, ou não, resta saber) uma mistura de Children of the Damned , e de Fear of the Dragon (da carreira solo de Bruce Dickinson). Uma linda melodia, uma letra enigmática (A man who cast no shadows has no soul ), o som de um violão entrosado com as guitarras e o sempre marcante baixo de Harris deixam esta canção com cara de hit instantâneo.

O vocalista Bruce Dickinson disse numa entrevista há alguns anos “Os fãs de heavy metal não têm a cabeça mais aberta desse mundo”, acho que esta frase explica tudo. Mesmo apostando num nova fórmula, o Iron Maiden acaba soando exatamente…como o Iron Maiden.

Luna Remoto – O Bônus e o crochê

luna_remoto.jpgA primeira vista parece que estamos ouvindo Rubber Soul, ou mesmo uma banda portuguesa. Nada disso, por incrível que pareça ainda se faz um power pop de qualidade por estas terras, mais precisamente da cidade de Itu, no interior paulista. O Luna Remoto mostra em seu primeiro trabalho, o EP O Bônus e o Crochê, que o power pop brasileiro tem motivos de sobra para ficar orgulhoso, e apostar num belo futuro. Primeiro, a julgar pela idade dos garotos, e por se tratar de um primeiro trabalho, eles mostram que têm bala na agulha e todo o potencial para serem uma banda de ponta.

As canções são muito bem construídas, sem espaço para sentimentalismo banal e vazio, rimas fáceis e chavões (como já é praxe em boa parte do rock nacional). Apesar de não haver lugar para experimentalismos, a banda soa coesa, com boas guitarras, e o uso mais do que apropriado do teclado em algumas músicas.

“Quantos dias você chorou? Pois aqui tudo alagou em lágrimas afundaram os meus soldados” assim começa a ótima Herói de plástico, a minha favorita no EP. Uma canção singela, dançante, marcante e candidata a TOP 10 de qualquer parada de sucesso, um legítimo exemplo de como uma canção power pop deve ser.

Outro grande momento é O menino que fazia cometas. Impossível ficar indiferente a sua letra, melodia e harmonia. Apesar de sua letra curta, a banda conseguiu criar no instrumental toda uma atmosfera que é capaz de emocionar e captar a atenção até daquele ouvinte mais distraído e insensível.

Sensibilidade, bom gosto musical e qualidade técnica não faltam ao Luna Remoto. Só espero que eles tenham fôlego (e repertório) para continuarem na estrada. Ela será muito longa para eles.

Mamonas Assassinas Ao Vivo! – Mamonas Assassinas

mamonas.jpgSem dúvida, os Mamonas Assassinas foram um dos maiores fenômenos pop que este País já viu, isso não se discute. Mas o que justifica o lançamento de um disco mal gravado com canções do único CD do conjunto de rock-pop-besteirol?

Boa pergunta. Melhor nem tentar responder. O fato é que esta gravação (feita no Anhembi em 1995) não é capaz de reproduzir nem sequer 10% do poder que a banda tinha sobre as platéias por onde quer que eles passaram na sua breve carreira.

O que surpreende hoje é a qualidade técnica dos garotos de Guarulhos, que em meio as letras pornô-pastelão do Dinho (um dos maiores frontman que o Brasil já teve), faziam um rock muito bem feito, comparável a qualidade técnica de uma banda “séria” e veterana.

Para tentar justificar o lançamento de Mamonas Assassinas Ao Vivo!, a EMI colocou no CD a “inédita” Não peide aqui, versão à la Mamonas de Twist and shout.

É difícil não se sentir estranho ao ouvir, em 2006, alguém cantando “Û-te-re-rê” . É ainda mais difícil não ver o lançamento desse CD como um descarado caso de caça-níquel. Fuja!

Bloco do eu sozinho – (2001)

Bloco do eu sozinhoPara o grande público os Los Hermanos surgiram com as canções Anna Julia, Primavera, Quem Sabe… Não para mim. Nunca dei ouvidos àquele hardcore romântico daquele conjunto carioca que não parava de tocar nas FMs ad nauseum.

Eis que eles voltam com um segundo álbum, o Bloco do eu sozinho. O primeiro single Todo Carnaval tem seu fim me chamou a atenção. A capa me fez entrar na loja de discos para ler o encarte. Uma primeira audição me deixou desconcertado.

Melancolia, guitarras, tamborins, metais, poesia, romantismo. Bandidos e mocinhos ao mesmo tempo? Estariam surgindo os verdadeiros anti-heróis do rock brasileiro? Talvez. O fato é que o segundo disco da banda, desacreditado pelos executivos da falida Abril Music, levou aqueles rapazes a um patamar bem acima do que eles haviam chegado no primeiro álbum.

A riqueza de detalhes, nuances, ritmos e rimas surpreende. A cada nova audição descubro sempre algo inédito em canções como Cher Antoine (na qual Amarante arranha um francês descompromissado e divertido), Cadê teu Suin (onde Camelo dá uma de Chico Buarque), Deixa estar (um trava-língua romântico).

Os pontos altos do Bloco estão na pesada, e ainda sim melódica Fingi na hora rir (a versão acústica é tão bela quanto a que ouvimos aqui), onde as guitarras fazem uma parceria perfeita com os teclados e com a primorosa letra de Camelo “Já não sei mais porque em ti eu consigo encontrar um caminho, um motivo, um lugar pra poder repousar meu amor”, e na fantástica Sentimental “Eu só aceito a condição de ter você só pra mim.
Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir”, melhor nem falar sobre ela, não?

Pensar que esse disco não era nem pra ter sido lançado, me deixa perplexo. Pensar no que seria da minha vida sem ele, me faz sentir vazio. Obrigado Los Hermanos!

Gravadoras: Pra quê? Pra quem?

Tatuí, agosto de 1996. Ouço uma música no rádio, me apaixono pela canção, pego a bicicleta e vou correndo para a loja de discos comprar o álbum da banda, e volto pra casa para ouvir.

São Paulo, agosto de 2006. O mesmo fã de rock ( este que vos escreve) ouve uma música numa webradio de Cincinnati, EUA, se apaixona por ela, e vai ao Google atrás de mais informações sobre o artista, e onde conseguirá aquela canção.

Sim, muita coisa mudou nestes 10 anos. A pessoas não saem atrás de música. As canções, que se materializaram na forma de arquivos, estão a disposição de todos aqui (no mesmo lugar onde você agora lê sobre música).

No backend muita coisa mudou também. Um quarto, alguns microfones, um PC poderoso, e alguns softwares são o suficiente para a gravação de um Nevermind. E as gravadoras? Mudaram? Sim, e não.

Seu papel já não é o mesmo, definitivamente. O marketing da banda, o intercâmbio com outros artistas pode ser feito por eles mesmos em sites como o MySpace.com , tramavirtual.com , entre outros.

ipod.jpgAs gravadoras podem fazer o que elas já vinham fazendo, e que dificilmente seria feito por outros com competência, que é a distribuição dos CDs. CDs? Alguém ainda compra CDs, num mundo de memórias Flash, HDs gigantes e players minúsculos?

Poucas almas ainda vagam atrás de CDs (pelo menos os originais). O momento é de transição. As lojas virtuais ainda não decolaram por aqui como aconteceu com o itunes lá fora, mas tudo mostra que o caminho é esse.

Se levarmos em conta o histórico descaso das majors com a música brasileira, tudo leva a crer que a mudança será para melhor.

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